Eu não te odeio.

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Nunca gostei de enredos que envolviam mal entendidos. Quando lia livros em que os protagonistas não se tocavam das coisas que aconteciam porque não conversavam, me dava nos nervos.

Agora entendo como é real.

Meus sentimentos estão completamente embaralhados, são tantos pontos de interrogação sobrevoando minha cabeça, eu simplesmente não consigo fazer as coisas serem claras. Desde a última ida ao Paraíso, Sana me liga constantemente, o que são 3 dias seguidos desde então.

Estamos na semana de carnaval, portanto sem escola, isso alivia não ter que encarar nenhum dos meus problemas frente a frente por enquanto.

Fico assistindo pelas redes sociais todos meus amigos postando em bloquinhos de carnaval se divertindo, inventei uma gripe pra poder escapar dos convites e não receber visitas também. Hyo e Sana sempre me conheceram tão bem, que estou estranhando não terem batido aqui na porta de casa ainda.

Mensagem - Momo Hirai

Hirai: Ei, jeong?
Hirai: tenho reparado que a Jiji não tá muito legal esses dias e acho que ia curtir uma visita tua, sei lá
Hirai: Chamei ela pra ir no bloco das sereias, sabe?
Hirai: Hoje a tarde
Hirai: Começa lá pelas 14h, concentração vai ser na praia principal
Hirai: Convence ela a ir, por favorzinho 🥹
Jeongyeon: oi mo blz? vou ver oq posso fazer
Jeongyeon: bjs

Por falar na Jihyo, é um dos problemas que estou tentando não encarar, ela aparentemente ficou bem chateada por não ter contado sobre o envolvimento com Sana, bem mais brava comigo do que com ela pra falar a verdade. Parece brincadeira.
Jihyo é minha amiga a tempo suficiente pra eu conseguir passar por cima de uma dor de cabeça e ressaca moral qualquer.

Respiro fundo antes de encarar o longo caminho até o final da rua, casa 102.

Passávamos horas no quintal, os pais dela construíram quase que um parque de diversão pra nós quando crianças ou pelo menos parecia um parque quando éramos 20 centímetros menores do que hoje. Abro o portãozinho branco de madeira e reparo no balanço abandonado e enferrujado, lembranças de quando dividíamos tudo, inclusive segredos. Antes de bater na porta reparo no lixo de fora cheio de rosas vermelhas e mais alguns papéis amassados caindo pelos cantos, alguém teve um coração partido por aqui.

Bato na porta com receio.

Quem me atende é uma Jihyo com a cara mais fechada que de costume, nós duas parecemos competir pra ver quem está num estado pior.

- Oi. - Jihyo não é um amor de pessoa, mas também nunca me tratou mal, o tom da sua voz indica que é uma péssima hora pra eu ter aparecido - O que foi?
- Oi... - tento fazer uma aproximação cautelosa, digamos - É assim que você atende sua melhor amiga? Vamos tirar um tempo, vai... Que cara feia! Aposto que melhora se eu acabar contigo no FIFA.

Entro mesmo sem ser convidada, sei que seus pais não estão em casa pelo carro que não está na garagem, imaginei que pela sua cara de poucos amigos ela me arrancaria daqui de dentro com uma mão só, mas tudo que ela faz é fechar a porta com muita força.

- Alguém teve uma desilusão amorosa então? 
- Que? - ela responde assustada.
- As rosas no lixo, muitas rosas... Você e a Momo...?
- Ah! - ela suspira aliviada - Não, é que... Meus pais brigaram, mamãe ficou chateada e jogou tudo fora.
- Entendi... Estranho... Seus pais são tão apaixonados.
- Acontece. - Jihyo senta no sofá ligando o ps5.
- Pensei que não fosse nem me deixar entrar, o negócio do jogo era brincadeira... - digo com medo.

Quando brigávamos nossos pais sempre resolviam da mesma maneira: ficávamos trancadas no quarto juntas até fazer as pazes. Acho que a tática funciona até hoje, depois de algumas partidas, até rimos juntas.

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⏰ Última atualização: Sep 21 ⏰

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