Kelvin

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Num lugar isolado, onde árvores retorcidas guardavam segredos e lindas flores sussurravam histórias, vive o jovem Kelvin.

Seus cabelos dourados e olhos amêndoas hipnotizantes eram um contraste com a solidão da casa no campo, próxima a um lago sereno onde vivia.

Vivia sua vida pacata sob o comando de sua mãe, Irene, uma mulher loira muito bela de olhos assassinos, como Medusa e de seu gato branco de estimação, Pascal.

Cultivava flores enquanto suas canções ecoavam em meio aos dias solitários, alheio ao vasto mundo além de sua existência isolada.

Cada manhã, Kelvin acordava ao som das aves cantando, lhe contando dos mistérios que haviam além da fronteira. Ele compartilhava seus segredos mais profundos com Pascal, seu fiel escudeiro, e ambos se embrulhavam em uma bela canção pela voz melodiosa do garoto.

No entanto, ao olhar além das fronteiras do lago, um misto de curiosidade e medo o envolvia, deixando-o dividido entre o desejo de explorar o desconhecido e a segurança de sua casa.

Todos os dias pensava no além daquelas águas, via as luzes, via as cores e sentia que queria ser livre para tocar e conhecer pessoas.

Em um dia particularmente ensolarado, Kelvin decidiu aventurar-se pela floresta, guiado pelo murmúrio do vento nas folhas. Com passos confiantes, ele explorou os caminhos sombreados, colhendo maçãs das árvores. Todos os dias saía para colher frutas para sua mãe, enquanto ela estava na vila, trabalhando para obter o sustento de ambos, seguido por Pascal em seu encalço.

— Um dia Pascal, nós ainda vamos sair daqui. Mamãe não pode nos prender para sempre — murmurava Kelvin sonhador com o animal — Vamos ver as luzes da cidade de perto, conhecer a vila, e sair para cantar...

O animal não muito preocupado murmurava ronronados incompreensíveis ao dono, que continuava contando as aventuras que viveria ao chegar na tão sonhada cidade. Ao olhar para trás, percebeu que havia avançado mais do que deveria. Sua mãe tinha estabelecido um limite: não ultrapassar algum lugar que o fizesse perder a pequena casa de seu campo de visão.

Ao passar por uma árvore em específico, que estava próxima a uma estrada de terra, ele viu um cartaz preso ao tronco robusto. Era o retrato falado de um homem com cabelos cacheados, barbudo e olhos relativamente pequenos. O desenho do seu nariz estava estranho. Escrito em caixa alta na cor vermelha, estava a palavra "procurado". O nome do homem era Ramiro Neves, vivo ou morto.

Kelvin afastou-se, não querendo ler a lista de crimes que aquele sujeito poderia ter cometido.

Estava entardecendo e ele precisava retornar. Suspirou, fechando os olhos e sentindo a brisa gostosa atingir seu rosto, o som das folhas e o cheiro doce das flores.

— Vamos, Pascal. É hora de voltar.

Enquanto caminhava, abraçava a cesta cheia de frutas e com algumas flores silvestres novas que tinha encontrado em seu novo caminho. Enganchou uma delas na sua orelha, sentindo-se bonito. Apreensivo, torcia para que sua mãe ainda não tivesse chegado, porque aí conseguiria fingir que ficou em casa, preparando a refeição noturna.

O chalé onde moravam era simples, mas aconchegante. As paredes eram claras, com um lindo jardim de flores que Kelvin tinha orgulho em cuidar, e trazia uma sensação de "lar". Bom, isso até o jovem notar as velas acesas em casa e a silhueta da sua mãe aparecer na janela.

Entrou em casa, deixando o felino entrar primeiro. O gatinho logo se esfregou na saia da mulher antes de se deitar em uma cama improvisada no canto do cômodo.

— Oi, mãe. — Cumprimentou, abraçando a cesta com mais força, como se pudesse ser um escudo.

— Onde você estava? — Ela perguntou. A raiva era óbvia em sua voz.

Luzes da Primavera (Kelmiro AU) Onde histórias criam vida. Descubra agora