Epílogo

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Cinco anos haviam passado.

Em um chalé um pouco isolado da cidade, vivia o casal que ficaram juntos por conta de uma fuga da polícia e o sonho de ver um festival. O lugar era aconchegante, com um vasto jardim com diversas flores coloridas na entrada.

Uma menininha de cabelos cacheados e loiros carregava um gatinho no colo. Seus olhos castanho claros olhavam as flores com curiosidade, ainda que as visse todos os dias.

— Olha, Pascal, florzinha! — Falou animada, colhendo uma amarela e a rodando entre os dedos, abrindo um sorriso banguela — Amarelo. — Sussurrou para si mesma. Estava aprendendo as cores — Amarelo!

Feliz, correu de volta para casa, segurando sua flor com um aperto firme para que não caísse. O gato miava em protesto com o balanço, mas permaneceu quieto.

— Papai! Papai! — Ela gritou, seu tom feliz e um sorriso na voz.

Kelvin logo se levantou de sua cadeira na frente de casa, preocupado, achando que a filha havia sido picada por algum inseto, já que não a viu cair. Ele largou seu livro e desceu o pequeno lance de escadas, indo até a pequena com olhos preocupados.

— O que houve, Rapunzel? — Perguntou, abaixando-se na altura da menina e olhando seus bracinhos. Seu coração se acalmou ao ver o sorriso enorme naquele rosto fofo, com umas covinhas que davam vontade de morder. Era tão parecida com Kelvin, mas algo nela lembrava exatamente Ramiro.

— Papai, eu falei certinho a cor! — Disse com orgulho, mostrando a florzinha que havia colhido — Amarelo!

O loiro sorriu com orgulho, abraçando a menina, com cuidado para não esmagar o gato entre eles. Não que isso fosse ser um problema, já que o felino logo pulou fora daquele abraço coletivo, desfilando até um montinho de folhas e descansando lá.

— Eu estou tão orgulho de você! — Falou, as palavras interrompidas pelos vários beijinhos que deu nas bochechas gorduchas da filha — Minha menininha, tão inteligente!

Kelvin sentiu o coração dobrar de tamanho ao ouvir aquela risada gostosa que apenas a sua Rapunzel tinha. Ela se agarrou nos ombros do pai ao sentir que seria segurada em seu colo. Kelvin levantou-se, a abraçando contra o peito.

Sua filha estava crescendo tão rápido. Tinha orgulho de seu desenvolvimento, mas, para ele, "malelo" havia se tornado o novo nome da cor. Assim como "ermeio", "axul", "roxa" e tantas outras. Sentia dor física ao saber que logo sua pequenina seria grande demais para caber em seu colo.

— A tia Berenice vai ficar orgulhosa de mim lá na escolinha? — Perguntou animada.

— Com certeza, meu amor! Você vai estar mais adiantada do que as outras crianças.

A menina suspirou, sonhando com o dia em que iria frequentar a escola. As suas amiguinhas da cidade iam todas as manhãs e Rapunzel sentia vontade de ir também, mas seus pais haviam explicado que ela ainda estava novinha e que precisava de mais um tempo antes que pudesse entrar. Mas, na próxima primavera, estaria se juntando às coleguinhas na turma, já que estava adiantada.

— Agora está na hora de entrar. Você precisa tomar um banho. Logo logo seu pai irá chegar para nos levar ao festival. — Kelvin explicou, levando a filha para dentro — Está fedidinha, porquinha! — Brincou, fazendo cócegas em sua barriga apenas para ouví-la rir de novo.

— Não sou poiquinha! — Defendeu-se, mas logo seu rostinho se contorceu em uma expressão curiosa — Papai, o que é "adiantada"?

— É quando você está sabendo mais do que o seu tempo. — Explicou, didático, sentando-a em um banquinho enquanto preparava o banho — Você, por exemplo, já sabe contar e falar algumas cores.

Luzes da Primavera (Kelmiro AU) Onde histórias criam vida. Descubra agora