Era um fim de tarde como outro qualquer naquela cidadezinha, o céu já começava a adquirir cores vibrantes como rosa, roxo e laranja, as nuvens fofas e brancas agora tinham tons de cinza, enquanto o calor do enorme astro era menos escaldante. O pôr-do-sol se anunciava de forma bela e misteriosa no horizonte.
Na rua vazia, uma garotinha brincava de amarelinha nos paralelepípedos enquanto avançava em direção ao mercadinho da esquina. O dinheiro que a mãe lhe dera estava seguro em sua pequena mão, que estava fechada em um punho tão apertado que sua pele já começava a suar.
— Leite condensado, creme de leite, gelatina de morango, refrigerante de guaraná. – Ela repetia enquanto pulava de um pé para o outro.
A rua estava vazia, não tinha carros passando em alta velocidade, em cidades pequenas como aquela, os motoristas costumavam passar devagar, tomando cuidado com os pedestres e com os animais. Ninguém quer atropelar um cavalo, bode ou até mesmo um boi passando na rua, muito menos as crianças que costumavam brincar por ali.
A menina continuava a saltitar seu caminho até o mercado sem preocupações, nunca teve com o que se preocupar. Todos os moradores daquela rua a conheciam e eram gentis com ela. Era só mais uma criança em meio às outras brincando na rua.
Ao passar por uma casa de muro baixo e portões de grades, ela subiu na calçada e estalou os dedos, chamando o cachorro que vive ali. Adorava passar por ali e fazer carinho nele, ela adorava cachorros. Um certo dia até pediu um para os seus pais, mas eles disseram que era muita responsabilidade cuidar de um cachorro.
— Oi, Ralf – ela disse estendendo a pequena mão entre as grades para que o cão pudesse lamber.
Ralf era grande e preto, uma mistura de pitbull com vira-lata, mas era extremamente dócil. A menina adorava aquele cão e a dona sempre a deixava brincar com ele quando estava em casa. Ela continuou fazendo carinho em Ralf por mais um minuto e retomou seu caminho em direção ao mercadinho.
— Ei, menininha! – uma voz chamou atrás dela.
A garota só tinha andado mais alguns metros, quando parou e se virou na direção da voz. Um senhor estava parado na calçada, um sorriso gentil no rosto e mãos atrás das costas. Ela já o tinha visto caminhando nas ruas algumas vezes, ele cumprimentava seus pais quando passeavam na pracinha.
— Olá – a menina fala docemente, lhe oferecendo um sorriso tímido. Sua mãe sempre a orientou a ser gentil com os mais velhos.
— Onde a bonequinha está indo sozinha? – ele perguntou aproximando-se alguns passos, seu sorriso era tão gentil que ele lembrava seu avô.
A menina dá uma risadinha e balança nos calcanhares.
— Vou ao mercado, mamãe pediu para eu ir rapidinho.
— Ah, entendi. Então você está com pressa?
— Sim – ela responde olhando para cima. – Tenho que voltar pra casa antes que escureça.
O homem acenou com a cabeça e também olhou para cima, o céu estava laranja escuro.
— Entendi. É perigoso para crianças ficar andando na rua à noite. – ele disse se aproximando um pouco mais, restava menos de dois metros entre eles agora. – Quer ver uma coisa bem bonita?
— Quero! – ela respondeu empolgada.
O homem mexeu as mãos atrás das costas e se aproximou um pouco mais, o sorriso dele ficou mais largo e ela conseguia ouvir um barulho de plástico amassado. Quando ele estava bem pertinho da menina, ele tirou as mãos das costas e mostrou um enorme pirulito colorido. Era um daqueles que a menina só viu na TV e estava embrulhado com plástico transparente, amarrado com uma linda fita azul no palito. Era o pirulito mais lindo que ela já tinha visto.
— Aqui, bonequinha, pode pegar – ele falou estendendo o pirulito na direção da menina.
A menina sorriu, radiante e estendeu a mão. Nunca ganhara um presente tão lindo, mal podia esperar para mostrar para sua mãe. Aquele era o melhor dia de todos.
— Obrigada – ela disse sorrindo de orelha à orelha.
— De nada – o homem falou gentilmente. – Agora vá, sua mãe não quer que você demore, não é mesmo?
Ela balançou a cabeça e virou para ir embora, acenando para o homem em agradecimento.
A garotinha mal conseguia conter a alegria, queria sair correndo de volta para casa, mas tinha que fazer o que a mãe pediu. Tudo que ela queria era mostrar o doce para a mãe. Até que ela sentiu alguém agarrando-a por trás e colocando algo em sua boca para que não pudesse gritar. O saco preto veio logo em seguida.
E de repente toda a luz do pôr-do-sol e as cores vibrantes do pirulito sumiram. Só restou a escuridão e o som dos seus gritos abafados.
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A Boneca E O Pirulito
HororCrianças desaparecidas raramente são encontradas, então quando uma garotinha desparece sem deixar rastros em uma cidadezinha do interior, todos já esperam o pior. As buscas não tem resultado algum, ninguém viu nada, ninguém sabe de nada. Até que os...