Zoe Karpova
Há dois dias fui interpelada... e me amaldiçoo por esquecer detalhes. Nunca imaginei que um dos meus clientes seria alguém envolvido com a lei, mesmo porque, eles têm recursos para isso.
Sempre tomei cuidado para fazer minhas investigações, usava telefones descartáveis, pegava informações via correspondências deixadas em uma caixa postal e o recebimento dos meus honorários eram deixados em lugares onde eu indicava.
Dois dias atrás...
— Olá, Sasha, ou devo dizer, Zoe Karpova?
— Desculpe-me, é comigo que o senhor está falando?
Viro-me para ver quem me abordou e me defronto com um homem na faixa dos 40 anos, olhos azuis como a noite, cabelos castanhos num corte curto clássico e uma barba bem-feita.
— Sim.
— Certeza? Acredito estar enganado — falo com a cara mais deslavada.
Ele aperta os lábios, um contra o outro, evidenciando o sorriso irônico que se formou, me encara com uma das mãos no queixo.
— Não estou, tenho certeza de que não me enganei e, se não quiser ir detida neste instante, acho bom me acompanhar. — falou chegando o mais perto de mim para que aqueles que passam por nós, não nos ouçam.
— Sob qual acusação, senhor... qual é mesmo o seu nome? — lá estava, sorrindo de novo.
— Delegado Smirnov, Bóris Smirnov, da delegacia de homicídios. A lista para te prender é extensa, srta. Karpova, mas acredito que aqui não seja o lugar para listar cada item.
— Onde, o senhor, pretende me levar? — olha o relógio no pulso.
— Que tal almoçarmos enquanto faço algumas perguntas? — assenti e o segui.
Chegamos no Presto, um restaurante que mescla culinária asiática e italiana que fica na Troitskiy Ave. Peço prato italiano, já o senhor sabe tudo, japonesa.
— O que tanto quer saber, delegado?
— Primeiro, como uma menina de 17 anos conseguiu todas aquelas informações que colocou uma das maiores quadrilhas da Rússia na precisão?
— Como sabe que fui eu?
Lá está aquele sorrisinho, novamente, já estou ficando irritada.
— Confesso, achar você não foi uma tarefa fácil, mas precisamos de alguém esperto o suficiente para nos ajudar em um crime. Sabia que quem havia entregado as provas era uma pessoa meticulosa, ao descrever naqueles diários o máximo de detalhes possíveis.
Não sabíamos de quem se tratava, pois quando entregou não fez questão de aparecer, porém, agora sei o porquê. Fiquei impressionado, a filha entregou o próprio pai e seus comparsas às autoridades.
Não te acharia se não fosse por um pequeno detalhe. — encarei-o, parando de comer e erguendo uma sobrancelha.
— Qual?
— Você tem uma assinatura, que para muitos passaria despercebida, mas como precisei dos seus serviços há algum tempo, liguei os pontos.
Cheguei a usar as informações que me deu para conseguir uma digital, mas adivinha? — Agora, quem sorri sou eu, me preocupei em não deixar digitais em documentos.
Mas, você, não foi tão precavida assim no dossiê, lá encontrei digitais, depois joguei no sistema e lá estava. Quem diria que Sasha, o detetive, na verdade, é uma linda jovem de 20 anos, que jamais poderia exercer tal função sem antes servir a polícia. Além do bônus, lógico, pois uma menor de idade, dirigir, está fora do que as leis determinam.
— Agradeço o elogio, em relação a meu pai, faria de novo se preciso fosse. Infringi, sim, algumas leis, mas sem remorso, pois, coloquei bandidos atrás das grades e ajudo pessoas a encontrar seus desaparecidos.
Como a polícia não consegue, resolvi ajudar. Mas, ainda não entendi o porquê não me prendeu e no que precisa da minha ajuda?
— Sei que foi você que enviou pistas de alguns casos, que sem ajuda, jamais conseguiríamos prender os responsáveis. Porém, estamos com um bem complicado, estão aparecendo mulheres mortas em suas residências. Não conseguimos, se quer dizer, se estão interligados de tão limpa que a cena se encontra.
Aparentam morrer de causas naturais, já que na autopsia não foi encontrado nada que indicasse suicídio ou outra hipótese.
— Por que acha que sou qualificada para encontrar qualquer pista?
— As pistas que nos entregou, somente uma pessoa detalhista e com um olhar diferente encontraria.
— Como ajudarei vocês? Esqueceu que provas que os detetives particulares conseguem não são aceitas pelos tribunais?
— Entrando para polícia, já sei que está fazendo psicologia, assim irá direto para o setor de investigação.
Era só o que me faltava, lá se vai a minha vida feliz, de detetive solitária, sem ninguém para me dar ordens.
— E se não aceitar?
— Efetuarei sua prisão agora e irá a julgamento.
Der'mo! Não tenho escolha a não ser aceitar, é fim da linha para mim.
— Ok, mas já aviso que me recuso a passar a vida toda na polícia.
— Sábia escolha, e terá que ficar na polícia por um tempo, mas até lá, veremos se desejará sair. Depois de amanhã, me procure na delegacia, agilizarei alguns papéis para ingressar na corporação. Ah... antes que esqueça, apresentarei o investigador que está cuidando do caso.
Assim foi a conversa, ou classifico como chantagem com um pouco de interrogatório? Não adianta pensar nisso, não há como fugir, ele soube como me enredar sem chance de escapar.
Depois da apresentação ao, mais novo, chefe, que se diga de passagem na mesma proporção da beleza, é mal-humorado. Céus, nem a esposa aguentou por isso que está divorciado. Zoe, o que diabos está pensando? Você nem sabe o que é estar com alguém.
Ele é o que as colegas de sala costumam chamar de pedaço de mau caminho. Mas diria que no atual momento, parte da beleza esvaiu-se, ao estar com barba por fazer, semblante cansado e uma carranca na cara depois que foi obrigado a me engolir. O verdadeiro Pé-grande.
Olá, espero que tenham gostado, não deixem de comentar e clicar na estrela. Beijos e até o próximo.
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Akonit O belo pode ser letal
AcciónSinopse O provérbio russo, "ne vsyo to zolata, chto blestit" é utilizado para alertar o povo de que as aparências enganam, ou seja, nem tudo que reluz é ouro e o belo pode ser letal. Incomum? Talvez. Peculiar? Com certeza. Zoe Karpova, jovem russa...