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Nas sombras do aposento, Jane permaneceu imóvel, como uma estátua esculpida em desespero. Seus sentimentos a consumiam vorazmente, fazendo-a sangrar internamente, uma tormenta emocional que rivalizava com a bagunça caótica que envolvia seu quarto. Contudo, nada se comparava à desolação estampada no rosto da Princesa. A vidraça escancarada permitia que uma brisa noturna e vigorosa invadisse o aposento, envolvendo o corpo de Jane, que vestia apenas uma camisola veludada, contrastando com a crueldade da noite. Seu cabelo dançava no vento, enquanto lágrimas ininterruptas caíam, imergindo seu rosto de porcelana com uma delicadeza agonizante. Neste instante, Jane era como um vaso de cristal fraturado, suas flores de esperança caídas e pisoteadas por desconhecidos, enquanto ela mesma permanecia frágil demais para resistir a mais um golpe.

Com a observação aguçada de que a situação exigia intervenção, aproximei-me de Vossa Alteza com a postura de alguém comprometido com a responsabilidade de auxílio. Meus passos eram uma dança sutil, um equilíbrio entre presença e discrição, com o objetivo de manter o ambiente imerso em uma aura de tranquilidade. Jane, ainda imersa em seu abismo emocional, não desviou seu olhar, mas, no âmago de sua alma, percebi que ela estava ciente da minha aproximação, mesmo antes de eu cruzar a distância.

Quando, finalmente, cheguei ao seu lado, movi-me com sutileza para assumir meu lugar na beirada de sua cama. Então, com um gesto surpreendentemente íntimo, desfiz o intrincado penteado que adornava seus cabelos. Ondas douradas caíram graciosamente sobre suas bochechas molhadas, como uma metáfora visual da liberdade. Era uma demonstração de que, mesmo na posição de uma Princesa, há momentos em que podemos nos despir de nossa armadura, em um ato de autenticidade e auto-aceitação.

Jane, envolta em sua posição de poder e protocolo, raramente podia desfrutar dessa simplicidade, mas naquele instante, eu a presenteava com a oportunidade de se conectar com sua própria humanidade. Afinal, cada indivíduo, independentemente de sua classe, merece momentos de autenticidade e autocompaixão. Ali, um tênue sorriso surgiu em seus lábios.

— Pelo menos você ainda não teve que recitar aqueles votos estúpidos. — Eu ergo o nariz, decidida a dissolve a muralha da formalidade e injetar um pouco de ânimo nas veias de Jane.

— Por enquanto. — Jane me olha de soslaio, suas palavras sussurrando preocupação. — Vou sentir sua falta.

— O quê? — Indago, buscando confirmar o que ouvi.

— Sentirei sua falta. — Nesse instante, Jane me encara com um olhar que parece possuir um entendimento profundo de meus segredos mais sombrios, capaz de enxergar minhas pupilas dilatando e meus pelos se eriçando. Ela sussurra com uma voz que reverbera na minha alma. — Quando eu me casar, mudarei para Valquoria.

— Talvez eu pudesse acompanhá-la... — Respondo, ponderando se essa seria a escolha certa, se isso a proporcionaria algum conforto.

— Você não pode. — Jane deixa escapar um riso, balançando a cabeça negativamente. — Valquoria é conhecida por sua segurança impecável, devido aos inúmeros ataques que enfrentou no passado. Não haveria uma razão concreta para você se juntar a mim.

— Acredito que desejar tê-la ao meu lado para sempre é uma razão concreta. — Proclamo com confiança, mantendo a calma diante dela. — Bem, Mike já assumirá esse papel, não há motivo sólido para eu me juntar a você. Você está certa. Você já tem tudo o que precisa.

— Não poderei partir em paz sem compartilhar algo contigo antes de nossa despedida. — A Princesa se ergue de seu leito adornado com almofadas, movendo-se com uma graça que desafia a compreensão. Seus olhos brilham com um enublado profundo, enquanto ela segura minhas mãos com firmeza e me ergue com uma força que transcende o mundo físico. Nesse momento, o tempo parece congelar, e meu coração acelera, ansioso para o que está prestes a acontecer.

BLOOMING SIN ; royalty elmaxOnde histórias criam vida. Descubra agora