— Com licença, por acaso é você o Alhaitham? – o homem de fios cinzas e sem muito ânimo no olhar deixou o livro de lado para encarar quem tirava sua paz.
— Quem gostaria? – sequer tentou disfarçar seu descontentamento com a interrupção, parecia nem mesmo prestar atenção de fato na pessoa que o chamava.
— Eu... Meu nome é Kaveh, estamos juntos em uma tese coletiva com os cursos da Kshahrewar e Haravatat, preciso tirar algumas dúvidas com você. – o garoto loiro se apresentou, acuado pela aparência hostil e nada amigável do outro.
— Kaveh... Ah sim, o garoto brigão da Kshahrewar. – relembrou do nome de forma nada sutil.
— O que você- Esquece. – respirou fundo e jogou os fios para trás com as mãos, não esperando convite para se sentar ao lado do homem — Alguns dos projetos para o caso que você escreveu vieram parar em minhas mãos, sei que o foco dos Haravatat é a semiótica, mas você escreveu isso tudo de forma tão dificultosa que quase não entendi, montei minhas coisas com base apenas nos meus conhecimentos.
O homem com o símbolo preto na boina encarou com certo questionamento a reclamação que tinha acabado de ouvir. Tentou somar a fala com o histórico do que já havia escutado pelos corredores sobre aquele rapaz até encontrar uma possível explicação.
— A escrita está difícil ou você que é burro?
A força que o punho de Kaveh acertou a mesa fez com que o som calasse toda a biblioteca de uma única vez, foi como se os pássaros parassem de piar com medo de ser um trovão. Os olhares perdidos procuravam nos arredores a origem do som.
— Qual é o seu problema? Eu só vim tirar uma dúvida. – largou os papeis sobre a mesa com força e se retirou do local, nem ao menos olhou para trás.
Alhaitham recolheu as folhas bagunçadas e voltou a sua leitura, sem entender o motivo de tamanho estardalhaço.
Sua rotina continuou normalmente, os dias que vieram continuaram tranquilos, seus estudos continuavam da mesma forma, nada fora da rotina além daquele inconveniente evento na biblioteca.
Era terça-feira, estava indo até a sala de estudos que havia sido combinado desde o começo do projeto que seria a sala de reuniões, entretanto foi barrado por uma mão em seu ombro antes de passar pela porta.
— Professora Faruzan? Posso ajudar em algo? – a mulher suspirou, evidentemente cansada.
— Se pode me ajudar? Você nem mesmo consegue se ajudar, Alhaitham! – ele reconhecia aquele tom, era acusatório.
— Do que está falando? – em um movimento rápido, os blocos de anotações foram tomados de seus braços.
— Chamar o calouro da Kshahrewar de burro? É sério? – confuso pelas suas folhas terem sidos roubadas, tentou recuperar, falhando sem pestanejar pela docente.
— Ele disse que não entendeu meus artigos em escrita acadêmica. Se não entende isso, o que ele está fazendo na Academia? Ocupando cadeira? Sou estudante do último ano, não professor de novato.
— Alhaitham, chega. – Faruzan tinha a voz firme — O rapaz tem problemas pessoais, muitos deles, e você o ofender não melhorou em nada, pelo contrário.
— Eu tenho culpa de ele ter problemas pessoais? Aqui nem mesmo é a casa dele pra ele ficar carregando os problemas por aí.
— Você tem culpa de criar mais um na lista! Sério, qual o seu problema? O rapaz enlouqueceu, brigou com o grupo inteiro em termos autodepreciativos e se expulsou do projeto. E com esse comportamento, estou confiscando o seu material para que você também seja expulso.
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Isso era um artigo acadêmico?
FanfictionPara resolver grande parte de seus problemas financeiros, tudo o que Kaveh precisava era concluir aquele trabalho, mas um certo indivíduo de cabeleira cinza parecia ranzinza demais para qualquer sugestão. [kavetham]