Kurlin

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No dia seguinte, minha avó nos acordou às seis da manhã. Ela realmente não deixou meus amigos irem para suas casas. Dormimos todos na sala.
A noite foi recheada de fofoca, principalmente sobre a festa anterior. De madrugada, maratonamos uma trilogia de filmes distópicos. Não conseguimos dormir. Em certo ponto, foi bem divertido. Rimos e conversamos a noite toda, mas isso foi só uma tentativa de afastar os pensamentos das revelações da minha avó.
Depois do café da manhã, minha avó conversou novamente com meus amigos para convencê-los de que tudo que contou no dia anterior é verdade - e depois de não conseguirem contactar seus pais -, eles acreditaram nela.
Minha avó nos apressa dizendo que precisamos sair de casa o mais rápido possível e nos pede para arrumarmos nossas malas. Magicamente, por obra da minha avó, é claro, as coisas dos meus amigos estão espalhadas pela sala.
- Vó, para onde vamos, afinal?
Espero acordar a qualquer momento e ser tudo um sonho.
- Goiás - ela fala sem olhar para mim, enquanto pega alguns livros na estante da sala.
- O QUÊ? Aquele lugar onde não tem shopping? - Emma indaga inconformada.
- Não é porque você mora em São Paulo, a cidade mais agitada do país, que os outros lugares não têm shopping - Edu rebate.
- Calma, Emma, não é o fim do mundo - Rose diz entre risadas.
- Se você tivesse feito o trabalho de geografia, não teria um pensamento tão eurocentrista e preconceituoso - Eduardo resmunga enquanto guarda sua escova de dentes em um necessaire. - Tá parecendo aqueles colonizadores que acham que no Brasil só existe futebol, samba e carnaval. Não que seja uma combinação ruim, mas...
Emma fuzila-o.
- Querida, lá tem shopping sim - minha avó garante -, mas tenho certeza que o que você vai encontrar lá é bem melhor do que isso.
- Vamos ver - Emma desafia.
Com todas as malas preparadas, rumamos para o elevador. Dou mais uma olhada pela porta antes de trancá-la e meu coração apertar. Deixar minha casa para trás é uma coisa que nunca imaginei fazer.
Cada um está com pelo menos duas malas, menos Emma, que está com cinco. Nos esprememos contra as paredes do elevador.
Na garagem, guardamos as bagagens em silêncio. Acho que não há o que dizer. O que eu diria, "que daora essa viagem misteriosa e estranha para fazer sei lá o que em outro estado?".
Isso soa péssimo.
- Isso tudo é só seu? - Minha avó arregala os olhos quando vê as cinco malas nos braços de Emma.
Ela assente.
- Graças aos deuses o porta malas é encantando. - Minha avó balança a cabeça, dando espaço para que Emma guarde suas malas.
Entramos no carro ainda em silêncio.
Assumir que o que minha vó diz é a verdade, também é assumir que vivemos uma mentira durante todos esses anos. E isso é doloroso. Não tem jeito fácil de encarar uma notícia dessas.
- Gente, que clima ruim, credo! Posso ligar o rádio? - Emma diz do banco da frente.
Ela fica enjoada se vai no banco traseiro. Não me importei que ela fosse à frente.
- É, parece uma boa ideia - Edu concorda tentando mudar o clima, mesmo cabisbaixo.
Sendo assim, Emma liga o rádio e me forço a sorrir. Muitas outras coisas podem ser mentira, mas isto não é.
Nossa amizade é verdadeira e real. Somos amigos há tantos anos, que parece que os conheço desde o dia em que nasci. O mundo pode desabar sobre nossas cabeças, mas ainda não será suficiente para abalar nosso grupo.
Olho para a janela enquanto minha avó dá ré na SUV.
Podia ser pior.
Eu podia estar sozinha.
É muito melhor enfrentar os problemas e o desconhecido ao lado de pessoas que você confia.
Será uma longa viagem, então não resisto quando minhas pálpebras começam a fechar, sonolentas.

- Chegamos! - minha avó grita e meu coração dispara.
Abro os olhos e vejo simplesmente a beira da estrada com um monte de árvores abaixo.
- Como assim? Aqui não tem nada! - falo, intrigada.
- Exatamente! Vocês não conseguem ver porque ainda são muito novos e inexperientes, mas tem um portal que nos levará direto para lá! Vocês não acharam que iríamos até Goiás de carro, né? - explica minha avó como se fosse algo óbvio.
- Ah, sei lá, né? - Rose se empertiga no banco. - Acho que isso é o que pessoas normais costumam fazer.
- Não somos pessoas normais - minha avó faz questão de lembrar -, agora segurem-se, porque eu nunca atravessei um portal de carro e não sei o que pode acontecer.
- O QUÊ!? - Alan grita, mas minha avó já está acelerando.
Ela solta o pé do freio e com um impulso vamos para trás. Bateremos nas árvores, é isso, não tem saída, não tem o que fazer, game over. Eu realmente esperava morrer de outra forma, algo mais dramático, não porque minha avó endoidou de vez e decidiu arremessar o carro para fora da pista.
Já posso até prever as manchetes nos jornais: "cinco jovens e uma idosa atingem as árvores na beira da estrada e são encontrados mortos devido à senhora que alegou a existência de um portal mágico".
É óbvio que não existe um portal!
Meu estômago revira e acho que vomitarei. Aperto o puxador da porta do carro com muita força. Minha bunda descola do banco. Quando estou a centímetros de bater a cabeça no teto do carro, meu corpo despenca no banco. Olho pela janela e tudo que vejo está borrado, é assustador.
Com um impacto forte alcançamos o chão. Meu corpo sacoleja desengonçado. Ed cai sobre Rose e Alan fica espremido contra a janela do carro.
- Aí, droga. - Emma, descabelada, avalia sua unha quebrada.
Ela apertou com força demais o assento do banco.
Fico aliviada pelo carro não ter desmontado com o impacto e continuar andando.
- GENTE, QUE LOUCO! - minha avó grita, super animada.
Ela é que está parecendo louca com toda essa animação.
- Nunca mais faça isso quando eu estiver no banco do passageiro! - Emma fala, tampando a boca para evitar vomitar.
- Galera, olha pra frente! - Rose empurra Edu do seu colo e aponta para frente.
Há metros de distância, atrás de um grande muro de pedra, no mínimo cinco prédios feitos de mármore branco se erguem imponentes, misturando-se com as nuvens no céu.
Um arco de pedra gigantesco guarda o portão de entrada. As pedras do arco possuem uma aparência rústica, mas plantas se engalfinham por toda a construção. É de uma beleza surpreendente. Pedra, folhas e flores. Em cada uma das extremidades do arco há duas chamas azuladas. Elas queimam com vigor.
- As chamas de Kurlin nunca se apagam - minha avó fala com orgulho -, estão acesas mesmo antes dos meus bisavós nasceram.
Ela estaciona e desce do carro.
Minhas pernas bambeiam quando encontram a grama. Ainda não me recuperei da aventura. Eduardo vomita assim que coloca os pés para fora do carro. Alan fica ao seu lado o ajudando.
Grandes portões de madeira, adornados com folhas, frutas e galhos prateados, bloqueiam o caminho.
- Sejam bem-vindos à nova escola de vocês, Kurlin! - minha avó ergue os braços acima da cabeça, animada.
- Isso... é... lindo... - suspiro.
Pegamos a bagagem do porta-malas e nos apressamos para entrar. Estou alegre novamente, talvez não seja tão ruim assim. Ainda assim sinto uma pontada de agonia por não saber o que aguardar daquele lugar.
Assim que nos aproximamos dos portões, os guardas apontam suas lanças para nós.
- Quem são vocês? - um deles pergunta.
- Eles estão comigo, Márcio - minha avó fala, saindo de trás de nós.
- Ah, claro, me perdoe, madame. - O guarda pisca várias vezes ao vê-la, surpreso. - É bom vê-la depois de tanto tempo.
Ele faz uma reverência exagerada. Minha avó dá tapinhas no ombro do guarda.
- Igualmente. - Ela sorri.
O guarda se apressa em abrir o portão.
Como assim "madame"? Que história é essa de chamar minha avó assim? Parece que ela guarda muito mais segredos do que eu imaginava.
- Venham comigo - minha avó chama.
O interior é ainda mais lindo.
Agora consigo ver melhor os cinco prédios de mármore no fundo do terreno. Um sexto prédio está em construção. Eles formam um semicírculo em volta de uma praça central. A oeste e leste, florestas densas.
