Prólogo

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Música: Nuvole bianche - Ludovico Einaudi

O melodioso som se ouvia por todo o local, coincidência ou não, eu apresso meus passos, aquele lugar sempre costuma ser sufocante e caótico, mas agora era quase calmo, todos apreciavam a melodia melancólica que se seguia pelo aeroporto. "Senhoras e senhores passageiros, convidamos os passageiros do voo 59K com destino a França para seu embarque, atenção com crianças pequenas e seus pertences. Por gentileza, estar com seu passe de embarque documento de identificação em mãos". O som eletrônico atrapalha a melodia por alguns segundos, mas logo volto a ouvir apenas a movimentação das pessoas indo embarcar, pareciam até chateada em perder aquele momento.

Me apresso para o local onde a melodia vinha, lembro claramente, o piano de calda antigo foi instalado lá há mais de 3 anos em nome de um maestro e professor de uma renomada universidade de música, lembro quando estavam colocando, tive o prazer de presenciar, estava esperando pelo meu primeiro voo, lembro claramente do dia, parecia um bom presságio presenciar colocarem o piano, o sentimento nostálgico sempre me alegra, continuo caminhando em direção ao som doce do piano, torcendo para que a música não acabe.

Sentia que a melodia estava envolvendo o meu ser, desisto de chegar mais perto, apenas paro e sinto, me permito apreciar aquele momento há alguns metros do piano e seu músico que se entrega aquele momento, seu corpo se movimentava, como uma bela dança, as notas suavemente tocadas, seus olhos parecem fechados, a blusa de lã creme e a calça jeans se destacava no piano, os cabelos castanho bagunçados e o rosto sério, era apenas um jovem mas aquela performance carregava tanto, tanta vivência, tanta...dor. 

Houve uma vez, que algumas pessoas tentando tocar naquele piano e os guardas os impediram, então achei que o piano era algum tipo de objeto deixado ali, um enfeite bonito. Mas verdade seja dita, aquele menino parecia estar totalmente a vontade com o piano, com uma estranha intimidade ele tocava com alma, suavemente aumentando e diminuindo o ritmo, não sei se faz parte de alguma partitura.

Sinto Liam tocando meu ombro, um gesto simples para sinalizar um "precisamos ir", mas me permito continuar ali, sem piscar, eu queria gravar em minha memória aquele momento, apesar de até hoje ter sentido que o piano era um bom presságio, hoje parecia melancólico demais.

Ele estava de luto? Estava, eu sentia. Mas era mais do que o luto, parecia uma despedida. Seria para o Maestro ao qual pertencia esse piano? Não sabia, apenas fixei meus pés no chão, atordoado com o que uma simples música podia fazer comigo, sentia meu coração bater forte demais, inconscientemente a visão do garoto ficava embaçada, meus olhos estavam cheios de lágrimas, a apresentação havia acabado.

     - Ele estava se despedindo de si mesmo - ouço meu próprio sussurro enquanto vejo o garoto se levantar, colocar as mãos no bolso e ir embora em meio a multidão que ainda estavam absorvendo a sua apresentação, sigo a visão de suas costas até perdê-lo de vista.

    - O que disse senhor? - ouço Liam me questionar.

    - Vamos - apenas digo, me obrigando a sair do lugar. Aquela apresentação me parecia uma bela carta de suicídio.


Continua...  

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