Prólogo

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A sala estava quieta, apenas o pib dos aparelhos preenchiam aquele espaço amplo. Não tinha tantas coisas brancas apesar da tonalidade clara. Era ruim. Branco remetia a federação e foi a federação que levou o seu amigo.

Mike não gostava daquela cor. Ela já não pertencia à sua cartela de cores favoritas, e com a chegada na ilha e as brigas com a federação, aquela ausência de pigmento tornou-se um pesadelo. Mike odiou o branco e tingiu o seu jaleco de cientista de preto, assim nada o faria lembrar e nem fazer menção a toda aquela maldita federação.

Mas mesmo com toda essa repulsa a aquela cor sem significado algum no repertório de Mike, ele não foi capaz de enfrentar a Federação e agora Pac o via ali, deitado em coma na enfermaria do Ordo Theoritas.

No primeiro momento, Bad, que ajudou Pac a cuidar do amigo enlouquecido, induziu o coma ao Mike, mas com o passar dos dias e a reversão dos medicamentos, o que era para ser um soneca, tornou-se um sono profundo. Mike entrou em coma no mundo físico e agora, aos pés do leito do amigo, Pac tinha que dizer adeus.

As mangas do moletom azul cobriam as mãos trêmulas de Pac. Suas pernas tremiam e por uma força mágica ele não desmoronava ali na frente de Mike e nem de Fit que o acompanhava naquele momento tão melancólico. Pac tinha uma missão agora, depois de ter falhado com Mike e teria que cumprir, ao menos assim estaria em débito com a Deusa que agora fazia o que Pac deveria ter feito desde o começo: Proteger Mike.

Pac deu um passo, se aproximando da maca e se apoiando nas grade de proteção aos pés de Mike. Os seus olhos tão negros quanto a noite e tão opostos a aquela maldita cor que arrepiava os pelos de Mike observaram o rosto adormecido do amigo.

Mike estava mais magro, não por conta do coma, mas sim por aquilo que aconteceu antes. Aquela loucura que levou toda a insanidade de uma das mentes mais brilhantes de toda Quesadilla.

Pac suspirou, sofrido e com um murmúrio de choro. Seus olhos arderam ao mesmo tempo que os seus lábios tremeram. Pac não falou nada, tinha medo de falar pois sabia que se disse se algo naquele momento iria desabar.

Os cabelos rosas de Mike estavam desbotados pela falta de nutrientes e outras coisas que Pac não conseguia pensar. As olheiras estavam ainda mais fundas na pele pálida de Mike e os lábios tão secos quanto a areia de Copacabana.

Mike perdeu completamente a sua essência no plano físico. Pac não podia acreditar que depois de tantas aventuras, depois de tantas missões suicidas, eventos caóticos e intrigas com inúmeros universos, só agora ele estava perdendo Mike. Pac não conseguia assimilar essa dor de despedida e não poderia e nem conseguia aceitar essa sua nova realidade sem a presença do amigo ao seu lado.

Sempre foi Pac e Mike, não importa o que estivesse acontecendo. Sempre foram eles dois contra o mundo, contra entidades históricas e maléficas e fugas impossíveis.

Eles sempre correram juntos.

Mas chegou o momento de Pac andar sozinho.

Uma lágrima solitária escorreu dos olhos escuros e Pac engoliu o soluço, se engasgando com aquele amargor da saudade.

Mike...

Essa era a dor da despedida?

--- Caso sinta que isso é muito para você Pac, posso levar Mike sozinho - Fit disse com cuidado no timbre de suas palavras.

Pac negou com os ombros caídos e secou aquela lágrima sozinha do seu rosto.

--- Eu posso fazer isso - disse com a voz trêmula com o choro que estava chegando junto com a tempestade - eu preciso fazer isso.

Fit olhou para as costas do amigo e desejou pegar toda aquela tristeza que Pac sentia e jogá-la longe.

--- Eu preciso - repetiu Pac em oração - eu preciso, eu prometi. Eu preciso.

E com passos curtos, Pac se aproximou dos fios que conectam Mike a aparelhos de monitoramento cardíaco e mesmo com os dedos trêmulos, Pac os tirou e fechou os olhos assustado quando o apito soou por toda a enfermaria do Ortho Theoritas.

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.

🌧️

(674 Palavras)

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