Aaron

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O Aaron sempre foi um menino muito inteligente, na escola. Aprendeu a ler e escrever com 4 anos de idade, era o legítimo menino de ouro.

Suas notas na escola eram excepcionais, pouca gente passava dele, e isso era motivo de orgulho. E ele achava que só isso era o suficiente pra fazer a vida, porque "se você estudar chega em qualquer lugar".

Só esqueceram de falar pra ele que ter uma personalidade gostável também fazia parte do pacote.

Com bastante frequência ele corrigia as pessoas quando elas cometiam o mínimo erro que fosse, e tudo bem que ele só queria ajudar, mas limites pra tudo. Se metia na vida dos outros e dava opiniões que ninguém havia perguntado, ninguém ia com a cara dele

Com toda essa reputação é claro que ele ia ser o favorito de um professor ou outro, e uma vez, a sala toda dele chegou em um consenso mútuo de zoar o Aaron sempre que ele abrisse a boca pra responder alguma coisa. Funcionava assim, o professor perguntava, e assim que ele fosse responder alguém dava um grito, ou fazia barulho de peido com a boca.

Nas primeiras vezes ele não entendeu o que tava acontecendo, mas depois de uns 3 dias ele percebeu que era literalmente uma perseguição.  Sempre que ele era o primeiro a levantar pra entregar a prova alguém falava "é claro que ele terminou primeiro, né Aaronzinho?"

Ou quando ele ficava conversando com algum professor depois da aula um grupo falava "eita Aaron, cuidado com os pelo na boca". E os professores acabaram se afastando por conta de comentários desse tipo

Ele pensou em fazer um barraco na diretoria, mas eram 23 pessoas contra uma. Ele tinha uma boa reputação mas não o suficiente pra refutar 20 pessoas de uma vez.

Com o tempo ele começou a enrolar pra entregar as provas, esperar pelo menos umas 10 pessoas entregar antes dele, ou esquecer propositalmente de fazer as tarefas. Era uma dor imensa fazer isso, parecia que seus neurônios iam morrendo aos poucos.

E com o tempo ele percebeu que se fosse "burro" e passivo as pessoas pegavam menos no seu pé. O que levou ao nascimento do Aaron bonzinho que todo mundo gosta. Aquele que não é burro igual uma porta, mas que também não se destaca, aquele que sempre deixa você falar e não se importa de ser interrompido.

Ele odiava fazer isso, e quanto mais tempo ele passava fingindo ser assim, mais vontade de ser um arrombado ele tinha. Chegou em um ponto dele querer bater numa menina por ela não calar a boca e não deixar ele falar durante um trabalho, e ele acabou ficando com nota baixa em participação por conta dessa baranga

Mas ele não faria isso. Bater em alguém? Jamais

Às vezes quando ele estava em lugares que não tinha ninguém que o conhecesse, ele soltava um pouco desse "veneno" estocado. Sendo um cara extremamente mesquinho que claramente se achava melhor que os outros. E academicamente falando na escola ele realmente era, mas deixou isso escapar pra outras áreas da vida onde ele esquece que é só um moleque do ensino médio que nunca fez nada de relevante

E por isso, ele levava coices de pessoas aleatórias nos lugares que ele frequentava. E isso rolou uma vez num curso de informática que ele fez. Onde tinha um cara que ficava o tempo todo jogando paciência no computador que claramente não tava prestando atenção na aula. Ele devia ter muito dinheiro mesmo pra gastar pra ficar vagabundeando desse jeito

Um dia ele se cansou disso e foi dedurar ele pro professor. E como sempre, levou um comidão de resposta

Nesse dia quando saiu da sala esse cara tava do lado de fora rindo. Ele tava escutando a conversa? Pelo amor de Deus, além de atoa era fofoqueiro?

- Ce tava ouvindo a minha conversa?

- Eu tava te esperando pra comer um salgado lá fora, tá afim de ir?

Era a primeira vez em algum tempo que alguém era legal com ele. Achou meio suspeito, mas qualquer coisa ele dava uma mochilada na cara dele e saía correndo.

Enquanto eles comiam o salgado o cara explicou que ele consegue focar melhor em uma coisa fazendo outra. No começo achou que era só uma desculpinha esfarrapada, mas ele tava muito sério pra ser brincadeira.

E depois disso, todo sábado depois do curso eles saiam pra comer alguma coisa juntos, dava pra dizer que tinha feito um amigo novo, e tava bom desse jeito.

Com o passar do tempo acabou conhecendo os amigos dele, que não tinham nada a ver com ele, que passavam uma vibe de mulembentos sujos que não ligam pra nada. E nem fez questão de fazer muita amizade também. Sendo único e exclusivamente amigo do Ícaro.

Mas isso durou até o dia que ele sem querer acabou indo no cinema com os dois que ele não gostava muito. O Hamilton foi a primeira pessoa que desafiou ele de volta, sem zoação nem pegadinha por trás. Mas infelizmente naquele dia o Aaron não estava preparado para um debate intelectual. E acabou não humilhando o seu oponente do jeito que queria

Ele finalmente conseguiu um adversário digno, e pra aumentar ainda mais o desafio, era um ano mais velho. Agora ele tinha um motivo a mais pra estudar, que não era pra tirar nota boa nas provas, e sim jogar na cara do Hamilton que era mais inteligente.

Ele começou a sair mais com o Ícaro mas sempre perguntando se o seu não-entitulado rival estaria junto. E sempre que a resposta era "sim", ele dava uma estudada antes de ir. Em um desses roles eles trocaram números de telefone e começaram a se atacar por mensagens também. Os ataques consistiam em mandar perguntas aleatórias de Enem e vestibulares esperando que o outro respondesse sem olhar em nenhum livro ou caderno. Óbvio que eles trapaceavam as vezes, mas isso o outro não precisava saber.

Um tempo depois eles começaram a marcar de sair só os dois pra estudar juntos. Seria algo produtivo se tudo não fosse uma grande competição, na qual o Hamilton quase sempre ganhava. Ele se sentia mal por "trapacear" estando no 2º do ensino médio enquanto o Aaron ainda estava no 1º. Mas eles sempre esqueciam desse detalhe e se botavam no mesmo patamar.

Ele gostava dessa amizade que tinha com o Hamilton. E espera um dia poder conhecer mais dele.

Os cara, os mlk e uma outra galera láOnde histórias criam vida. Descubra agora