Capítulo 9

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https://youtu.be/nDXQ4lR0Les?si=T6JrdOfKsLItf6rM

     No reino de Blar, próximo ao Centro de Comando do Oeste, a manhã começava cinzenta e neblinosa, cobrindo o campo de treinamento. O frio parecia grudar nos ossos dos recrutas, endurecendo seus músculos já cansados, enquanto suas respirações criavam nuvens de vapor no ar. Ao longe, o som rítmico de tambores marcava o início de mais um dia de tortura disfarçada de treinamento.

    Estavam ali há semanas, talvez meses, mas cada novo dia parecia esticar-se em uma eternidade. Entre os gritos dos instrutores e o estalar dos chicotes, havia uma única certeza: o Império não aceitava fraqueza.

De novo! – O preceptor gritava, sua voz firme como aço. Os noviços, exaustos, mal conseguiam sustentar suas espadas. Alguns cambaleavam, mas ninguém ousava cair. Qualquer sinal de debilidade era recebido com violência imediata. Dois soldados haviam sido arrastados para fora na última semana e nunca mais foram vistos. Ninguém perguntava o que acontecia com eles.

    A prática de combate corpo a corpo não era sobre técnica; era sobre resistência, sobre aprender a lutar mesmo quando o corpo implorava por descanso. O clangor de lâminas, embora comum, escondia a dor e o medo em cada golpe. Cada um suava e sangrava, mas nenhum parecia capaz de parar. 

    Um jovem chamado Jaxon, recém-recrutado, mal conseguia manter a espada em pé. Seus dedos estavam cheios de bolhas rompidas, o sangue se misturava ao suor em suas palmas. O oponente à sua frente, outro recruta com olhos vidrados, avançou com um jogo de corpo. O jovem instintivamente recuou, mas a força o jogou para trás. Ele tropeçou, os joelhos dobrando-se com o impacto.

    Antes que pudesse se levantar, sentiu o impacto do cabo da espada do instrutor em suas costas. "Levanta, verme! Ou acha que o inimigo vai te dar uma segunda chance?" Jaxon forçou-se a ficar de pé, o corpo implorando para desistir.

    À distância, os sons dos chicotes estalando contra a pele ecoavam pelos campos. Alguns deles não estavam no treinamento de combate direto. Estavam presos a blocos de madeira, forçados a carregar peso em circuitos intermináveis. 

A disciplina era rígida, brutal, como o sistema que serviam.

    Em meio à impetuosidade, um dos recrutas parecia se destacar dos outros, mas não pelos motivos mais óbvios. Enquanto a maioria cambaleava, ele continuava, com uma tenacidade que ultrapassava o puro instinto. Seus movimentos eram contidos, disciplinados, mesmo que o corpo estivesse no marco. Ele mantinha o ritmo, o olhar fixo e impenetrável, quase como se estivesse distante, imune à dor que consumia os outros.

    Quando o preceptor, um homem de rosto endurecido, passou, lançou-lhe um olhar curioso, mas não disse nada. Esse recruta não era o mais forte ou o mais rápido, mas possuía algo que o diferenciava. A cada impacto da espada contra a de seu oponente, parecia menos interessado na força bruta e mais focado em economizar energia, desviando golpes, absorvendo a força sem se quebrar. Ao contrário de Jaxon, que ainda lutava para recuperar o fôlego após ser repreendido, esse jovem mantinha a postura, seus músculos estavam encharcados de suor e hematomas.

    Em um intervalo breve do treinamento, todos foram mandados para carregar sacos pesados, alguns cheios de pedras, outros de areia, num circuito longo. Muitos tropeçavam, caíam de joelhos, ou mesmo desmaiavam de exaustão, mas ele, o recruta silencioso, avançava com o mesmo ritmo constante. Aos poucos, os outros começaram a notar. Ninguém ousava falar, mas observavam como ele se mantinha em pé quando os outros caíam. Os olhares eram de ódio e inveja. O preceptor, finalmente, aproximou-se;

Você. – A voz era baixa. – Qual é o seu nome? – O jovem parou, os ombros subindo e descendo enquanto recuperava o fôlego. Havia um silêncio incômodo enquanto os outros esperavam sua resposta. Levantou os olhos, firmes, como se estivesse pesando cada palavra.

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⏰ Última atualização: Sep 19 ⏰

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