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FURZLEY, 2012

Uma forte tempestade caía em grande parte da Inglaterra, que desde cedo só havia nuvens escuras no céu. Já era por volta da meia noite e a mansão Armstrong estava silenciosa. Era uma noite fria, o inverno estava próximo. As noites passavam lentamente, e as manhãs eram bem curtas.

O silêncio permaneceu até às duas da manhã, onde de repente, no quarto das crianças, um grito foi ouvido. Não havia muitas pessoas na mansão, mas os donos da casa foram os primeiros a acordar, logo em seguida o jovem James. O casal corre para o quarto das crianças, onde Melione dormia junto de seu irmão. Eles se assustam ao verem a pequena Armstrong sentada no canto do quarto, com os olhos vermelhos e o cabelo bagunçado.

Albert foi até a neta, que ainda parecia assustada. Era como se ela tivesse acabado de acordar de um pesadelo. O mais velho se abaixa ao seu lado, acariciando os longos fios loiros de Melione, que ainda chorava.

- O que houve, meu amor? - perguntou. Melione enxuga as lágrimas, mas fazia uma carinha de choro.

- Tinha alguém aqui no quarto, vovô... ele tava falando comigo. - O casal se olha assustado, prontos para ligarem pra polícia.

- Tem um homem aqui em casa? Ele estava aqui no quarto? - dessa vez Noemi, avó das crianças, perguntou.

Melione não responde e a preocupação do casal se torna maior. O mais velho, já com os cabelos grisalhos, olha para James, o irmão mais velho de Melione, que mantinha os olhos fixos na irmã. Estava preocupado com ela, mas não sabia como acalmá-la.

- James, você viu alguém aqui no quarto? - Albert perguntou. O garoto nega.

- Não vi ninguém aqui. Estávamos dormindo tranquilos e, logo em seguida, Melione grita. - contou.

Albert olha para Melione novamente, que agora chorava um pouco menos.

- Meu bem, por que você gritou?

- Eu já disse, vovô. Um homem... ele falava comigo, ele era assustador. - sua voz falhava.

- Como era esse homem, querida? - Noemi quis saber.

- Ele é bem alto, mais alto que o papai. Seus cabelos eram preto, tinha olhos bem escuros também. Estava com uma cicatriz no olho, bem feia - ela começa a contar, tentando se lembrar de todos os detalhes - Ele tinha uma voz assustadora.

James fica com medo pela descrição de sua irmã.

Noemi chama as crianças para irem na cozinha, ela estava disposta a preparar algo para eles comerem. James vai na frente com ela, Melione fica para trás, junto com seu avô.

Albert olha para sua esposa, que o olhava de fora do quarto, esperando ele e Melione.

- Podem ir na frente, vou daqui a pouco. - pediu. Ele olha novamente para a neta, tentando confortá-la. - Querida, ele não vai fazer nada com você. Eu estou aqui, entendeu?

A garotinha estava com os lábios trêmulos, ainda assustada.

- Ele estava me chamando para ir com ele pra algum lugar, vovô... - começou a contar, olhando para o chão do quarto. - Repetia meu nome inúmeras vezes. Ficava me chamando para ir em algum quarto daqui de casa, um específico.

Albert não sabia ao certo o que dizer. Queria tentar confortá-la, mas parecia impossível.

- Foi só um sonho ruim...

- Parecia tão real - cortou o mais velho de continuar -, eu conseguia sentir as mãos frias dele tocando meu braço, enquanto sussurrava meu nome bem perto do meu ouvido.

- Alguns sonhos são bem mais realistas do que outros. Temos que evitar deixar nossos sonhos atrapalharem nossa vida real, Melione.

Ele tira as mechas loiras do cabelo da garotinha de seu rosto molhado, dando destaque aos seus olhos azuis. Albert consegue convencê-la de ir comer alguma coisa, e depois poderia dormir no quarto deles.

Melione custou pegar no sono novamente, mas, ainda sim, toda vez que dormia na casa, era perturbada pelos mesmos sonhos de sempre. Mas a hora certa estava pra chegar, e com isso, as explicações para esses mesmos sonhos de sempre.

A Garota De Lugar NenhumOnde histórias criam vida. Descubra agora