O dia da missa de sétimo dia de Joan Taylor finalmente chegou. Nicholas estava inquieto desde a visita da senhora Taylor à sua casa e mal comia ou dormia. "Ela deve aparecer hoje", pensou o garoto. Ele vinha constantemente ensaiando um modo de pedir que Cecily o deixasse em paz. Mas como, se ela estava apenas fazendo o trabalho dela? Ele prometera ir à missa de sétimo dia de Joan, mas depois da cena que Maud Taylor fez em sua casa Nicholas não estava disposto a ir à missa e ter que enfrentar sua ira. Será que se ele apenas aguardasse, Cecily apareceria?
Nicholas ainda não se levantara da cama, mesmo após sua mãe chamá-lo várias vezes. Estava sem fome e estava esgotado demais pela insônia para ter vontade de fazer qualquer coisa. Ao mesmo tempo estava ansioso. Afastou os cabelos pretos da testa enquanto deitava fitando o teto se decidindo se sairia para encontrar Cecily ou não.
- Mas que merda! - Ele xingou frustrado.
- Não devia falar assim!
Nicholas levou um susto e caiu da cama. Do seu lado estava Cecily, os cabelos longos presos em uma trança que descia pelas costas até a cintura. Usava um vestido verde-claro longo com mangas compridas que cobriam o bracelete de ceifadora.
- Cecily! - Nicholas gritou, se levantando e sentando na cama. - Não chega assim, eu levei um baita susto!
- Desculpa! Não quis te assustar. Mas o que te deixou tão chateado a ponto de você xingar? - Cecily sentou-se ao lado dele.
- Você deixou!
- Eu? O que eu fiz? - a ceifadora arregalou os olhos.
- Desde que você apareceu na minha vida eu só me ferrei! - ele levantou-se - Fui taxado de "garoto da bruxa", fui xingado, as pessoas do vilarejo me olham torto e agora eu nem posso ir na missa da Joan por causa da senhora Taylor que vai me acusar de ter pacto com o demônio! É tudo culpa sua!
Cecily pareceu bastante assustada. Nicholas percebeu que ele havia soado mais furioso do que pretendia. A moça manteve-se calada, os olhos arregalados e a boca semiaberta em estupefação. Os segundos passaram em silêncio e Nicholas começou a se sentir constrangido.
- D-desculpa... - disse ele ficando vermelho. - Acho que a falta de sono tá me fazendo mal.
- Não tem dormido? - Cecily parecia preocupada.
- Não... Eu não aguento mais... todos esses anos... desde a morte do Geoffrey... Nunca estive tão ansioso... Achei que tivesse me acostumado com os olhares, com os cochichos... Às vezes meus próprios irmãos ficam desconfortáveis perto de mim... No fundo eu sei que não é culpa sua, você apenas faz seu trabalho. Cecily, por quê eu consigo ver você?
Nicholas olhou no fundo dos olhos dela. Cecily sentiu-se extremamente mal por não saber responder aquela pergunta. Ela também queria saber. Queria descobrir e pra isso precisava estar perto dele. Mas... Ficar perto dele parecia estar fazendo extremamente mal ao garoto.
- Garoto... Eu... não sei. Não sabemos. Nenhum de nós, ceifadores, sabe o que está acontecendo. Por isso... por isso eu vim falar com você. Você quer descobrir porquê consegue ver ceifadores? Talvez, achar um jeito de parar de ver? É isso que você quer?
- Sim, quero! Me ajuda, por favor! Isso só me traz problemas, e da última vez até minha mãe se envolveu. O que eu preciso fazer?
- Olha, garoto... Eu vou precisar estar por perto. Essa é a parte que precisamos concordar, pois, por mais que a minha presença cause problemas a você, é a única maneira de investigar isso. Não há registro nenhum de alguém que consiga ver a gente além de nós mesmos e talvez os gatos.
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Elo mortal
ParanormalDesenho da capa: @mamatiazi (Instagram) Quando era apenas uma criança, Nicholas presenciou algo que mudaria a sua vida. Enquanto seu irmão Geoffrey agonizava após ser atacado por um animal selvagem, uma linda mulher de vastos cabelos negros surgiu d...