Prefácio

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Prefácio

O dia amanhece como qualquer outro, trazendo novas oportunidades e esperanças para um universo que se inicia repleto de luz e tranquilidade, esse pensamento seria de uma pessoa que teve uma noite calma, contudo este não é o caso de Isis Florence.

Sentada e encolhida em um canto do quarto escuro em que se encontra, tenta em vão controlar suas lágrimas que escorrem involuntariamente por seu rosto. O quarto está completamente escuro apesar do dia já ter amanhecido e a única coisa que o clareia é um vão pela janela que fica exposto devido à cortina rasgada.

O quarto está totalmente empoeirado, mesmo tendo alguém que resida ali, é como se estivesse sempre vazio. A sujeira e o mau cheiro se exalam ficando cada vez mais difícil de esconder o que aconteceu, parece que alguns segredos ficaram expostos.

O telefone da pobre garota volta a tocar, ela não consegue distinguir a quanto tempo está presa neste quarto, seu coração dispara e um suspiro escapa de seus lábios quando nota o nome de sua amiga e protetora surgir na tela de seu aparelho.

Pensa em não atender, mas sua vontade de colocar um fim a toda essa loucura aumenta e antes que consiga finalmente pensar, suas mãos agem por conta própria e rapidamente o telefone encontra-se em sua orelha.

— Aconteceu de novo – diz chorando.

É difícil reconhecer a sua voz, no entanto para a mulher do outro lado da linha que, está a todo o momento acompanhando-a isso não parece complicado, pois a conhece muito bem.

— Respira Isis, tudo vai ficar bem – fala para tranquilizá-la.

— Não vai não, eu preciso sair daqui, urgente. Por favor, Ágata me ajude – implora.

Sua protetora suspira do outro lado da linha, sua preocupação chega a desesperá-la, já pensou em diversas possibilidades de fazê-la curar-se disso, mas hoje, em uma manhã de inverso ela sentia que estava finalmente fazendo a coisas certas, por mais arriscado que fosse.

— Hoje não, Isis – murmura e a outra faz um silêncio que chega a ser dramático, mas não comove nem a si mesma.

— Por que esta dizendo isso? – questiona confusa.

— Eles vão continuar atrás de você se fugir, eu tenho um plano e ele vai iniciar em alguns minutos – informa enquanto olha o relógio de forma rápida.

— Eu não entendi, sobre o que está falando? – insiste sentindo sua pulsação aumentar.

— Bom você será a vítima dessa vez. Terá que se livrar do celular, eles não podem desconfiar do que contar. Isis, é possível ver em ti uma menina doce, use isso ao seu favor e os convenças de que é a apenas uma namorada que não esperava passar por isso – orienta enquanto calça os sapatos.

Por um período curto de tempo o silêncio fica entre elas, Ágata acredita que a decisão que tomou é a melhor, independente se vai dar errado ou não e Isis não consegue pensar em nada enquanto o corpo em decomposição parece estar olhando para ela.

— Você não pode estar fazendo isso – sussurra, tentando em vão controlar a emoção que a domina.

— É o melhor, acredite em mim – pede tentando não desistir de sua ideia brilhante.

— E se não der certo, se me pegarem? O que eu farei se isso acontecer? – indaga aproximando-se da janela e notando que estão em um dos andares mais altos, sendo impossível pular e sobreviver.

— Se não os convencê-los estará sozinha, então sugiro que capriche na interpretação – diz a outra parecendo não se importar tanto com o drama.

O fato é que ambas estavam cansadas dessas histórias, Ágata necessitava de um tempo para cuidar de si mesma e de sua carreira e Isis queria algo mais concreto do que a insegurança que mantinha em seu peito, mesmo que agora e em alguns momentos quisessem negar, está é uma chance única.

— Eu não posso mais Isis, já fiz tudo o que podia – confessa parecendo cansada.

— Ágata, por favor – suplica.

