Quando o sol se foi, a noite já estava à espreita daquelas crianças. A lua cheia havia emergido com esplendor das profundezas daquelas montanhas rochosas, dando um brilho a mais ao céu estrelado. E o silêncio noturno fora quebrado pela presença de algo um tanto inusitado, pois era um fenômeno raro de se acontecer naquele lugar. O universo fora dominado pela sugestão de estrelas cadentes, que chegou a arriscar o firmamento com faíscas fugazes. A chuva de meteoros, como uma sinfonia celeste, pôs em movimento a dança cintilante das estrelas cadentes, deixando um rastro de desejo e espanto no coração daqueles que as testemunharam.

Enquanto a chuva de meteoros atingia seu auge, um momento que parecia congelar o tempo, um dos meteoros se destacou, colidindo com a superfície da luz do luar. Um fragmento da lua, um pedaço da própria deusa da noite, desprendeu-se da escuridão e, com um brilho deslumbrante, desceu em direção à Terra. Aysha e Apollo assistiram com olhos arregalados, incapazes de acreditar na magnitude da cena que se desenrolava diante deles.

O fragmento lunar, uma pedra cintilante, pousou brevemente na superfície do lago próximo a eles. As ondas do lago pareceram reverenciar a chegada daquela visita celeste, formando círculos concêntricos ao redor da pedra. Um raio de luz prateada banhou o local, como se a própria lua observasse com benevolência o pedaço que caiu de si mesma.

- Pollo, olha só aquilo! - exclamou a menina maravilhada para o garoto.

Aysha levantou-se bruscamente do chão, puxando Apollo pelo braço, e aproximaram-se do lago, sentindo uma energia inexplicável emanar daquela pedra lunar. Ayla sabia que aquele momento era único, um elo entre a Terra, o céu e a lua. A pedra cintilante se tornou um tesouro, uma lembrança inestimável naquela noite mágica sob a lua cheia e as estrelas cadentes.

A garota tirou seus sapatos e os jogou no chão, pronta para entrar no lago. Mas o menino interveio.

- Não acho que seja uma boa ideia, Aysha - alertou ele.

- Oras, deixes de ser bobo, Apollo - ela deu de ombros e começou a adentrar no lago, seus pés tocaram a água fria, e arrepios percorriam sua espinha. Cada passo era uma mistura de empolgação e receio. A água subia lentamente, cobrindo suas pernas e quadris, envolvendo-a com sua frescura mágica. E à medida que ela se aproximava da pedra lunar, mais ainda seu corpo ficava submerso. O garoto, que tinha aquele espírito protetor de sempre, jogou para o alto seus calçados e a seguiu, pois a mesma não sabia nadar, e era extremamente perigoso.

- Espere por mim, Ayla! O lago é fundo!

Aysha não o ouviu, pois havia mergulhado nas águas agora agitadas do lago, a lua no céu, era um farol prateado, iluminando com sua luz celestial, a pedra extraordinária e cintilante que repousava no leito do lago. Movendo seus braços com destemor, Aysha se esforçou para alcançar a pedra, que parecia ser o próprio coração da noite iluminada, então ela debatia-se na tentativa de nadar. No entanto, à medida que mergulhava mais profundamente, a urgência de suas ações a fazia perceber que estava ficando sem oxigênio. Ela tentou ir para a superfície, para conseguir tomar fôlego e chamar Apollo.

- Apollo... - sacudia os braços para segurar-se na água tentando não afundar - Apollo! - Aysha gritou, seu chamado ecoando pela noite - Ajude-me! Eu não consigo... - a água entrava em sua boca - Não consigo pegar!

Ela olhou para os lados, mas o menino não estava lá. A sensação de abandono a envolveu como uma escuridão gélida. Como ele poderia tê-la deixado sozinha naquela situação perigosa, sabendo que ela não sabia nadar? Era uma pergunta que martelava em sua mente enquanto a água ameaçava sufocá-la.

Quando tudo parecia perdido, Aysha sentiu-se sendo puxada com força em direção à margem do lago. Era como se uma mão a guiasse para um refúgio seguro. Seu corpo submergiu nas águas escuras, mas a pressão mágica que a envolvia a impulsionou com determinação. E então, como um anjo salvador emergindo das profundezas, Apollo apareceu.

Ele a segurou com firmeza, seus olhos cheios de preocupação e alívio. Aysha, tremendo pela água gélida, agarrava-se a ele até chegar em terra firme.

- Estás bem? - Sua voz era um suave sussurro de preocupação, e ela carregava o medo de perder a luz que iluminava sua existência.

Ayla tossiu, expulsando a água que havia engolido. Seu olhar, ainda turvo, encontrou o dele, e ela respondeu com uma voz fraca, mas carregada de desapontamento por não conseguir pegar a pedra lunar.

- Estou, mas a pedra...

- Ayla, não deverias ter ido sozinha, podias ter esperado por mim - Apollo interrompeu, revelando a pedra retangular e pouco queimada que estava em suas mãos. Ayla estendeu a mão para pegá-la, mas Apollo, com um gesto inesperado, a guardou em seu bolso, com um lampejo de aborrecimento em seu olhar.

- Sabes que poderias ter morrido afogada, não sabes? - carregava um tom de sermão, permeado por uma preocupação genuína pelo perigo que a ameaçara.

- Apollo, por favor, não é hora para sermões. Já passou! - Ela interveio, cruzando os braços na tentativa de conter o tremor causado pelo frio que a dominava. Em resposta, ele pegou o casaco que pendia na grande figueira próxima e envolveu-a, oferecendo algum conforto contra o frio que a rodeava.

- Vamos, levar-vos-ei para casa - ele falou num tom gélido como o frio que a menina sentia. Então, sem reclamar, seguiu Apollo, rumo a sua casa.

Eles andaram num silêncio ensurdecedor na penumbra da noite, que ecoava mais alto do que qualquer palavra. Os únicos sons que perturbavam a quietude eram os batimentos cardíacos de ambos, as respirações entrecortadas pelo frio e o eco ritmado dos passos sobre o solo.

Ao chegarem a casa de Aysha, atravessaram com solenidade a rústica cancela de madeira que guardava a entrada da sua humilde morada. A casa que envolvia Aysha desvendava-se como uma obra-prima da simplicidade. O carvalho, envelhecido e nobre, conferia às portas e janelas um toque atemporal, e o chão, revestido de cascalho, ecoava com a história dos visitantes, como se cada fragmento de madeira sussurrasse os segredos daquele lar.

Apollo bateu na porta, e a mãe de Aysha num instante surgiu para atender.

- Por Deus! O que aconteceu aqui?

A Pedra da lua e o Girassol (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora