Cidade Escavada (Degustação)

Capítulo 9

     As meninas dormiram no meu quarto essa noite, quando levantei essa manhã, elas ainda estavam dormindo como pequenos anjinhos, Âmbar dorme no meio e em cima de Cecil, já Berlinda ocupa metade da cama, e Cecil está abraçada a Âmbar.

     Fiz o mínimo de barulho possível, peguei algumas roupas e decidi tomar banho em outro lugar, quando saí elas ainda dormiam, normalmente são elas quem me acordam, mas levantei mais cedo, para falar a verdade quase não dormi, meus pensamentos não saem daquela cidade e isso despertou outras memórias, e quando me encontrei prestes a cochilar, essas memórias saltaram na minha mente tirando o sono que eu já não tenho, meu cérebro está a mil nesses últimos dias, essa cidade só se tornou mais um dos gatilhos que me atormentam.

     Fiquei no meu escritório o dia todo novamente, Andrey não apareceu de noite nesses últimos dias, nem durante a tarde, o que me fez ficar preocupado, então decidi procurá-la para saber se está tudo bem.

     A encontrei saindo de uma reunião no corredor do andar de cima do castelo, fui em sua direção assim que a vi, ela está conversando com um homem na porta, quando me viu correndo rumo a ela, pude ver a surpresa escondida em seu olhar.

- Sua majestade. - Ela se curvou delicadamente ignorando o homem que está falando atrás dela, ele se curvou assim que me percebeu, parece nervoso. -

- Pode nos deixar a sós? - Falei para ele, que abriu a boca para falar, mas nada saiu, então ele só se curvou de novo e saiu rapidamente pelo corredor. -

- Aconteceu alguma coisa? - Ela falou quando o homem ficou distante o suficiente para não nos ouvir. -

- Não, só queria saber como você está... - Agora eu percebo como isso soa ridículo. -

- Olha... – Ela cruzou os braços fazendo sua famosa cara zombadora. - Se está com tanto tempo disponível eu deveria mandar mais trabalho para você.

- Eu vou sempre estar disponível para você. - Falei brincando, mas quando saiu da minha boca, tive que esconder meu constrangimento. -

- Encantador. - Ela caçoou. - Eu estou bem Owen. - Falou com seriedade dessa vez. -

- Tem certeza? - Tenho medo de Andrey estar se culpando pelo que está acontecendo, por mais que a culpa seja de todo mundo, foi ela quem deu a ideia no final das contas, não quero que se sinta mau por isso, afinal se quiséssemos poderíamos ter mantido para nós a informação, é culpa de todos que estavam naquela mesa por apoiar a ideia, ela fez o que tinha que fazer, se ela não achasse a entrada, então estaríamos sendo punidos agora, e entre ela e aquela cidade, ela se escolheu, não é uma decisão egoísta escolher sobreviver, se a situação fosse o contrário, e aquela cidade tivesse que escolher entre eles e Andrey, eles também se escolheriam. -

- Sim, só... lidando com isso. - Olhei nos olhos dela, aguardando ela dizer o que tinha para falar, ela olhou para mim revirando os olhos e suspirou em desabafo. - É um teste Owen, um teste do rei. - Continuei ali, sem entender. - Ele sabia que eu notaria a entrada, ele me fez escolher entre ele ou a cidade, queria saber onde está minha lealdade.

- Por que está me contando só agora? Por que não me falou antes?

- Queria saber como você olharia para mim quando visse a realidade, se me culparia quando visse aquelas pessoas mortas. - Ela planejava me contar isso só depois? Depois de tudo? -

- Andrey. - Segurei em seus ombros olhando frente a frente para seus olhos. - Eu sei o que ele faria, principalmente com você. - Como eu disse antes, ele deposita muita fé nela, se ela falhasse seria a que mais sofreria de todos nós, e até eu não teria como impedir sua punição, teria que vê-la sofrer...como já aconteceu antes. - Você fez o que tinha que fazer, se confirmarmos a entrada e realmente atacarmos, essas mortes não vão estar somente em suas mãos, nunca vou te culpar por algo que você não pode impedir, saber que isso é um teste do rei, só te torna uma vítima no meio de tudo isso, não tem o que você fazer.