Capítulo 2

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A vida de Nicholas nunca mais foi a mesma. Ele tinha apenas 9 anos quando Geoffrey faleceu e quando ele viu Cecily a primeira vez. Desde então a pequena vila de Bampton não era mais a mesma para ele. Durante muitos anos ele não viu Cecily na vila ou na floresta, mas todos ainda falavam ao cochichos sobre o "garoto da bruxa Plowman". Até mesmo seus irmãos o estavam tratando como um esquisito. As outras crianças da vila, nem se fala. Mas nada disso doía tanto em Nicholas quanto a indiferença de seu pai quanto à morte de Geoffrey.

O padre Simon escrevera uma carta a ser entregue no front onde Walter Plowman batalhava contra os franceses, porém nenhuma resposta fora recebida. Após alguns meses, Eleanor pediu que outra carta fosse enviada para perguntar se Walter ainda estava vivo, devido à falta de resposta quanto à morte do primogênito da família. Um mensageiro logo chegou com a resposta, o senhor Plowman estava vivo e bem, lutando a guerra com honras em nome do rei Eduardo III. Dizia-se ainda que ele estava se tão bem na guerra que talvez em breve fosse promovido a cavaleiro real, o que era raro. Por que seu pai estava tão aficionado com a guerra, era uma questão que Nicholas não sabia responder. Que ele estivesse se saindo bem era ótimo, mas daí ignorar completamente a morte do filho sem enviar sequer uma resposta? Nicholas cansou de esperar que seu pai enviasse uma resposta plausível e resignou-se a ficar ressentido.

Outra pessoa com quem Nicholas também estava ressentido era Cecily, cuja última vez que vira fora no serviço de sétimo dia de Geoffrey. O que mais o deixava chateado é que ao longo dos anos, outras pessoas faleceram na vila e não fora ela quem veio buscá-las, mas um sujeito bem menos atraente. Sim, Nicholas reconheceu outro ceifador, que veio buscar a senhora Cooper, uma mulher de quase 80 anos. Aparentemente ela morreu de idade avançada. Foi apenas cinco anos depois, quando Nicholas contava com 14 anos, que ele viu Cecily novamente na pacata vila da Bampton.

O ano era 1343 e Nicholas voltava da floresta de Cotswolds com algumas lebres para a ceia, quando avistou ao longe a vasta cabeleira negra de Cecily e sua aura que lembrava a lua crescente. Ela vestia azul naquele dia e se dirigia ao lado norte da vila, parecendo não ter notado que Nicholas a seguia. Não era noite ainda. As ruas ainda tinham pessoas o suficiente para atrasar o rapaz, que esbarrava aqui e ali nos transeuntes tentando não perder a ceifadora de vista. Cecily, porém, parecia passa por entre as pessoas como a água passa por entre as pedras do rio. Até que ela parou. De longe Nicholas observava. A mulher tocou o bracelete de prata com a pedra roxa e este emitiu uma luz púrpura que formou um rosto e algumas palavras. Como Nicholas não sabia ler, não entendeu nada do texto que apareceu, mas reconheceu o rosto. Era Joan Taylor, terceira filha do alfaiate da vila e que estivera doente nas últimas semanas. A garota tinha a idade de Nicholas. Ele correu e ficou do lado de Cecily, que apenas sorriu.

- Olá, garoto! - ela disse, sem tirar os olhos do rosto projetado pela luz do bracelete.

- Você demorou! Eu vi um outro ceifador, mas... eu não falei com ele, não parecia ser alguém legal igual você!

- Eu sou legal? - Ela sorriu pra ele - Você cresceu bastante desde a última vez que eu te vi, garoto!

- Você foi legal comigo, ué. E eu cresci porque você demorou. Faz cinco anos!

- Tudo isso? Parece que foi ontem.

- Não foi! Aliás, essa aí... é a Joan... Veio pra levar ela? - ele disse preocupado

- Sim... Olha, tem gente na rua ainda, e eles estão vendo você falar sozinho...

- Ah ok, entendi. - Nicholas disse constrangido.

- É a hora dela, não me leva a mal... É meu trabalho... - Nicholas concordou com a cabeça. - Você... vai entrar?

- Eu vou entrar, vou visitar a Joan. - disse ele sem jeito, batendo na porta. Apenas quando ouviu o barulho dentro da casa é que se deu conta do que fizera.

Elo mortalOnde histórias criam vida. Descubra agora