⤝⥈⤞
04
Bia Manfred
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De volta para casa.
Cada pedalada, era uma adrenalina.
O percurso me assaltou com um comboio de viaturas seguindo no sentido oposto ao que eu seguia, com suas sirenes ligadas e toda a agitação de um socorro. Era o desespero dentro de mim, se esvaindo.
Eu sabia que era um socorro para o garotinho desconhecido, pois, uma ambulância seguia atrás, sendo escoltada pelas viaturas.
Eu sabia que não tinha o direito, mas cheguei a me sentir bem depois que pus a bicicleta de Victor para dentro da garagem dos meus avós e entrei em casa. Ter a sensação de estar em casa, é diferente de chegar em casa.
Bati os sapatos cheios de terra e tirei o casaco moletom encharcado.
Já é noite... Olhei pela janela, avistando o jardim meio escuro. A luz da lua lhe caíra como um manto negro, mas ainda assim era belo e bem cuidado pelos caprichos da vovó.
—Você passou o dia todo fora, por onde esteve, minha querida? —Vovó me trazia uma tigela com morangas frescas. Suas mãos estavam trêmulas, o que me fez coçar a nuca, confusa.
Ainda estavam molhadas. Haviam sido lavadas recentemente.
—Eu precisava passear, vovó. Visitei alguns lugares dentro da cidade e adormeci em um parque qualquer. Nem sei qual era o nome do parque, mas estava vazio. —Me virei para ela completamente e estiquei os lábios minimamente. —Era seguro.
Eu não suportava a ideia de estar sendo incriminada pela morte do meu irmão, tanto quanto não suportava a ideia de estar mentindo para os meus avós; as únicas pessoas que me amavam nesse mundo.
—Tire toda essa roupa molhada e descanse, vai acabar pegando um resfriado. Eu vou servir o jantar em quarenta minutos. Não demore para descer, Bia.
Vovó me ofereceu mais uma moranga e me deixou subir as escadas com os sapatos cheios de barro, nas mãos. Ainda enquanto subia pelos degraus, ouvi cochichos entre ela e meu avô, mas ignorei.
Eu precisava.
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Ao entrar no quarto, espremi a fechadura na mão, implorando para que não fizesse barulho.
Me tranquei.
Corri até o banheiro, levando comigo os sapatos enlameados e os afoguei dentro da banheira, violentamente, até que todo o barro tomasse conta da água nebulosa.
Até quando você vai seguir com isso, Bia...? Por que estou ficando paranoica?
Meus pensamentos não me ajudavam, mas, afinal de contas, quem me ajudaria senão eu mesma?
Deixando os sapatos á deriva, submersos na água da banheira, saí do banheiro e me aproximei da janela de frente para a rua.
Um pé descalço na frente do outro.
A madeira estava fria e fazia as minhas pernas tremerem dentro daquelas calças ainda molhadas.
A luz do poste me incomodou e eu espremi os olhos. Não, não era a luz do poste. Eram dois faróis desesperados para encontrarem um rosto.
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O Jogo Que Matou Meu Irmão
Science FictionBia Manfred é uma responsável irmã mais velha de um casal de irmãos com pais famosos no mundo do Design para jogos. Uma adolescente comum, sob a influência dos hormônios que se ver encaixada em um mar de mistérios quando encontra o corpo de seu irmã...