act 1. ᨳ - capítulo três

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tocando agora: evening glow - wave to earth

se eu me sentir quebrado,
você vai me encontrar
aquelas palavras inúteis estavam
se desfazendo em mim
estou lutando no meu mundo.

pov uraraka
sexta feira, segundo dia

– Você tá bebendo água direitinho, meu amor? Não esqueça que são dois litros por dia – ouvi atentamente as palavras do meu pai, sorrindo como boba com o telefone grudado ao ouvido.

Algumas coisas nunca mudam. Eu ligo pros meus pais a cada dois dias, e mesmo assim, eles fazem as mesmas perguntas. Acho isso tão fofo da parte deles, sério. A atenciosidade e cuidado que eu tenho diariamente é um privilégio, sei bem disso. Ter pais presentes é o maior presente que eu tenho na vida. Saber que uma família me recebe de braços abertos e apoia meus sonhos é tudo que tem me motivado até agora. E eu juro que, toda vez que ouço a voz deles na linha, meus lábios se curvam de forma automática em um sorriso.

– Tô sim, Papa. Não se preocupa, ok? Estou inclusive esquentando meu almoço nesse momento – ri nasal, colocando a água morna na embalagem do Cup Noodles.

– Ochaco, você sabe que pode ser sincera conosco, não sabe? Sua voz parece tão cansada e fraca, meu amor... está pegando pesado? – as palavras de minha mãe me acertaram como uma flecha, bem no meio do meu peito. Mãe é mãe. Elas sempre percebem.

– Estou me esforçando e tentando respeitar meus limites, tá? Te prometo! – ri casualmente, tentando abaixar a poeira. – Como está a Moki? Estão alimentando ela como eu pedi?

– Ah, filha, sabe como é. A Moki é sua gata, não é a mesma coisa quando cuidamos dela. Ela anda tão cabisbaixa, até mesmo dorme na sua cama pra sentir seu cheirinho. Mas estamos fazendo exatamente como nos pediu.

– Ok, Papa... – A única palavra que me define agora é saudade. Estou morrendo de saudades, e não quero guardar isso. – Estou morrendo de saudade de vocês – funguei, tentando me livrar do nó na garganta. – Eu amo vocês, ok?

Tentei me acalmar, respirei fundo guardando a chaleira de volta no fogão, e misturando o macarrão instantâneo com os hashis. Meu Deus, meus pais me trazem um sentimento absurdo de bom.

– Também te amamos, nossa pequenina. Promete nos visitar assim que puder? – perguntou Mama, com uma voz chorosa.

– Prometo.

...


O silêncio na mesa está bem absurdo, ao contrário da ligação que eu estava fazendo alguns minutos atrás. Me despedi de meus pais, desliguei e me sentei à mesa com o Gun Head, o herói responsável por meus estágios desde o ano retrasado. Ele está bem caladão, o que é estranho. Normalmente, o pro-hero é comunicativo. Uma vez, conversamos sobre tipos de baleias enquanto almoçávamos. Mas, bem... hoje ele nem sequer abriu a boca, ou perguntou o sabor de Cup Noodles que eu escolhi.

– Sabe de uma coisa? Ontem eu estava rolando nas redes sociais e vi uma foto dos seus amigos em uma chácara. Eles foram mesmo? – ok, deixa pra lá. Foram só alguns minutos de silêncio.

– Foram, sim. Fazem só alguns dias que partiram. Eles parecem estar se divertindo bastante, né? Estou feliz demais por todos eles – eu sorri gentil, enrolando o macarrão no hashi.

INEFÁVEL | Izuocha Onde histórias criam vida. Descubra agora