Prólogo

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Eu me lembro da primeira vez que vi Giulia, como seus cabelos loiros brilhavam ao sol e sua risada iluminava tudo ao seu redor, ela sempre teve essa áurea que sugaria todos para seu redor e nos faria cercá-la como mariposas vendo a luz. Tínhamos apenas quinze anos, ela era a capitã do time de debates enquanto eu coordenava a biblioteca e me escondia em corredores literários, enquanto Giu era  adepta da atenção, elogios e de todo o glamour, eu seria mais calma, envergonhada e buscando estar atrás das cortinas do grande teatro da vida.
Eu não me lembro quando ela me adotou, se foi quando eu a ajudei com um trabalho de história ou se foi quando ela descobriu o lar disfuncional que eu vivia, com pais que mais brigavam entre si do que falavam comigo, eu não me lembro da primeira vez que dormi em sua casa, ou de quando eu ganhei um quarto definitivo, ou quando passei a tratar Angelo como meu pai ou até mesmo da primeira vez que ele me chamou de filha, eu só consigo saber que pelos últimos doze anos fomos como vinho e uísque, indispensáveis.
Eu sempre soube que o dinheiro do nosso pai vinha de algo muito além do que os olhos poderiam ver, ele estava sempre armado, a casa com segurança e sempre estávamos vigiadas, mas éramos mantidas no escuro e isso era muito confortável.
Ou pelo menos nos sentíamos confortáveis, até o dia em que, num jantar comum de terça feira, nosso pai anunciou que Giu iria se casar com um russo que nunca tínhamos visto antes, alguém de uma alta escala hierárquica que garantiria mais alguns anos de paz e negócios entre a Famiglia e a Bratva. Eu não perdi de vista o aceno contido de Giu, ou a forma que suas lágrimas não derramadas fizeram seus olhos brilhar, mesmo que seu lindo e radiante sorriso tentasse disfarçar isso, não perdi a tristeza que ela estava enquanto fazíamos as malas ou como ela apertou meu braço quando andamos agarradas até nosso avião.
Giu sempre esteve lá, ela me deu todo o apoio necessário para me tornar uma crítica literária, dormimos juntas assistindo os filmes de nossas princesas favoritas e estávamos cuidando uma da outra em nossas primeiras ressacas, quando perdemos a virgindade e até mesmo quando o jogador de rúgbi do colégio partiu o coração de Giu. Eu conhecia cada piada, sorriso, olhar, forma de andar e movimento que ela tinha e sabia o significado de cada um desses, nossos olhos poderiam se conectar a uma sala de distância e saberíamos exatamente como agir e se portar.
Eu não era realmente afeiçoada ao amor, nunca havia realmente amado antes, aquele amor avassalador e de cair o queixo, de deixar pernas bambas e noites de insônia, eu nunca realmente me atrai pelos homens mais do que algumas saídas e uma ficada casual. Eu nunca fui feia, mas qualquer beleza se apaga quando sua melhor amiga possui longas pernas bronzeadas artificialmente e parece uma modelo da Victoria Secrets com seus enormes olhos azuis e lábios rosados no tom certo, Giu era o tipo de mulher que os homens suspiravam ao ver passar, enquanto meus cabelos pretos e meus olhos chocolate eram comuns, mesmo que meu rosto fosse delineado e meu corpo tivesse curvas que fariam as mulheres chorar na porta de cirurgiões plásticos para ter, éramos belezas distintas.
Eu sempre pensei que o amor mais puro que eu experimentaria seria pela minha melhor amiga, minha irmã, não poderia imaginar um dia da minha vida sem que ela estivesse ali para mim, eu sempre soube que nossa ligação era algo de alma.
Isso foi até eu conhecer seu marido, Alexei Petrov e seu sotaque russo que fazia meu corpo esquentar nos lugares certos.
Alexei era o fruto proibido e uma linha que eu não poderia cruzar.
Mas quando eu olhava em seus olhos eu podia ver um rasgo em sua alma que combinava perfeitamente com o rasgo da minha.
Nunca pensei que trairia minha família, mas quando Alexei sorriu e sua armadura rachou, eu soube que faria qualquer coisa só para que ele pudesse sorrir de novo pra mim.

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