Passo 3 - Enviar uma carta escrita à mão

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     Horrível. Absurdamente horrível. A caligrafia de Atsushi é de doer os olhos. Como poderia obter sucesso no passo três, desse jeito?

     Certo que uma carta escrita com o coração deve ser mais importante e funcional que uma escrita com os olhos. Porém, pelo jeito que as coisas vão, tudo falhará mais uma vez.

     Segundo suas pesquisas, escrever uma carta exige duas coisas principais: dinheiro e habilidade. Esse primeiro porque, aparentemente, um papel e um envelope bonitos e caros são partes importantes do processo; este último porque, sendo sinceros, sem a habilidade da escrita, nem materiais bonitos podem salvar.

     Ele usou tudo o que tinha para comprar uma folha especial, e até uma caneta-tinteiro estava entre suas novas aquisições. No entanto, o que fazer quando a parte mais crucial é horrível?

     Nunca tivera tempo para aprender a arte da caligrafia. No orfanato era impossível e, após ser salvo por Dazai, o Nakajima passou por tantas coisas que faltava tempo até para respirar.

     Ainda assim, Akutagawa passou por dificuldades semelhantes e sua escrita era impecável. Tão bem feita que parece vir de séculos passados. Cada letra dele fica tão linda, desenhada na folha, que é impossível não ler algo que ele escreve mais de uma vez, só para apreciar a caligrafia.

     Mais uma prova do quanto Ryūnosuke é incrível, em todos os um milhão se sentidos possíveis.

     Todavia, esse não é o ponto. Haverá tempo para apreciar as perfeições de Akutagawa depois; então, foco, Atsushi!

     A folha em cima da mesa, cujas bordas contém detalhes em preto e vinho, é a penúltima que sobrou. Foram tantos erros, escrevendo, que é bem capaz de o Nakajima já ter acabado com uma floresta inteira até o momento.

     Independente, sobravam poucas folhas para poder escrever, e seria bom ter um sucesso agora.

Pior que sua caligrafia, somente o conteúdo da carta. Não tinha a menor ideia do que escrever sem deixar a situação estranha.

     Os únicos dois tipos de cartas que ele conhece são as relacionadas ao trabalho — formais e solicitando algum serviço, — e as trocadas entre... interesses amorosos. O que definitivamente não é o caso aqui!

     Como escrever para um... amigo? rival? inimigo? parceiro? colega de trabalho?

     É difícil demais deixar aquilo normal. Elogios e agradecimentos "por tudo até agora" são coisas bregas que só se faz em momentos específicos e com muita intimidade. Já a seriedade faz parecer que Atsushi se vê como melhor que Akutagawa.

Rabiscos e rabiscos, e o papel é amassado como os outros, logo arremessado no cesto de lixo transbordando ao lado da mesa. Voilà, uma falha adicional e, pasmem, sobrou apenas uma folha.

     Ele tenta respirar fundo por alguns segundos. Olha no relógio e faltam menos de dez minutos para o resto do pessoal chegar.

     O Nakajima acordou mais cedo para aproveitar um tempo sozinho no escritório pensando conseguir realizar seu trabalho melhor, assim.

Não adianta mais tentar por hoje, foi em vão e idiota imaginar que seria capaz de fazer algo bom.

     Atsushi está guardando suas coisas na gaveta com fechadura quando Dazai simplesmente abre a porta com toda a força do mundo.

     "Eu sabia!" Ele berrou para todo o mundo ouvir. "Eu sabia que estava escondendo alguma coisa! Kyōka-chan disse que você viria mais cedo e dispensou até mesmo a ajuda dela. Vamos, diga tudo, não esconda nada!"

Smile - Shin SoukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora