Entre o Luxo e a Realidade Crua

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-Londres, 1908 -

Sentada na frieza do cartório londrino, meu olhar vagueia pelo teto, tentando ignorar a perda recente de minha mãe e a inesperada revelação de um pai italiano. Com meus 15 anos, encaro a maturidade necessária para aceitar esse revés. Louis Sabini, o homem que agora afirma ser meu pai, me guia para fora do escritório com um sorriso no rosto, revelando sua paternidade.

No elegante carro durante o trajeto, Louis detalha as regras da casa, mencionando sua esposa, Elizabeth, e o filho Darby, cinco anos mais velho que eu. Ao chegarmos à imponente mansão, sou recebida por olhares gélidos. Elizabeth adverte-me sobre comportamento e modos, e minha resposta, firme, não deixa espaço para ambiguidades. Darby, meu meio-irmão, saúda-me com ironia. Após a saída abrupta da sala, Louis, agora com uma expressão séria, estabelece sua autoridade como meu responsável, enfatizando o respeito às regras da casa.

Ao adentrar o quarto designado, a tristeza pela perda de minha mãe se intensifica, culminando em um choro solitário. Reflexiva, encaro o desafio que está por vir. De repente, a narrativa se desdobrará, explorando as intricadas complexidades dessa nova vida em uma casa repleta de sombras familiares.

Louis, com um semblante sério, quebra o silêncio ao dizer: "Esta casa tem suas próprias regras, Sky. Respeito é crucial."

Minha resposta, embora contida, transmite determinação: "Entendo, senhor Sabini. Estou pronta para enfrentar o que vier."

Ele assente, e a viagem continua, agora permeada por um diálogo que revela mais sobre essa família peculiar. "Elizabeth é uma mulher de princípios, e Darby, bem, ele leva algum tempo para se acostumar", Louis comenta, tentando me preparar para o que está por vir.

Ao chegarmos à imponente mansão, sou envolvida pela sua grandiosidade. Louis, ao meu lado, anuncia nossa chegada. Ao adentrar a sala, encontro Darby e Elizabeth, cujos olhares deixam claro que não serei acolhida calorosamente. 

-Tenha modos, menina. Esta é sua nova casa.-Elizabeth, com uma frieza palpável, adverte, eu respospondo, firme, não evitando à provocação, digo.

-Agradeço pela hospitalidade, senhora Elisabeth. Não sou uma criança inconsequente.- termino de falar e percebo o sorriso momentâneo no rosto de Louis, que desaparece rapidamente.

Após a saída de Elisabeth e Darby, Louis, agora mais sério, estabelece as expectativas.

-Sky, compreenda a situação. Sou seu responsável agora, e aqui, as regras são essenciais. Respeite a todos, inclusive a sua nova família- minha resposta é simples, mas carregada de entendimento.

-Sim, senhor- Louis adiciona um aviso enigmático -Amanhã entenderá melhor. Pode explorar, mas seja cuidadosa- com essas palavras, ele deixa a sala, deixando-me sozinha para absorver as complexidades de minha nova realidade.

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Na manhã seguinte, a luz matinal invade suavemente meu quarto na mansão de Londres, dissipando a escuridão da noite anterior. Ao abrir os olhos, por um momento, esqueço o turbilhão de emoções que me consumiu na noite passada. O quarto é luxuoso, mas a sensação de pertencimento ainda parece distante.

Levanto-me da cama com uma mistura de determinação e resignação, lembrando-me das palavras reconfortantes de minha mãe. Ao encarar o reflexo no espelho, vejo os vestígios das lágrimas da noite anterior, mas também reconheço a força interior que ela sempre dizia que eu possuía. "Você é mais forte do que imagina, Skyler", suas palavras ecoam em minha mente.

Desço as escadas para a cozinha, onde os aromas da manhã se misturam. Uma empregada, diligente e discreta, está ocupada preparando o café da manhã. Darby, o meio-irmão, parece absorto em seus próprios pensamentos. Um silêncio desconfortável paira no ar enquanto tomo meu lugar à mesa. Louiz, meu pai, entra na sala com um ar de formalidade.

-Bom dia, Skyler. Espero que tenha tido uma boa noite de sono- ele diz com um semblante sério. A resposta é uma mistura de "sim" e "não", mas decido me concentrar no café da manhã à minha frente.

Durante a refeição, percebo a dinâmica peculiar dessa família. Cada membro parece viver em seu próprio universo, mal se tocando em suas trajetórias individuais. Observo as interações, tentando decifrar os códigos não ditos que regem essa casa.

Após o café, meu pai me conduz a um escritório, onde discutimos as formalidades legais de minha nova situação. As palavras são protocolares, mas sinto a tensão subjacente. Respeito é novamente destacado como a palavra-chave.

Ao sair do escritório, decido explorar os jardins da mansão. O frescor da manhã acalma meus pensamentos inquietos. Enquanto caminho entre as árvores, percebo uma borboleta dançando no ar, e por um momento, sinto uma conexão com a liberdade que ela simboliza.

Retornando ao interior da casa, uma empregada me avisa sobre as atividades diárias. A rotina parece rígida, mas vejo nela uma oportunidade para criar alguma ordem em meio ao caos emocional.

À tarde, enquanto me aprofundo nos estudos em meu novo quarto, percebo que a chave para minha adaptação reside não apenas em respeitar as regras impostas, mas também em encontrar meu próprio espaço nesse intricado quebra-cabeça familiar.

A noite se aproxima mais uma vez, e eu me recolho à cama com a esperança de que o amanhã traga não apenas desafios, mas também a chance de descobrir laços genuínos e talvez até mesmo algum entendimento mútuo entre os membros desta inusitada constelação chamada família Sabini.

Ao despertar pela manhã, sento-me na beira da cama e olho para a janela, contemplando o jardim ainda envolto em neblina. Respiro fundo, preparando-me para o encontro com meu pai. Ao descer as escadas, encontro Louis elegantemente trajado, ao lado de Jessen White, um homem de postura rígida. Hesito por um momento, mas a limpeza de garganta de Louis chama minha atenção, então desço totalmente e fico de frente a ambos.

-Bom dia, Skyler. Queria apresentar um velho amigo meu, Jessen White. Ele cuidará do seu treinamento. Mantenha o respeito sempre. Irei em uma viagem a negócios e volto daqui a um mês, quero ver progresso - -diz meu pai, retirando-se da sala. Jessen, de aparência peculiar, dirige-se a mim.

-Sky, posso chamá-la assim, certo? Deve estar confusa com a palavra treinamento... deixe-me explicar -Ele me entrega uma roupa, e enquanto me troco, explica a natureza do negócio do meu pai e a necessidade de aprender a me defender.

Durante as semanas seguintes, Jessen torna-se não apenas meu instrutor, mas alguém com quem compartilho risadas e histórias. Os treinamentos consistem em socos, chutes e lições sobre o mundo obscuro em que meu pai está envolvido.

Após um mês de intenso aprendizado, meu pai retorna da Itália. Jessen me avisa que devo mostrar o que aprendi. O sinal para começar é ouvido, e o sujeito avança, sendo derrubado por mim. Mas hesitei em prosseguir, Louiz fica com uma cara nada agradável e se aproxima, puxando-me pelo braço e desferindo um tapa no meu rosto.

-Sempre termine o que começou! E nunca mostre compaixão, ela não passa de uma fraqueza -diz ele furioso, deixando-me sozinha no chão. Olho para Jessen, que apenas balança a cabeça e sai da sala. Encontro-me no chão, absorvendo não apenas a dor física, mas também a compreensão de que este é um mundo onde a compaixão é vista como fraqueza....

Ao som de uma balaOnde histórias criam vida. Descubra agora