Caminhamos até uma mulher de cabelo curto e escuro. As pontas são pintadas de laranja, como fogo. Seus olhos parecem amarelos, mas tento acreditar que não são. Quanto mais nos aproximamos, mais me convenço de que as pupilas dela são realmente amarelas, o que não faz sentido. Quer saber? Nada está fazendo sentido mesmo, então só relevo esse fato bizarro.
Ela é alta e magra, sua roupa se ajusta perfeitamente ao seu corpo.
- Esta é a madame Curacanga Wojus, diretora do campus de Goiás - minha avó apresenta a mulher -, e o mais antigo entre as escolas de Kurlin.
- Por favor, só Wojus - ela dá um sorriso amarelo. - Sejam bem-vindos à Escola de Primária para Criaturas Mágicas de Kurlin de Goiás. - Em sua roupa há um crachá com as iniciais EPCMKG. Até a sigla da escola é gigantesca. Nunca vou decorar esse nome. - O nome Kurlin é usado com mais frequência entre nós. Existem muitas unidades como essa, mas evitamos revelar suas localizações.
Ela olha fundo nos meus olhos. Acho que o que ela quis dizer nas entrelinhas é: "não fale que você está em Goiás e ponto final".
Engulo em seco.
Minha avó continua sorrindo, mesmo que o tom da mulher seja seco.
- Sinto muito por entrar em contato tão em cima da hora - minha avó diz.
- Não se preocupe, chegou na hora exata - Wojus fornece um aceno de cabeça -, eles iniciarão amanhã com a turma de junho.
- Perfeito! - minha avó bate palmas - achei que traria só minha neta, mas fico contente que tenha conseguido encaixar mais quatro alunos. Eles aparecem no meu apartamento e...
- Estou a par da situação, madame - Wojus a interrompe. - Quando Brax soube de sua decisão, foi o primeiro a se prontificar para que tudo fosse ajustado.
- Tenho bons amigos - minha avó mantém o sorriso.
Elas se encaram por alguns segundos em um silêncio desconfortável. Minha avó permanece com o sorriso estampado no rosto e Wojus parece estar odiando cada segundo que tomamos do seu tempo. Aparentemente as aulas devem estar começando, ela deve estar cheia de "tarefas de diretora".
- Cuide bem deles, Wojus - minha avó pede. - Não há alunos ruins, só mestres ruins.
- Curioso ouvir isso da senhora. Sabe muito bem que nem todos os alunos merecem mestres...
- Eu sei. Mas é nosso dever prestar atenção nisso antes que seja tarde demais.
Wojus respira fundo e concorda com a cabeça.
- Bom, é isso. Preciso ir antes que me atrase - minha avó coloca as mãos na cintura e estica as costas.
- Como assim? Você não vai ficar conosco? - pergunto, preocupada. Quero que ela fique. Ela não pode nos colocar em uma canoa remendada e simplesmente nos abandonar no meio da tempestade.
- Ah, não, querida. Kurlin é só para alunos, e já passei dessa fase faz tempo. - Ela ri.
- Mas...
- Sinto muito, mas tenho que cuidar de uns assuntos. Parece que as coisas estão ficando sérias... no meu trabalho. Mas não se preocupe, Wojus cuidará bem de vocês. - Ela chega perto de mim e me abraça. Sussurra em meu ouvido de modo que mais ninguém possa ouvir: - tome cuidado, não confie em todos que estão aqui. Cuide de seus amigos. Se precisar, fuja.
Meu corpo enrijece.
Concordo hesitante. Abro a boca para perguntar por que, mas ela me censura com um olhar. Minha avó se despede de todos e se encaminha para os portões de madeira.
- Aqui está o cronograma e tudo que precisam saber - Wojus enfia o panfleto na cara de Alan. Ele apanha o papel, desajeitado. - O alojamento de vocês fica pra lá. Grampeado no panfleto tem o número da casa e o tipo de habitação. Fiz questão de que todos fiquem juntos. Amanhã às oito teremos um tour pelo campus porque nesse trimestre temos muitos alunos novos. O ponto de encontro é na praça de alimentação. - Ela aponta a construção de madeira e vidro na praça central. - Sejam bem-vindos.
A diretora se afasta com tanta rapidez que não dá tempo para tirar dúvidas.
Alan encara o panfleto e o ergue para nós.