A protetora olha para o chão, sente as lágrimas invadirem seus olhos, mas consegue se controlar tão bem que parece que voltam para dentro de seu corpo, ela respira fundo sabendo o que deve fazer.

— Sugiro que grave o número do meu celular, eles vão querer que ligue para alguém e eu sou sua melhor opção, agora vá ao banheiro e jogue o aparelho dentro da caixa de descarga, volte ao lugar em que estava e continue chorando, estado de choque é a melhor opção – diz e respira fundo. — É melhor apressar-se, eles estão subindo – orienta-a e desliga a ligação.

Por alguns minutos Isis manteve o telefone em seu lugar, por mais que tentasse não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Ágata jamais a trairia, essa era sua certeza, no entanto não se sentia tão confiante para fazer o que era necessário. Somente caiu em si quando percebeu que tinha alguém na porta, rapidamente foi para o banheiro, ouviu a porta sendo destrancada, não sabia identificar como é o som da porta e o do seu próprio coração que agora parecia desregulado.

Quando a porta começou a ser aberta, ela jogou-se ao chão e voltou a chorar, contudo mais retraída e tentou não emitir nenhum som, em sua mente despreparada ficando dessa forma seria mais fácil de acreditarem em estado de choque.

A porta foi arremessada e homens uniformizados começaram a entrar, eles olhavam para todos os lados e quando depararam-se com a cama, não puderam deixar de notar o homem jovem encarando-os, mas no fim aqueles lindos olhos verdes já não tinham mais vida.

Ela permaneceu em seu lugar, encolhida chorava baixinho e antes de se aproximar o policial já estava penalizado, realmente tinha sido mais fácil do que pensará.

— Você está bem? – indaga o oficial.

Ela tentou abrir os seus lábios e lhe dizer algo, no entanto nenhum som foi emitido, as lágrimas não cessavam e o terror dançava pelo rosto da jovem, isso fez com que o profissional quisesse protegê-la, afinal com um rosto tão angelical não podia ser diferente.

— Onde está o seu celular? - questiona, mas ela continua em silêncio. — Vou lhe entregar o meu celular e marque um número que poderei falar com alguém para vir ficar com você, tudo bem? – indaga e Isis confirma com a cabeça.

Como prometido, o número de Ágata é discado e o policial conversa com ela, quando confirma que ela irá, ele desliga o telefone.

Os demais policiais passeiam pelo quarto, não conseguem encontrar algo que denuncie a presença de mais alguém ou algum sinal de luta, tudo o que podem ver, são duas bolsas grandes e um pouco de bagunça, no entanto eles permanecem sem resposta para tudo.

— Nós temos uma vitima aqui – assume o oficial.

Levanta-se e vai em direção ao corpo, buscar por alguma resposta, ele sabe que não podem falhar, no entanto nada fica claro, realmente parece que ele morreu de forma natural.

Ágata chega e isso é quase impossível de não notar, a mulher possui uma postura impecável além da beleza que faz com que se destaque em qualquer lugar que vá.

Ela caminha em direção a sua amiga, que por sua vez, levantasse rápido e a abraça ficando com a cabeça em seu ombro e podendo encarar a porta que é por onde deseja ardentemente passar.

Após alguns minutos Isis vê um homem chegar, ele não usa os uniformes da polícia, mas pela forma que conversam sabe que trabalha com eles, observa-o falando sobre o corpo no mesmo momento em que olha para a cama.

Seu corpo estremece, fazendo com que duvide de sua própria sanidade, acredita que sentiu cada pelo de seu corpo se arrepiar e a secura em sua garganta mostra que tem algo errado.

Tenta desviar o olhar, contudo sente que algo a impede e quando ele olha em sua direção, aqueles olhos cor de mel a hipnotizam.

Ele se sente da mesma maneira, não compreende como pode se sentir atraído por uma mulher de maneira tão rápida e em um lugar tão inusitado, mal sabem que esse olhar marcou seus destinos que a partir deste dia se transformará em um só.


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