Capítulo 2

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Senti algo morno e molhado em contato com a minha testa. Pisco os olhos lentamente, conforme minha visão se ajustava com os tons suaves do quarto, em laranja e rosa, à medida que o sol começava a se pôr lá fora.

Enxergo uma moça jovem, bonita, de cabelos longos e escuros, gentilmente pressionando um pano úmido e morno em minha testa.

— Onde estou? — perguntei, grunhindo após sentir uma leve ardência em minha testa.

— Minha senhora está em seu quarto, no castelo. Você não está se sentindo bem, mas estou aqui para cuidar de você — Ela disse carinhosamente.

— O-o que aconteceu? — Indaguei em um sussurro, apoiando minhas mãos na cama e me erguendo, ficando sentada, com a ajuda da moça.

— Você desmaiou, princesa — Ela revelou, gentilmente arrumando uns fios rebeldes que cobriam o meu rosto, logo retornando a pressionar calmamente o pano úmido em minha testa.

Cerrei os olhos por um momento, sentindo o alívio do pano em minha testa.  Minha cabeça já não doía tanto como antes.

— Vossa Majestade, seu esposo, foi pessoalmente buscar a curandeira Miranda, eles já devem estar chegando — A jovem falou, e no exato segundo leves batidas foram desferidas na porta.

A moça rapidamente foi até a porta e a abriu, revelando o príncipe ao lado de uma mulher madura.
A diferença de estatura de ambos era absurda. Como aquele homem poderia ser tão alto?

— Por favor, Miranda — O príncipe iniciou, parecia ansioso. Seus olhos penetrantes fixos aos meus — Quero a certeza que ela está verdadeiramente bem.

Suas palavras doces aqueceram meu coração de uma maneira estranhamente gostosa.

O príncipe caminhou até mim e parou ao lado da cama. Ele parecia muito maior agora e charmoso com seus cabelos penteados e trajando uma camisa de colarinho alto e calça justa.

O príncipe captura gentilmente minha mão e a segura com ternura, deixando um selar, sem desviar suas íris intensas dos meus olhos.
Senti minha bochechas ruborizarem com sua aproximação tão íntima e inesperada, mas eu não conseguia e nem mesmo tinha vontade de recusá-lo.

— Farei isso, Vossa Alteza — A voz pacífica da curandeira ecoou em meus ouvidos.

O príncipe assentiu e saiu, deixando-me a sós com aquelas mulheres.

— Vossa Alteza disse-me que a senhora despertou pela manhã sem saber onde estava e quem ele era, certo? — A curandeira perguntou, enquanto caminhava em passos lentos em minha direção.

Assenti. Flashbacks de lembranças com rostos e lugares borrados surgiram em minha mente novamente, mas eu não conseguia assimilar nada.
A única coisa que pressentia era que não pertencia a essa bolha que estou, conseguia ter convicção de que não era casada, que não era mãe e muito menos pertencia a realeza, embora eu também não tivesse memórias de quem eu realmente era.

— Também não consegue recordar da princesa Amélia, sua filha? Ou de Clara, sua dama de honra? — A curandeira continuou a perguntar, indicando com a cabeça a jovem que cuidava de mim quando eu despertei.

— Me desculpe, mas eu não consigo lembrar de nada — Expressei melancólica, suspirando em seguida.

— Clara, por favor, ajude-me a despi-la. Preciso examiná-la.

Miranda e Clara foram extremamente carinhosas e pacientes comigo.
A curandeira examinou-me nua das unhas dos pés até os fios da minha cabeça.
Ela nada me dizia, porém suas expressões faciais enquanto estudava o meu corpo, evidenciavam que algo incomum ou irregular ela tinha visto.

Após isso, Miranda deliberou que Clara me auxiliasse com um banho morno e prolongado.

Eu estava começando a me sentir desconfortável com todo o cuidado excessivo que Clara estava comigo durante o findar do dia; ajudando-me a se vestir e até mesmo a pentear meus cabelos... Sem me deixar sozinha um minuto se quer.
Mas foram ordens diretas do príncipe e ela não podia, jamais, desobedecê-las.

Enquanto Clara, finalmente, ausentou-se para preparar os chás que me ajudariam com as dores e a revigorar minha memória - palavras da curandeira, me aproximei da grande janela.

Olhando para baixo, notei o príncipe e Miranda caminhando lado a lado pelo jardim.
Eu não podia ouvir suas palavras, mas tentava enxergar suas expressões enquanto falavam.
A conversa parecia séria e íntima, deixando-me intrigada. Seria sobre mim?

O príncipe acompanhou Miranda até um vigoroso cavalo de pelagem branca, a auxilou a montar no animal e em seguida assistiu ela partir para o exterior do castelo.

Andrei parece ter sentido que eu o observava, pois repentinamente voltou sua atenção em minha direção.
Me enrijeci, percebendo que fui notada.

Seu rosto se iluminou com um sorriso amável e ele começou a caminhar novamente para o castelo.
Me afastei rapidamente da janela e me escondi atrás das cortinas.

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