- Então é isso? - Ele sorri, incrédulo.
Dou de ombros.
- Ela é bem receptiva mesmo - Emma encara a silhueta de Wojus se afastando.
Edu se aproxima de Alan e coloca sua mão sobre o ombro dele.
- Seja bem-vindo ao mundo da magia, cara. - Edu sorri.
- Não é possível que você realmente esteja feliz com isso - Rose fala.
- Só estou empolgado com as possibilidades - Edu tem um semblante sonhador no rosto.
- Então, que tal irmos ver nosso quarto? - sugiro, sem saber o que mais poderia dizer.
- Essa é uma ideia m-a-g-n-í-f-i-c-a. - Emma sai correndo na frente de todos nós. Parece que ela gostou mais daqui do que de shoppings.
Corremos atrás dela pelo gramado e adentramos a floresta a oeste.
A "Vila", como é chamado o lugar onde ficam os alojamentos, é linda.
Um filete de água serpenteia pelas casas terrestres. Em alguns pontos a água se acumula e pequenos lagos são formados. O pequeno riacho some da minha vista, adentrando a mata em que já não há mais moradias. As árvores altas fazem sombra por quase todo o percurso da água, os feixes de luz que escapam de entre as folhagens criam pontos dourados na água cristalina.
- Que lugar é esse? - Alan olha para cima e perde o fôlego.
Não é para menos.
As árvores são gigantescas. Maiores do que os edifícios em São Paulo. Árvores milenares. Mais velhas que a minha avó. Seus troncos são extremamente grossos e firmes, tão largos que algumas moradias são dentro deles, como ninhos de pica-paus. Nos vãos dos troncos, vidro tampa as fendas, criando janelas grandes o suficiente para a luz do sol iluminar o interior da moradia. Parecem prédios embutidos em árvores.
É como se as pessoas vivessem como pássaros.
Fico preocupada de que a árvore esteja sendo agredida com o objeto estranho dentro do seu tronco, mas a combinação parece funcionar perfeitamente bem. As fissuras com vidro são assimétricas, então assumo que o vidro foi cortado no formato da fissura e não o contrário.
- Isso é... - Edu gira sobre os próprios pés, observando a sua volta - inacreditável.
Além das moradias dentro dos troncos, também há aquelas que foram construídas fora deles. Nos galhos mais altos e finos - se é que se pode considerar que essas árvores têm algum galho fino - pequenas casas de madeira foram construídas no topo. Verdadeiras casas nas árvores.
- Daqui de baixo nem dá para ver o resto do campus - Emma comenta.
- Não mesmo. Nem aqueles prédios que pareciam absurdamente gigantes - Rose assente encarando a copa das árvores -, estou me sentindo igual uma formiguinha. Cê é louco...
Além das árvores majestosas, a Vila é muito colorida, seja pelas cores das casas terrestres ou pela variedade de flores e folhas. Além disso, os moradores enfeitaram suas casas com decorações próprias.
É agradável visualmente.
Quanto mais observo, mais detalhes capto. É como se estivesse jogando algum jogo de detetive, e a cada lugar que meus olhos encontram, eles descobrem algo inusitado. Não são só as casas coloridas, as magias que as pessoas fazem pela Vila também é. E isso é assustador.
A maioria das pessoas vê luzes coloridas passeando por aí e agem com a maior naturalidade do mundo. Me sinto em uma sala de ensino médio em que todo mundo já é amigo e você é a pessoa nova que acabou de trocar de colégio. Todo mundo já está enturmado e você não faz ideia do que está fazendo ali, literalmente.
- Aí - alguém reclama quando esbarro em outro corpo - olha por onde anda.
- Desculpe - murmuro, distraída com tudo à minha volta.
Demora um pouco para acharmos nossa casa devido à confusão de números, que estão todos embaralhados. Várias pessoas também estão caminhando pela Vila perdidas. Deve ser o primeiro dia delas também.
Me alegro quando achamos nosso alojamento e finalmente posso sair do meio da multidão.
A nossa moradia é uma casa na árvore.
Meus pulmões reclamam da subida de milhares de degraus esculpidos no próprio tronco da árvore, mas no final vale a pena. No caminho, passamos por várias outras moradias dentro e fora do tronco da árvore. Elas se assemelham muito com apartamentos.
- Aí, como eu queria um elevador agora - Emma reclamou no meio da subida.
