Capítulo 1

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Raquel.

Os dias em Palawan eram tranquilos, vivíamos em paz. Sérgio e Paula se davam muito bem. Claro, demorou um pouco para que se adaptassem a presença um do outro, mas quando aconteceu, foi da forma mais sincera possível. Paula o chamava de "tio Sérgio" e ele se referia a ela como "minha menina". Achei que não podia ser mais feliz, mas é como dizem: "quando a esmola é grande, o cego desconfia". Sérgio teve que fazer uma viagem alegando uma pequena reunião com investidores asiáticos. Ele disse que queria aprender sobre as melhores aplicações do mercado. Eu desconfiei, mas não falei nada. Ele voltou para casa três dias depois e foi ali que eu soube que a nossa amada paz havia acabado.

— E aí, amor, como foi de viagem? — Perguntei ao passar os meus braços pelo seu pescoço e logo senti as mãos dele em volta da minha cintura. Franzi o cenho ao perceber o nervosismo aparente em seu rosto.

— Raquel, faça as malas. Você, Paula e sua mãe irão para Mindanao. — Ele disse com a voz firme e séria.

— O quê? Por quê? — Indaguei confusa, não estava entendendo o que estava acontecendo.

— A Tóquio está aqui, precisamos reunir o bando e eu não sei o que está acontecendo, então o melhor é que vocês fiquem em segurança longe daqui. — Ele explicou e eu me segurei para não revirar os olhos.

— Então você quer que eu vá para Mindanao, mas você fica aqui, mesmo sem saber qual a real gravidade da situação, porque a Tóquio chegou e você tem que resolver o que quer que seja? — Questionei ironicamente e o vi assentir com a cabeça. Segurei o seu rosto com as duas mãos e o beijei. Percebi que ele foi pego de surpresa com a minha ação, mas não demorou a corresponder. Nos separamos quando o oxigênio se fez necessário e eu sorrio docemente o encarando. — Se você achou que eu fosse ficar escondida para que ela não me visse, pode tirar o cavalinho da chuva! — Me desvencilhei dele e caminhei a passos apressados até a praia. Quando parei perto dos barcos vi a nossa hóspede que me encarou como se visse o demônio e se colocou a caminhar, praticamente correndo de forma intimidadora na minha direção. Não me deixei abalar, ergui uma sobrancelha em desafio e fiz o mesmo que ela, logo estávamos quase coladas uma na outra, mas Sérgio se apressou e se colocou entre nós para evitar um estrago dos grandes.

— O que ela está fazendo aqui? — A mais nova esbravejou irritada.

— Calma que ela é uma de nós! — Sérgio falou antes que eu respondesse.

— Vamos dizer que eu mudei de lado. — Me pronunciei. — Vi o olhar mortal que ela me direcionava e a encarei no mesmo nível.

— Sabe quem muda de lado durante a guerra? — Tóquio perguntou debochada. A voz de Sérgio novamente se fez presente ao entender onde ela queria chegar com aquilo.

— Tóquio, por favor! — Sérgio pediu com o nervosismo evidente na voz, mas isso não impediu a moça de continuar.

— Os traidores! — Tóquio respondeu a sua própria pergunta. — Uma gente de merda! — Falou no intuito de me atingir.

— Tóquio! — Sérgio falou em repreensão e eu continuei encarando a morena.

— E sabe o que acontece com esses ratos? — Segurei a revirada de olhos ao ver que ela continuaria com aquilo.

— Já chega, Tóquio! — Sérgio falou novamente, mas nada fez a mais nova parar.

— Eles mudam de lado uma, duas, cem milhões de vezes! — Ela encarou Sérgio com uma expressão nada amigável. — Ela vai trair você! — Afirmou convicta.

— Isso não vai acontecer! Eu já pensei bem sobre isso. — Sérgio respondeu.

— Pensou? Com a cabeça de baixo? — Tóquio questionou com sarcasmo na voz, então não me aguentei, ergui a minha mão e acertei um tapa na cara dela. Ela virou o rosto e levou a mão até o local atingido, depois me encarou com mais ódio do que antes.

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