Capítulo 1

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     É primavera, o sol está entrando pelas janelas do corredor que agora ando, logo adiante está a porta que tanto evitei durante anos, dá pra ver as partículas de pó que se mostram ao encontrar o sol. O ar pesa em meus pulmões a cada passo que dou, o carpete vermelho escuro com as bordas douradas parece infinito, o que me dá a sensação de estar ainda mais sufocado, as pilastras brancas com detalhes pretos e dourados iniciam uma viga com formato de arco preto com desenhos brancos no teto, que se estende por todo corredor. Consigo escutar os passos dos guardas que estão me acompanhando, o som de suas armaduras pesadas batendo contra o chão é inconfundível.

     Cheguei perto da porta vermelha escura com um grande leão dourado desenhado entre as duas, os guardas que estão em frente a ela a abriram para mim, puxando o arco que o leão está segurando com a boca, o leão foi dividido em dois e a porta foi aberta lentamente.

     Centralizado no meio daquela sala gigante, no lugar mais exposto e mais alto da sala, seguido por degraus e mais degraus de escada, está ele, sentado em seu trono com acolchoamento preto, com a base talhado do mais puro ouro, uma capa vermelha com bordas brancas se estende sobre seus pés, uma coroa de rubis está sobre sua cabeça, envolvida por pequenas pedras de diamante que brilham contra a luz, sua barba é branca e bem aparada e seus cabelos são lisos grisalhos que se estendem para o lado esquerdo de seu rosto, sua pele é parda em um tom mais claro, da mesma cor que a minha, seus olhos são azuis quase verdes como pequenas bolinhas de amazonita, suas orelhas são pontiagudas e há uma pedra branca no nódulo de uma delas, suas roupas estão cheias de joias em cada parte que olho, chega ser ridículo sua exuberância.

     Quando entrei naquela sala grande e vazia ele estendeu o braço e ergueu um grande sorriso, é lógico que sorri de volta e me curvei, como um fiel súdito de frente ao seu rei.

Meu filho. - Disse ele ainda sentado, com alegria sibilando em sua voz que ecoou pela sala. -

     Não espero que ele se levante de seu trono para me abraçar, ou que seu sorriso seja verdadeiro, a falsidade é uma coisa que já esperava antes mesmo de chegar ao castelo, sorrisos falsos e olhares espertos.

     Levantei minha cabeça da reverência forçada, sentindo o ódio percorrer em meu peito, sei que ele pode ver esse ódio no meu sorriso, o mesmo sorriso que sempre dei a ele desde que fiquei são. Me obriguei a encará-lo como sempre fiz, forcei meus olhos a verem seu rosto que trouxe assim como sempre, ânsia em minha garganta.

Meu senhor. - Nunca o chamaria de pai, nem mesmo se ameaçassem me matar, não é como se ele quisesse escutar isso vindo da minha boca também, acho que o enojaria tanto quanto me enoja estar em sua presença. -

     Uma sombra ao lado do trono chamou minha atenção, meus olhos se encontraram com uma mulher que passou a andar para frente, saindo das sombras nas quais estava escondida, nem mesmo percebi sua presença, a repulsa de voltar para cá é tão grande que acabei não prestando atenção no ambiente, e para falar a verdade, não esperava que ninguém além dele e eu estivesse nessa sala.

Vejo que notou sua presença. - Ele estendeu a mão, chamando a moça para segurá-la, como se ela fosse um cachorrinho preso na coleira. - Essa é Andrey, minha representante e um dos comandantes do meu exército. - Ela colocou uma de suas mãos sobre a do rei e deu uma reverência em minha direção, abaixando sua cabeça na altura dos olhos, apenas fiz o mesmo. -

     A mulher está com um vestido preto que desliza sobre suas pernas em um movimento liso e encosta no chão, ele brilha como se pequenas estrelinhas estivessem presas naquele tecido, no meio de seu peito, tem uma renda meio transparente revelando metade de seu tórax, suas mangas tem um buraco redondo que revela todo o seu ombro, as mangas fazem uma volta ao redor de seu braço e são um pouco largas. Seu cabelo é azul quase preto e escorre até seu quadril, sua pele é de uma cor escura e quente, seus olhos são roxos e brilham como ametista, suas orelhas são grandes, finas e pontudas.

Cidade Escavada (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora