Capítulo 1 - Casa

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Música: To build a home - The Cinematic Orchestra


- Yohan -

Comecei a procurar por vídeos de alguém tocando no aeroporto internacional, haviam milhares de vídeos, vários  instrumentos que a maioria se quer eu conhecia, todos tocavam ao lado do piano, como uma homenagem, mas respeitando a vontade do maestro em não ter seu piano tocado por ninguém. Exceto pelo garoto aparentemente, penso.

Encontrei dois vídeos dele, em uma qualidade duvidosa, descobri que a primeira música, havia sido tocada há um ano antes da apresentação em que eu vi, talvez outra coincidência? Pesquisei e não era a data de morte do tal maestro Orazio Rissi, voltei a estaca zero em saber algo a mais. 

A melodia era tão melancólica quanto a apresentação que presenciei, ele apenas tocou a melodia, mas pesquisei e a letra me fez querer chorar, não duvidava de que a escolha de tal música não havia sido em vão.

There is a house built out of stone (Há uma casa construída em pedra) 

Wooden floors, walls and window sills (Pisos, paredes e peitoris de janelas de madeira)

Tables and chairs worn by all of the dust (Mesas e cadeiras usadas por toda a poeira)

This is a place where I don't feel alone (Este é um lugar onde não me sinto sozinho)

This is a place where I feel at home (Este é um lugar onde me sinto em casa)

This is a place where I feel at home... Seria sobre a música? Seria sobre uma casa literalmente? As perguntas me corroíam e tudo o que eu sabia, era que era um garoto muito talentoso com sabias escolhas de músicas para me fazer me sentir a flor da pele. Puta egoísmo, o garoto se quer sabia da minha existência.

Dentre os dias, meses e anos eu passei a ouvir música instrumental, esperando um dia ser preenchido pela mesma emoção que ele havia causado em mim. Me fazendo perceber coisas interessantes, como por exemplo, a vida com a música certa, é muito mais emocionante. Como uma vida regada por uma trilha sonora.

Passei boa parte dos meus meses fora do país, ou talvez estar lá era estar fora? Já que, se levássemos em consideração, ir uma a duas vezes por ano lá, não faz de lá mais minha casa, se quer era o país do meu nascimento.

Mas sempre voltava para aquele aeroporto na esperança de um dia voltar a ouvir uma melodia, nenhum vídeo mais apareceu dele, com os meses, percebi que a lembrança dele era a mesma de quando vi algumas pessoas colocando o piano, eram ambos, um bom pressagio, entretanto, imagens já borradas de tantas vezes que revisitei tais lembranças. As vezes me questionava se o motivo de nunca mais ter surgido um vídeo dele, seria porque sua ultima apresentação havia sido exatamente aquilo que eu havia pensado. Uma carta de suicídio

Apesar de raramente voltar para lá conforme o tempo foi passando, sempre fazia questão de passar pelo piano, talvez parte de mim apenas queria garantir que ele ainda estivesse ali, então sabia que minha estadia no país seria boa. Meus pais e aquele bendito piano eram as únicas coisas que me fazia ainda voltar, seria isso que ele quis dizer com this is a place where I feel at home? Um lugar para onde voltar?

Caminho sentindo novamente aquele sentimento nostálgico, hoje estava o caos de sempre, muitas pessoas embarcando e desembarcando, talvez por ser fim de ano as pessoas queriam encontrar suas famílias, assim como eu. Apesar da estadia também ser por trabalho, meus pais não precisavam saber, eles gostavam de pensar que eu voltava para o pais por causa deles.

Meus pais eram um casal de idosos que se aposentavam e decidiram vender seu apartamento no centro da cidade e ir viver em um local mais afastado, afastado na concepção deles era um lugar em que na esquina se encontrava de tudo, mudou apenas de um apartamento para uma casa com um quintal. Os velhos odiavam se sentir entediados, então viver em uma fazenda ou qualquer coisa do tipo, não era nem de longe uma opção, sair do país, também não era.

Desço do táxi agradecendo, observo o portão e decido enviar uma mensagem para a Sra. Lee, uma senhora que cuida da casa, ela abre o portão me dando um abraço apertado, lembro dos meus dias de menino em que meu prazer era fazer essa senhora perder a paciência.

     - Eles estão tomando um chá, lá nos fundos - diz ela rindo animada com a surpresa. Percebo que ela estava mais ansiosa que eu.

     - Se continuar assim, você vai passar mal Sra. Lee, você não tem mais idade para passar nervoso - digo sorrindo, meu lado imaturo não resiste a tentação de provocar.

    - Seu menino atrevido - resmunga, acelerando o passo e indo na minha frente. - A gente faz as coisas por esses jovens e eles ainda ficam brincando com a gente, onde já se viu me chamar de idosa?

     - Estou apenas cuidando da senhora - resmungo fingindo estar chateado.

     - Eu não caio mais nessa garoto, entra logo - sorrio me sentindo emocionado. Garoto, quem me dera fosse apenas um garoto.

A casa continuava igual, exceto por mais fotos colocadas nas paredes, a maioria dos meus pais, viagens que fizeram no último ano. Deixo minhas coisas na porta, depois levo para cima, ando atrás da Sra. Lee, que caminha quase saltitante, era até divertido de se ver, em sinto feliz, em paz.

Passo pelas portas do fundo que dá para um jardim, minha mãe cultiva suas plantas, flores e uma diversidade de outras coisas. Ela e meu pai estão rindo tomando chá, vejo suas costas, apenas paro na porta e quero guardar esse momento em minha memória, os dois ali, apenas curtindo a companhia um do outro não diria o quão caótico esse casal já foi.

     - Yohan não me mandou uma mensagem - comenta minha mãe pegando seu celular. - Esse moleque mal criado, só sabe de trabalho, antes me ligava toda semana, agora, mal vejo uma mensagem.

     - Ele não me falou se vinha para as festas - diz meu pai suspirando. - Talvez ele queira passar com amigos e ou até a namorada.

     - E desde quando Yohan namora, Joon-ho? - pergunta minha mãe olhando para o meu pai. - Capaz de eu morrer antes de ver ele com alguém, quem dirá namorar ou casar.

      - Para sua informação - interrompo. - Eu quero me casar, só não achei alguém que goste de transar tanto quanto eu - eles olham para trás, minha mãe é a primeira a chorar e vir correndo.

     - Seu pirralho, isso lá é qualidade que se busque para casar? - diz me abraçando forte, em seguida é meu pai que nos acompanha em um abraço de urso em família.

     - Estou em casa - sussurro. This is a place where I feel at home...



Continua...

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