Até o som acabar | 2yeon fic

2. Guerra fria.

Nunca me achei introvertida, pra ser a vocalista de uma banda o mínimo era saber falar com o público, eu sei que sou persuasiva e carismática. Eu acho que sou, pelo menos.
Algumas pessoas acham que podem falar o que pensam sem pudor, e isso seria sinceridade. Não, isso é ser presunçoso. Soberbo. Miyeon é assim. Desde que Nayeon e ela se juntaram, jurei que não ia deixar nada que viesse desse tipo de gente me atingir, mas as marcas que fazem na gente sempre deixam cicatrizes difíceis de sarar, não cuidar tão bem de um machucado pode fazê-lo abrir... Enfim, metáforas.

Morar em uma cidade com praia é bem legal, sendo adolescente mais ainda, depois da escola é quase impossível ninguém querer vir pra cá. Claro que em cidades litorâneas a maioria das pessoas quase nunca entram no mar, sei lá, coisa nossa, mas vir aqui e sentar pra conversar, resenhar, pode ter certeza que sempre vai ter uma roda dessas pela areia.

Eu costumava vir à praia principal com Nayeon, fazíamos apostas de quem conseguiria correr mais rápido até o farol, catávamos conchinhas na areia para fazer presentes de dia das mães juntas, eu pra minha e ela pra vovó Im. Andávamos sempre pela orla na volta da escola. Olhando pra calçada agora, quase consigo nos ver ali apostando corrida, como se o tempo não tivesse passado.

Fantasmas.

O pessoal aqui sempre está com biquíni por baixo da roupa, como se fosse um acordo que roupas íntimas são para impressionar namorados ou se você for viajar. Bom, pelo menos todas as meninas estão deitadas nas toalhas - um item indispensável para as mochilas escolares em uma cidade litorânea - e tomando o sol das três da tarde, dizem que é o mais perigoso, mas o clima está bom.

- Você não parece muito feliz - uma garota de cabelo roxo curtinho senta ao meu lado um pouco mais distante do pessoal - Tzuyu, prazer!
- Jeongyeon - digo - Você é amiga da Chaeyoung? - ela afirma com a cabeça.
- Vim pra cá ano passado.
- Legal, tá curtindo? - pergunto sem muita vontade de conversar.
- Cidade e escola nova no terceirão... O que você acha? - sua risada é estridente mas contagiante, rio junto, realmente não é a melhor situação - Você tem uma banda então?
- Tenho sim, como você sabe? - pergunto curiosa.
- Todos sabem quem você é, Jeongyeon, acredite... - ela responde gentil - Você é famosa, já ouvi vocês no Paraíso.

O Paraíso é nosso bar preferido, é o único bar diferentão da cidade, todos acabam aparecendo por lá uma hora ou outra e o terceirão geralmente vai em peso nas sextas-feiras.
Tem karaokê, sinuca, alguns jogos arcade e música ao vivo, o Cabeça, primo da Jihyo e dono do bar, sempre deixa a gente se apresentar uma vez ou outra.
Tzuyu elogia as letras autorais, conto que sou eu quem compõe e ela diz que também adora escrever fanfics. Sim, ela escreve fanfics e até me mostra o título de umas duas ou três, acho divertido.

- Vocês vão tocar de novo algum dia desses?
- Não tem nada marcado, mas pretendemos sim. - respondo - Você vai estar lá?
- As meninas não levam tão a sério quanto você, né? - a pergunta me atinge forte - Desculpa, é que parece que...
- Música é mais importante pra mim do que qualquer outra coisa... Deve ser isso - digo com pesar - Nem todo mundo leva a sério uma banda de garagem.
- Eu acho que você tá certa - Tzuyu olha fundo nos meus olhos, como se lesse algo em meu futuro - Você deveria levar a sério mesmo, é o seu destino.

Não respondo dessa vez, só sorrio contente, certa de que por mais que eu gostaria que isso fosse verdade foi meio bizarro ouvir desse jeito, do nada. Trocamos nossos números e ela volta a se juntar com Chaeyoung e as outras meninas.
O trio de insuportáveis e minhas amigas conversam sem hora pra acabar o papo, me encosto numa palmeira mais afastada e tiro um cochilo.

O sol se põe devagar, a água do mar azul começa ficar laranja, Tzuyu, Chaeyoung e as outras duas meninas já não estão mais aqui, vejo Sana e Jihyo brincando de pega-pega na beira do mar.
Respiro fundo e procuro na minha mochila um cigarro avulso que jurava estar aqui.