Meu Presente De Natal -Kelmiro

Perdido

Estava dando tudo errado, muito errado, estar perdido não é bom, mas estar perdido numa cidade a noite, sem conhecer ninguém com pessoas mau encaradas era pior ainda.

Quinta-feira, tomo meu café amargo enquanto olho pela janela do quarto na pousada em que eu estou temporariamente hospedado.

O dia estava nublado, gosto de dias assim, me trás uma sensação de conforto e calmaria, talvez seja pelo fato de eu ter nascido e crescido numa cidade muito quente, provavelmente esse fator fez eu me tornae um amante de dias nublados, dias assim sempre tendem a ser mais tranquilos e produtivos.

Saí para trabalhar uma hora adiantado por conhecer bem o trânsito dessa cidade, mas por incrível que pareça hoje estava mais tranquilo, com isso acabei chegando adiantado na minha empresa, apesar de ser o CEO gostava de ser um dos primeiros a entrar e um dos últimos a sair para ter certeza de que tudo estava indo bem.

Só eu e o meu secretário Rodrigo que está comigo desde o começo sabe o quanto foi difícil tornar aquela pequena empresa afundada em dívidas a esse império que é hoje, os sacrifícios que tive que fazer, as horas de sono que me foram roubadas, o tempo com minha família que tive que abdicar, as lindas mulheres com que eu já namorei mas não pude dar a atenção que elas mereciam por conta da minha intensa carga horária de trabalho, não conseguia manter um relacionamento durar por mais de seis meses. Era frustrante, mas necessário, apesar disso eu não me arrependode nada.

É mais do que compreensível que eu queira cuidar do que tanto lutei para conseguir, ainda mais sendo um homem negro nesse país os meus desafios eram três vezes mais complexos que exigiam muito de mim, mais do que eu gostaria.

Amo tudo o que construí mais do que a mim mesmo, por isso cuido dessa imprensa com total dedicação, como se fosse a minha vida, porquê de certa forma é isso que ela é. Ela é tudo que eu tenho.

E o que parecia o começo de um dia promissor de trabalho se mostrou ser um desastre ao decorrer que as horas passavam.

No fim da tarde, estava lendo um amontoado de documentos que precisaria assinar, minutos antes de sair de uma reunião bastante cansativa, e tive ainda que ouvir fortes reclamações de minha família por não ir visitá-los, tentava dar tudo que minha família precisava para que eles tivessem o máximo de conforto, mas nada parecia ser o suficiente, e as reclamações de minha mãe eram as que mais doíam de ouvir.

- Mãe já chega, eu mandei pelos correios todos os presentes para toda a família, comprei um presente imcrivel para a senhora que tenho certeza de que vai adorar, para ouvir apenas reclamações?

-Meu filho, sou muito grata por tudo isso, não pense que não, tenho muito orgulho do homem que se tornou, mas do que adianta todos esses presentes se você não vai estar aqui para abri-los comigo? Ah? Do que adianta meu filho, eu quero vocêde novo comigo, é o melhor presenteque poderia me dar.

-Mãe por favor...

- Eu prefiro que você venha com uma mão na frente e outra a trás, porque meu amor... esses presentes não chegam nem perto de preencher a falta que você faz nessa casa. Por favor, volte para casa, volte para a sua mãe.

Tudo isso me causou uma forte dor de cabeça que nem mesmo os remédios conseguiram resolver. Discutir com minha mãe sempre me deixava péssimo, mas eu não podia ir agora, a empresa precisava de mim.

Tomei a decisão de voltar mais cedo, não conseguiria trabalhar nesse estado de qualquer forma, sei que aquele horário era o momento do dia onde o trânsito estava mais intenso, então no meio do caminho tive a péssima ideia de tentar pegar um atalho, burrice a minha, se tivesse tido a paciência de esperar naquele trânsito provavelmente já estaria em casa e não vagando por essas ruas totalmente estranhas.