Olhos bonitos, bruxa má.

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Fiquei algum tempo sem ver a menina, mas aquele sorriso cínico ficou gravado na minha memória e não consegui esquecer a história nem por um minuto. Fiquei curioso sobre ela e com a ajuda de duas amigas descobri que ela já havia ficado noiva algumas vezes, mas nunca se casou. Também descobri que ela tinha fama de ser rude, e algumas pessoas diziam que, como um gato solitário, ela afastava quem quisesse ficar perto dela. Meu melhor amigo, Mitchel, zombou disso e disse que eu tinha um fetiche por mulheres malucas, já que minha última namorada era obsessiva e possessiva, o que me levou a entrar com uma ordem de proteção contra ela. Clinton sentou-se calmamente e pensou antes de falar... Isso é o que pensei que ele estava fazendo até perceber que ele nem estava ouvindo.

— Vocês dois não ajudam em nada. – eu disse suspirando pesadamente enquanto me jogava na cama e era rapidamente acolhido pelo Cave mais novo, que me abraçou e acariciou meus cabelos, desfeita quando Jordan, namorada de Mitchel, ligou para seu telefone o fazendo se levantar e sair da sala. Agora sozinho com Clinton, o Cave mais velho sentou-se ao meu lado na cama, parecendo estar pensando em alguma coisa, logo quebrando o silêncio em que nos encontrávamos.

— Você disse que ela se chamava de bruxa malvada, e depois contou uma história sobre uma... bruxa malvada? – ele perguntou e eu rapidamente balancei a cabeça. — Talvez ela esteja falando de si mesma...

- Eu pensei o mesmo. — eu disse e suspirei, me virei e enterrei o rosto no colchão. — Mas... por que ela deveria me contar isso? E assim que nos conhecemos... — falei em voz baixa e tive que repetir porque Clinton, com a cabeça enterrada nas cobertas, não entendia nada.

– Talvez ela só quisesse te assustar... É um casamento arranjado, ela pode estar com medo. – disse Clinton e eu acabei pensando por alguns minutos. Na verdade, eu também fiquei assustada com toda a ideia de casamentos arranjados, mas em famílias ricas como a minha e a de Lizbeth isso era muito comum.

— Ela é estranha... mas tem olhos lindos. — Respirei fundo e mordi o lábio inferior enquanto olhava para a janela ao lado da cama e pensava nos olhos sem vida de liz, mesmo sendo claros e bastante bonitos.

— E como ela era? Ela é seu tipo? — Clinton deitou a cabeça nas minhas costas e riu quando reclamei, mas ele não se levantou.

— Ela é linda… ela também é australiana, mas seus pais são japoneses… Lizbeth Norami é o nome dela.

— Cuidado para não acabar em um porão. — Clinton brincou e eu queria bater nele, mas não conseguia nem me levantar por causa do peso do garoto em cima de mim.

— Bom dia, Sr. apaixonado. — ouvi uma voz feminina atravessando a sala e no mesmo momento Clinton e eu nos levantamos, vendo Jordan e Jess entrando na sala.

— Ah, é vocês... — Deixei escapar e suspirei quando vi Jess e Clinton se beijando, desviando o olhar e enterrando meu rosto em um travesseiro.

— se apaixonou por uma mulher louca? — Jess brincou.

— Eu não me apaixonei… mas ela é maluca.

— Maluca como? — Jordan pergunta enquanto se senta no colo de Mitchel, que estava na minha cadeira gamer.

— Ao ponto de me contar uma história sombria e se chamar de bruxa.

— Você é um ímã de mulher maluca, acende um incenso. — Jess diz, fazendo todos na sala rirem.




Quando todos foram embora e eu fiquei sozinho no meu quarto, abri meu notebook para pesquisar mais sobre Lizbeth e sua carreira de escritora, reparando que ela ainda tinha poucos livros publicados e curiosamente, a história que me fora contada não estava em seu site. Depois de rolar a página por alguns minutos, um livro tomou minha atenção, me fazendo abrir o PDF que estava disponível no site.

— A princesa de lata… — Li o título do livro, arqueando uma sobrancelha enquanto pensava sobre, logo respirando fundo enquanto lia o livro.

"Era uma vez uma princesa de lata.

Ela não tinha expressão e seu corpo estava coberto por uma armadura metálica que fazia barulho por onde ela passava.

Um dia, a princesa de lata ficou cara a cara com uma bruxa e em troca de sua alma, pediu à bruxa que retirasse a lata de seu corpo.

A bruxa fez o que lhe foi dito, fazendo a armadura de lata cair e tilintar.

Mas por alguma razão, a princesa de lata permaneceu inexpressiva e com o tempo, a lata voltou a cobrir seu corpo.

Acreditando que a bruxa a havia enganado, a Princesa de Lata esperou até a lua cheia chegar e reclamou com a bruxa.

"Por que ainda estou triste se você fez minha lata cair?"

A bruxa levou sua alma conforme combinado, mas antes de sair respondeu para a princesa: Posso te salvar temporariamente, mas a única que pode se livrar dessa lata é você.

Se você quer tanto se livrar da armadura, por que não a tira você mesma?

A Princesa de lata que chorava sem parar respondeu: porque estou presa nesta lata há tanto tempo que não sei como tirá-la."




Ao terminar de ler a história, passei alguns minutos encarando a tela do notebook, sabendo que aquela história era sobre a autora. "Ela estava desabafando nos livros?" Era tudo o que vinha em minha mente. Eu sabia que ela era uma completa maluca e sabia que poderia me machucar se me aproximasse muito dela, mas apesar disso… eu queria arriscar.

Todos os encontros que tive com ela a partir desse dia foram estranhos, ela era seca e rude e colocava limites todas as vezes que eu tentava me aproximar dela. Eu estava confuso, iria me casar com ela e só sabia seu nome e que ela era Anti-social. Meus amigos queriam que eu desistisse do casamento, mas minha família queria que eu continuasse, e minha família era mais importante no momento, então não pude desistir, embora eu também não quisesse. Eu estava maluco também, pois queria me casar com aquela mulher e conhecer mais dela. Essa mulher entrou na minha cabeça e não saiu mais, me visitando até em meus sonhos.

Antissocial - Christian Anthony.Onde histórias criam vida. Descubra agora