A tarde começava a abraçar os raios do sol, e Apollo estava mergulhado naquelas memórias extasiantes e divertidas, todas elas acompanhadas por sua companheira inseparável, Ayla Aysha.
No entanto, enquanto ele flutuava por entre os recantos de seu passado, revivendo cada risada compartilhada e aventura com a menina, sua amiga estava em outro plano. Ela chamava por ele, com sua voz suave e impaciente, mas suas palavras eram como ecos distantes no reino das memórias, perdidas nas profundezas do tempo.
— Pollo — chamou ela — Polloo?
Mas ela estava determinada a trazê-lo de volta ao presente, então elevou o tom de sua voz a um grito, tentando resgatá-lo daquele transe.
— APOLLO! — gritou, sua voz soando como uma nota mais alta na sinfonia da natureza.
Fora o suficiente para trazê-lo de volta à realidade quase num pulo, e como se emergisse de um mergulho profundo, seu olhar era agora um pequeno reflexo de susto como alguém que despertara subitamente de um sonho profundo.
— Ah, sim? — indagou um tanto desconcertado. Ayla, que conhecia seu amigo como a palma de sua mão, não perdeu tempo e voltou ao motivo de estarem ali, como um mapa determinado conduzindo um viajante perdido.
— Não iremos começar? — perguntou ela com um misto de impaciência e expectativa.
— Sim, claro, vamos — respondeu Apollo, retomando seu foco — Desculpe-me a interrupção, é que estava pensando naquele dia ao qual vós mencionaste.
O humor de Ayla surgiu como um raio de sol brincalhão em um dia nublado, e disse:
— Ah, por isso estavas tão surdo — riu, ressaltando a desconexão momentânea de seu amigo com o mundo exterior.
— Nossa, eres tão engraçada, Ayla — proferiu com uma entonação que insinuava uma ousada dualidade entre o sarcasmo e o fascínio.
Ela não deixou abalar-se e com uma confiança que beirava a audácia, retrucou:
— Eu sei, por isso gostas da minha companhia, estou errada?
O jogo de palavras entre eles era um espetáculo cativante, uma dança de inteligência e sarcasmo que eles tinham praticado ao longo de anos de convivência.
— Ah, sua convencida!
Apollo não pôde deixar de sorrir, então com um toque de travessura, ele rapidamente provocou cócegas irresistíveis que fizeram a menina contorcer-se em risos incontroláveis.
— Apollo… Pare! — Implorava ela não conseguindo conter as risadas — Por favor... Pare!
O garoto, enfim, decidiu encerrar sua brincadeira travessa, deixando Ayla quase sem fôlego, após aplicar sua "doce vingança".
— És um verdadeiro idiota — disse cruzando os braços visivelmente emburrada, mas com um brilho travesso nos olhos, como se ela estivesse determinada a acabar com as gargalhadas do menino.
— Está bem então, se não queres mais estudar, irei embora — ameaçou ir, levantando-se e pegando o livro da mão do garoto, fazendo menção de partir.
Aquela garota tinha um jeito especial de suborná-lo, e aquilo a envaidecia.
Percebendo o impacto de suas ações, Apollo entendeu a necessidade de se arrepender e levantou-se.
— Ei, não vá — pediu ele, enquanto segurava sua mão, desejando que ela permanecesse — Foi apenas uma brincadeira, Ayla. Desculpe-me.
Ela concordou, sentou-se novamente e entregou a Apollo o livro.
— Então faremos direito. E nada de brincadeirinhas — disse, mantendo a seriedade, mas que ria por dentro imensamente.
Apollo assentiu engolindo em seco, não queria deixá-la tão chateada a ponto de que quisesse ficar uma semana sem sua companhia como sempre fazia. Era uma grande tortura, porque ele amava conversar com a amiga, olhar juntos o pôr do sol todas as tardes, o céu estrelado todas as noites, e o principal de tudo, ter ela ao seu lado todos os dias, o fazendo superar tudo que viesse pela frente.
Porque ela, com aquele conhecimento das letras e grandes ensinamentos, o brilho que tinha nos olhos, o fazia forte e o motivava para seguir em frente.
Aysha o conduziu para uma página do livro que continha trechos de livros e citações que ela mesma escreveu e ordenou:
— Agora irás ler. E então perceba a combinação e o som das letras, como o ensinei anteriormente.
Apollo fez que sim com a cabeça, determinado. Durante toda a semana, ele se dedicara ao aprendizado, até mesmo praticando a leitura em seu trabalho, lendo os caixotes e rótulos de caixas de fósforos para aprimorar suas habilidades.
Então, ele concentrou-se no livro, e com a voz firme, começou a ler as palavras que Ayla havia preparado para ele.
— A… Beleza da… — começou — natureza está na… Simpli-cidade de suas formas, na… harmonia de suas… cores, e no mistério de sua… Vida.
A garota mostrava admiração em seu olhar à medida que o menino lia outra palavra. Suas pupilas dilataram-se em um brilho único de felicidade.
— No… coração, o amor… floresce.
Laços… que o tempo… forta-lece.
Doce… E eterno, como o… Amanhecer,
No amor, podemos… renascer.
Juntos… somos um só… ser.
— Conseguiste! — ela gritou com alegria, abraçando-o fortemente.
— Pelo Deus! — O trabalho duro e a paciência - mesmo sendo pouca - haviam dado frutos, pois seu garoto finalmente tinha aprendido a ler. Ele tinha formado uma frase!
— Aysha, está sufocando-me!
— Desculpe — pediu ela, seu sorriso iluminando seu rosto, revelando a ternura de sua alma. Era como se, naquele instante, a própria natureza estivesse sorrindo por meio dela.
— É que não fazes ideia de como esperei tanto por este dia, Pollo — confessou. Seus olhos, naquele momento, não eram apenas janelas para a alma; eram faróis que iluminavam seu caminho com uma intensidade única. Era uma revelação sincera, que transcendia o momento e revelava sua verdadeira paixão e propósito.
Seu sonho era ser professora, uma condutora da arte de ensinar. Ela desejava não apenas aprender mais, mas compartilhar, inspirar e capacitar outros com o conhecimento e a maravilha que a linguagem podia oferecer. A cada palavra que proferia, estava traçando seu próprio destino, forjando um caminho que a levaria a cumprir seu desejo mais profundo.
Apollo, pensando em deleitar-se do seu esforço, disse:
— Oh, então irei ganhar um prêmio por isso?
— Humm... vou pensar se realmente mereces — ela respondeu com uma gota de cinismo.
— Nossa, Ayla, sou vosso melhor amigo há anos, e é assim que me agradece? — ele falou com um toque de melodrama. Ela por outro lado riu, apreciando a capacidade de Apollo de ser dramático e adorável ao mesmo tempo.
— Está bem — ela parecia render-se — Aqui, o vosso presente — Ayla disse, aproximando-se do mesmo e dando-lhe um beijo suave na bochecha. O gesto fez-o ruborizar, mas era o tipo de presente que iluminava o dia e aquecia o coração.
— Bem, não era o tipo de presente que eu esperava, mas…
— Pollo, pare de falar e olhe o sol. —Ayla interrompeu-o empurrando-o com um ombro, com seu olhar voltando-se para o horizonte, onde o sol já pintava o céu com tons de laranja e vermelho. O sol estava se pondo, um espetáculo dourado que iria mergulhar nas águas do lago das águas dançantes quando finalmente descansasse. E Aysha queria que eles apenas apreciassem juntos a beleza da paisagem de fim de tarde.
Apollo, então, maravilhado, contemplou o sol se pôr com ela.
A cada minuto que passava, ele estava mais próximo de adentrar nas águas cristalinas do lago. Sua descida lenta e majestosa era como um adeus suave ao dia, uma despedida que concedia ao mundo um espetáculo de cores e luzes deslumbrantes.
De soslaio olhou para a garota que estava do seu lado que observava atentamente o sol já pela metade na água. Ela estava diferente aquele dia por algum motivo com o cabelo sem estar trançado hoje, estava sem usar vestidos, e estava com uma calça que nunca vira ninguém antes usar. Ela estava meio singular hoje para Apollo.
Ela virou para ele quando percebeu que a observavam.
Mas é claro que ela perceberia. Pensou ele nada surpreso.
— O que é? — ela franziu as sobrancelhas para ele. Ele apenas deu de ombros dizendo:
— Estás horrívelmente descabelada hoje, e o que aconteceu com os vestidos?
Ela bateu o livro em sua cabeça -não com força - pelo insulto e ele riu alto.
— Olha quem fala! O mendigo da rua Bridgish!
— Sou mais rico que vós se ousar — retrucou com um sorriso ladino se recostando na grande figueira com os braços sobre a cabeça.
— Bobalhão — ela não conseguiu deixar de rir quando ele riu também.
Naquele momento, Pollo sentiu que a amizade entre ele e Ayla transcendia os limites das palavras, do humor e do conhecimento. Era verdadeira, como um vínculo inquebrável que os ligava no apoio mútuo e no amor genuíno que compartilhavam.
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A Pedra da lua e o Girassol (DEGUSTAÇÃO)
Historical Fiction"Nasceu ao verão uma linda menina com uma maldição... Para tão nova conhecer o amor e perdê-lo. Quão sofrimento causou a guerra que se alastrou?" Em meio ao fulgor das joias e o segredo sombrio do tráfico em Alvdon, uma garota ansiava por felicidad...