- Cheguei primeiro! - A exclamação triunfante do garoto ecoou no ar. Entretanto, a irmã, recordando as competições injustas com o irmão gêmeo, reclamou, cruzando os braços.

- Não é justo! - protestou - Sempre que competimos, vós sois quem vences, e isto não é justo!

Apollo conteve o riso com as palavras da irmã que eram permeadas pelo desagrado. Elas acionaram em sua mente a imagem de si, resmungando contra as mesmas percepções de injustiça que tinha com Aysha.

- Tenho uma idade superior à vossa, estimada irmã, sempre hei de superar-te - afirmou o pequeno de cabelos áureos, enaltecendo-se. A irmã retrucou, mostrando-lhe a língua.

- Abstenham-se, por favor - interferiu o primogênito ao dispor-lhes pães, ovos e queijo.

- Sabem bem que mamãe não aceitava brigas à mesa.
Assim que o irmão mencionara a mãe, as crianças sentiram a ausência da mulher que educava-os e reclamava quando os irmãos discutiam a mesa, pois para ela era algo sagrado, pois era a hora da refeição.

Então, cientes da mãe ausente, silenciam suas querelas e se entregam ao desjejum.

***

Sob o céu tingido de amarelo e azul pela luz matinal das nove horas, criava-se uma paisagem de tranquilidade que contrastava com a dura realidade de sua vida. Então, sob o véu daquela manhã, o jovem garoto de onze anos adentrou no caminho mais curto e gasto que o conduzia à fábrica.

À margem de sua jornada diária, erguia-se uma casa antiga, quase desvanecendo sob a sombra de seu próprio abandono. Era um enclave que se assemelhava a uma caverna, com paredes gastas e cobertas de musgo que contava a história do tempo que ali residia. Embora Apollo já tivesse notado essa morada quando passava pelo local, uma placa surrada e quase ilegível permanecia despercebida, revelando que um ourives habitava o local.

Intrigado, decidiu bater à porta, motivado a questionar se o tal Ourives poderia transformar a pedra lunar que carregava consigo em um pingente de uma bela joia.

O som da batida ecoou como o vazio, a resposta ao seu chamado, silenciosa, o que levou-o a adentrar sem cerimônia.

A porta, rangendo, cedeu à sua pressão, desvendando um ambiente mergulhado na escuridão. Ele iniciou sua jornada com um pé hesitante, e foi surpreendido pelo miado estridente de um gato preto que, ao sair rapidamente, causou-lhe um pequeno susto, ecoando na penumbra como uma breve sinfonia inesperada.

Contudo, determinado, avançou mesmo assim até o centro da vasta sala, onde a escuridão abraçava cada movimento dele, com sua respiração entrecortada que ecoava timidamente.

A casa revelou um interior à meia-luz, dominado por um simples candelabro solitário, cuja única chama dançava fracamente sobre o piso de madeira envelhecida.

A atmosfera silenciosa parecia perturbadora, o tique-taque implacável do relógio soava como o único som existente do local. Ele, segurando firmemente sua pedra da lua, ousou quebrar o silêncio:

- Olá?

Uma voz carrancuda, áspera como o atrito do tempo, cortou imediatamente o vazio, indagando qual a razão da intrusão do garoto.

- O que fazes aqui?

O coração do garoto pulou em sobressalto pelo susto da voz repentina, e tentou se explicar diante da figura na penumbra.

A Pedra da lua e o Girassol (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora