O Marido

A Viagem

Beatriz

Meu olhar nervoso encontrou de Giu e por um segundo parecia que o mundo mudava de foco, respiramos profundamente e sem mais delongas ela se sentou ao meu lado no avião, me oferecendo uma mão e se acomodando em seu acento na janela.
O brilho em seus olhos era quase perigoso demais, como se ela planejasse saltar do avião quando ele estivesse no ar, precisei limpar minha mente para não dar vida a esse plano e arrancá-la desse destino o mais rápido o possível.
A conexão de uma amizade verdadeira é mil vezes mais intensas que a conexão amorosa, seus braços se arrepiam e suas vozes entram em sintonia, antes mesmo que você perceba todo seu mundo se encaixou no mundo dela e é como se vocês se conhecessem por toda uma vida.
Foi assim que eu descobri que amava minha melhor amiga e levaria uma bala por ela, se fosse necessário.
Não compartilhamos apenas a mesma casa, compartilhamos nossas risadas e choros, todos os nossos medos e sonhos, compartilhamos a cama em noites de trovões e uma cadeira uma vez, em um bar lotado na cidade vizinha, porque estávamos cansadas demais para esperar alguém ceder outra cadeira e bêbadas demais para nos importarmos.
Por tanto conhecer Giulia soube imediatamente que seu casamento era algo que ela não poderia escapar, nossos olhares transferiam palavras não ditas, fiz da minha missão fazer ela feliz nessa situação de merda.
A viagem de avisão passou como um borrão, mas fomos avisadas no momento correto em que deveríamos nos levantar e nos arrumar e aqui estávamos nós, arrumadas como oferendas, o vestido de seda branca de Giulia tinha alças e um cumprimento que beirava o aceitável, combinando perfeitamente com o colar de pérolas e os brincos delicados.
O cabelo loiro de Giu descia até suas costas, com tanto laquê que me deixou receosa de acender um fósforo ao seu lado e ela pegar fogo, mas ela estava linda, mesmo com pouca maquiagem ela estava estonteante.
Enquanto meu cabelo estava elevado em um coque trançado e muito bem trabalhado, a cabeleireira tinha puxando fios praticamente invisíveis para ter certeza que a divisão no meio estava perfeita, meu vestido de alça única preto ia até perto dos joelhos com uma discreta fenda lateral, sem detalhes e sem grandes acessórios, eu usava apenas brincos de argolas pequenas de ouro, uma pulseira de ouro imitando um nó em meu pulso de forma delicada e um único anel no dedo indicador que era conjunto da pulseira.
Meus olhos pretos como café forte encontraram os olhos verdes de Giu e eu dei a ela um sorriso encorajador com meus lábios vermelhos quando o avião pousou.
Nossos saltos bateram e ecoaram pela zona de pouso praticamente vazia, se não fosse pelo elegante carro preto que nos esperava com um motorista em um terno escuro, enquanto ele dirigia para a festa onde nosso pai nos aguardava o silêncio caiu de forma confortável entre nós, parecíamos como ovelhas silenciosas caminhando para a toca do lobo.
Quando o carro estacionou na porta da enorme mansão, fomos levadas por um mordomo a conhecer alguns dos cômodos da instalação principal antes de sermos levadas ao jardim dos fundos, onde o almoço e a recepção aguardavam por nós.
Éramos ricos, mas tudo aqui gritava luxo em todas as espécies que mesmo em nosso patamar não alcançaríamos, era a casa de alguém além da realeza.
Meu olhar caiu no rosto de nosso pai, que se levantou de uma das pontas da mesa central quando nos saudou chegando, até que eu olhasse para a outra ponta e meus olhos encontrassem o homem mais lindo que eu já havia visto em minha vida se levantando, quase tropecei em meus pés quando seus olhos azuis gélidos pousaram em mim, eu reconheceria aqueles olhos no escuro se fosse preciso. Alexei Petrov era enorme, com quase dois metros de altura e ombros largos, o homem deveria viver na academia porque estava quase do tamanho de um armário de solteiro, seu cabelo loiro escuro estava cortado em um corte militar e seu terno verde escuro esticando nos lugares certos, a camisa preta estava aberta três botões e os pelos de seu peito estavam brincando com meus pensamentos.
Ele não parecia o tipo de homem que usaria uma gravata apertando seu pescoço.
Ao seu lado estava Dimitri Petrov, que era a cópia do Capitão América na versão russa, ele iria fazer lindos bebês loiros de olhos azuis quando o tempo chegasse.