corações recrudescidos em tergiversar.

um caminho profícuo?

Em relação a qualquer outra possibilidade que o universo, apesar de inanimado, possa gerar, nenhuma será tão impactante e devastadora quanto as trajetórias e futuros que nossos corações idealizaram para nós, enquanto você se manteve resguardado, diferente de mim, que me expus a cada dia, como uma flor desabrochando ao frio inclemente da madrugada. Contemplo nossas estrelas e percebo desejos feitos em meio a lágrimas, desejos que não passaram de ecos no vazio, alimentados por um 'você não perde por esperar' do próprio universo, que absorvia e observava nossa felicidade, divertindo-se ao me ver preso, revisitando essas memórias alegres toda vez que a melancolia inundava meu ser, como uma maré incontrolável que arrasta tudo em seu caminho.

Fiquei tanto tempo sem consciência que mal recordo o sabor da tranquilidade. Estive aprisionado em prantos e lamentações por uma saudade que se recusa a deixar meu coração, além de uma dependência que atua como oxigênio em um ambiente refletindo poluição e contaminação. Sentia-me sufocado por um ar denso e carregado de mágoas, como se cada respiração fosse um esforço para trazer alívio, mas acabasse apenas aprofundando a dor, expandindo o vazio que ecoava por dentro.

Nunca houve esforço da sua parte para me ter, mas essa presença nociva, que insisto, nunca foi amor, ao menos não um amor bonito, se apossou de mim de tal maneira que arranquei fragmentos do meu ser para te materializar dentro de mim. Você se tornou uma parte de mim, como cicatrizes de feridas que causei entre lágrimas, enquanto suplicava pelo seu nome. Cada momento de dor tornou-se uma lembrança entalhada em minha alma, como uma escultura tosca, feita à base de sofrimento e desespero, mas que de alguma forma ainda carregava um traço de ternura.

Em uma folha em branco, me esforço para descrever, relatar e reescrever você, buscando libertar as mil palavras que ficam perdidas em mim sempre que me pergunto sobre sua essência. Contudo, cada letra parece insuficiente diante da vastidão da destruição e da esfera negra e corrosiva que habita em meu ser. É como se tentar decifrar você fosse uma tarefa destinada ao fracasso, como buscar enxergar com clareza através de um espelho quebrado, cada fragmento refletindo uma versão diferente de quem você é ou foi para mim.

Tentei nutrir o ódio sempre que seus surtos me revelavam a dura realidade: você nunca me amou, me suportou, e noto que, enquanto eu lutava para sobreviver por você, na verdade, você sobreviveu a mim e aos meus caprichos, aos tormentos de uma mente instável. No entanto, mesmo que o ódio quisesse percorrer cada célula em transformação dentro de mim, acabava por arranhar minha pele com as unhas, e ao observar a ruína que sou, percebo que amo você mais do que a mim mesmo. E isso é um paradoxo que não consigo resolver, uma dor que não consigo extinguir.

Um pouco mais de amor, um pouco mais de dor, um pouco mais de você, e a soma de cada pequeno detalhe se transforma em mais gotas do ácido que consome meu ser por inteiro, um ácido originado das promessas de amor que um dia construímos juntos. Promessas que deveriam ter sido de conforto e alegria, mas se tornaram correntes que me prendem a um passado do qual não consigo me libertar.

Devo me responsabilizar por isso? Agi de forma irracional, fui dependente, insensato, explosivo, incoerente; mas foi realmente eu quem causou essa confusão entre nós? Em todas as minhas cartas endereçadas a você, costumo te culpar, nutrir sentimentos de ódio e esconder seus traços através de palavras ofensivas. Cada gota do meu veneno é alimentada por saudade, desejo e abstinência. No entanto, nesta carta, percebo que o amor que faltou de você nunca poderia ser suficiente, pois nunca conseguiria corresponder à profundidade da dependência que sinto, nem pagar o preço de cada gota de sangue que derramei na esperança de te reencontrar. Como pode ser que meu amor, tão vasto e ardente, seja apenas um grão de poeira na imensidão da sua indiferença?

Como isso é possível? Eu te admirei tanto que minha felicidade só faz sentido quando você está ao meu lado. Como pode? Dedico a você cada melodia que já escutei em lágrimas, ansiando por sua presença. Que cada estrela no céu represente nossos desejos, e que ao explodir, leve consigo ao menos as minhas súplicas desgastantes. Espero que, em algum canto do universo, exista uma justiça poética que me permita algum dia viver sem a sua sombra sobre mim.

Porém insisto..

Não importa a razão..

Eu insisto..

..Não se esqueça de mim.