Capítulo 8

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https://youtu.be/ZcVmS-YMM4Q?si=XeMDrr3pCt7J7Swu

     O sol rabiscava as cortinas da janela, filtrando uma tênue luz dourada que iluminava o rosto de Selene. Ela abriu os olhos calmamente, sentindo a maciez das roupas de cama e o leve aroma de incenso. Ao seu lado, Ettore dormia profundamente, seus músculos definidos relaxados pelo sono, ela observou por um breve momento a tranquilidade no rosto dele, e sorriu de forma sutil.

     Se espreguiçou, deixando o tecido escorregar por sua pele. Cada gesto era feito com calma, sem pressa ou urgência. A sensação do lençol fresco sobre a pele quente do sono era confortante, mas o dia chamava. Ao caminhar até o espelho, passou os dedos pelos cabelos dourados, que caíam soltos sobre seus ombros, e limpou seu rosto.

     Escolheu um vestido de linho escuro, com detalhes sutis bordados à mão, a seda da veste deslizou suavemente por seu corpo enquanto ela a vestia, com seus dedos ajustando as dobras. Diante de seu retrato prendeu os cabelos em um penteado simples, deixando alguns fios soltos para emoldurar o rosto. O toque final foi uma pequena joia de família, um pingente antigo que sua mãe, Rhea, lhe dera anos atrás, como um amuleto de proteção. 

     Selene terminava de ajustar os últimos fios quando percebeu um leve movimento vindo da cama. No reflexo do espelho, viu Ettore se remexer lentamente, acordando do sono que o mantinha tranquilo. Ele abriu os olhos preguiçosamente, e seus músculos, ainda relaxados pela noite, esticaram-se à medida que se espreguiçava, seu corpo nu revelava cicatrizes profundas e longas.

     Por um momento, seus olhos se encontraram no refelxo, e um sorriso brincalhão surgiu nos lábios dele; "Já tão cedo, minha rainha?" Sua voz rouca pelo sono era suave, carregando uma intimidade rara, reservada apenas para aqueles momentos em que estavam longe dos olhos alheios.

     Selene virou-se, apoiando-se levemente na pia; "O reino não espera. Mas isso não significa que eu não possa aproveitar a calma do início do dia." Ela caminhou de volta até a cama, observando como ele ainda se mexia com preguiça. Ettore, ainda deitado, esticou um braço em sua direção, os dedos brincando com a ponta de seu vestido. "Você tem uma habilidade única de parecer imbatível mesmo nas manhãs mais tranquilas."  Selene riu, inclinando-se para beijá-lo de leve na testa. "Acho que puxei isso de minha mãe. Mas ainda temos alguns minutos antes que o conselho me chame. Aproveite o descanso. Seu dia também será longo."

    Ettore a puxou levemente, como se quisesse prolongar o momento, mas soltou-a logo em seguida. "Estarei ao seu lado, como sempre."

–  Sei disso, meu amor. – Ela se virou e caminhou em direção à porta. Ao sair de seu quarto, se deparou com um longo corredor adornado com tapeçarias e estátuas. 

     Ao cruzar os grandes portões de madeira que levavam à sala do pequeno conselho, sentiu o cheiro familiar do carvalho envelhecido e da cera das velas que ainda ardiam nas paredes. A sala estava vazia. Selene deslizou os dedos pela superfície da mesa, observando o reflexo do sol nos mapas e pergaminhos espalhados. Ela se sentou na cabeceira, deixando seus olhos vagarem por cada detalhe do lugar. 

     A primeira a chegar foi Rhea, sua mãe e conselheira, cuja postura altiva e olhar perspicaz sempre foram intimidadores. Suas vestes elegantes e discretas, em tons de preto escuro. 

Você está sempre à frente, Selene, – Comentou com um sorriso discreto, sentando-se ao lado da filha. 

– Aprendi com você, – Respondeu com um olhar firme, mas com um toque de afeto. 

     Pouco depois, o ministro da guerra, Alexander, entrou, como sempre; suas feições endurecidas e a postura rígida. Sem perder tempo com cumprimentos formais, ele colocou alguns pergaminhos sobre a mesa e sentou-se, já mergulhado nos detalhes que precisavam ser revistos. 

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