Rose dá um tapinha nas costas dela.
- Vamo bora, cara - ela encoraja Emma e deixa todos nós para trás.
Rose é de longe a mais bem preparada de nós. Ela sempre praticou muitos esportes. O único que consegue acompanhá-la é Alan, que treina Muay-Thai.
A porta da nossa casa já estava destrancada quando chegamos.
A casa tem dois andares. O de baixo é mais largo e pelos móveis - cadeiras, uma grande mesa de madeira, vários sofás espalhados, um armário de cozinha com pratos e xícaras, estantes para enfeites e livros - é usado como sala e cozinha, tipo um estúdio. Apesar disso, não há fogão ou geladeira. Nenhum eletrodoméstico.
Os sofás, que normalmente estariam virados para uma televisão, estão virados para uma janela de vidro curvada que preenche a parede toda. Essa é nossa nova televisão, uma visão panorâmica da Vila. Daqui de cima, onde a folhagem é mais aberta, consigo ver o topo dos prédios brancos.
A passagem para o segundo andar é uma escada lateral presa à parede da casa. Subo sem demora. Meus amigos me acompanham, se esmagando entre a escada. É o lugar dos dormitórios. Há duas beliches e mais uma cama. Grandes baús para guardarmos nossos pertences estão nos pés das camas. Em ambas as paredes laterais, cabides vazios estão pendurados. Uma porta-balcão dá para a varanda, a vista semelhante do primeiro andar.
- Fico com a cama de solteiro - Rose é a primeira a escolher. Ela se desvencilha de nós na escada e se joga no colchão.
- Até aqui, Rose? - Edu provoca.
Rose sempre preferiu dormir sozinha e o mais longe possível dos demais.
- É claro! Não quero ninguém despencando em cima de mim de noite. Beliches são perigosos, viu.
Quando os meninos acabam de guardar suas roupas, eles descem para o primeiro andar, explorando o lugar.
Penduro alguns filtros dos sonhos em pregos na parede e Rose pendura uma linha de barbante para colocarmos nossas fotos que trouxemos e que ainda tiraremos.
- E como a gente vai tirar e revelar fotos aqui? - pergunto. - Não acho que esse lugar tenha uma impressora. Além disso, estamos sem celulares.
Minha avó nos fez deixá-los em São Paulo.
Emma sorri do outro lado do quarto.
- Ah, eu tenho a solução para isso - ela se volta para a própria mala e começa a remexer seus pertences.
- Até parece que você não conhece a gente - Rose provoca, com o ombro apoiado no pé do beliche. Ela sorri com o canto da boca e aponta para Emma com um movimento de cabeça.
- Eu não ia vir para o meio do mato sem isso. Eu tinha certeza que provavelmente não teria internet, mas tirar meu celular foi demais. Mas acho que trazê-lo seria inútil mesmo, não vi nenhuma tomada nesse lugar. Por isso, vim prevenida e trouxe isso! - Ela puxa o objeto da mala e revela uma câmera polaroide.
- Não acredito - me aproximo dela e pego a câmera na mão -, você é genial.
Ela sorri com orgulho.
- Vamos inaugurá-la. Isso merece uma foto! - Rose declara e nos esprememos atrás da lente.
A foto sai em segundos e Emma chacoalha o papel para revelá-la. Rose pendura a foto na parede.
Só acabamos de arrumar nossas coisas à noite, então decidimos comer alguma coisa que trouxemos do meu apartamento e ir direto para a cama. A madrugada mal dormida cobra seu preço. Despenco na cama como se não houvesse amanhã. Fico com a cama de cima de um dos beliches e a Emma com a de baixo. Alan e Edu dividem o outro beliche.
Sinto que meus amigos estão se esforçando para não surtar assim como eu. Tantas perguntas, mentiras e descobertas... ao mesmo tempo que descobrir esse mundo tem sido divertido, também tenho receio. A Vila realmente me surpreendeu, e ver tantos estudantes andando por aí como se isso fosse completamente normal, me convence cada vez mais de que tudo o que estamos passando é real. Essas pessoas agem como se estivessem acostumadas a árvores gigantes, casas nas árvores, chamas em cima de pedras e principalmente a... magia.
Magia.
Essa palavra ainda soa estranha para mim.

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⏰ Última atualização: Feb 21 ⏰

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