Gabriel 11/12/2023
Observo de cima do guarda-roupa Gael levantar da cama. Ele parece cansado e pra baixo como sempre. Observo ele saindo do quarto, sigo ele, caminhando lentamente...
—Bu! — Grito puxando Gael que apenas me joga para longe— Não leva mais susto? — Sorrio para Gael que apenas abaixa o rosto— O que aconteceu?
Gael mais mudo que tímido sem língua sai da cozinha e vai para a sala. Do micro-ondas ouço pipoca estourando.
—Vai comer pipoca dez horas da manhã!?
Ele realmente está triste.
Em silêncio chego ao lado dele no sofá e fico olhando seus olhos até ele ficar agoniado e me empurrar.
—Vai, me conta logo o que tá acontecendo.
Gael continua em silêncio e só depois de encarar ele de novo ele responde.
—Ontem a noite foi tão boa— Sou pego de surpresa, não sei porquê, mas é bom saber que ele gostou, é aconchegante.
—Isso é bom, não é?
—É, mas é que... Fiquei tão feliz— Abro a boca para falar, mas paro quando Gael volta a falar— Tenho medo de vim algo ruim, sempre quando fico feliz algo ruim acontece.
—É normal— Digo— A vida é uma montanha russa, não ache que vai ser sempre feliz, você tem que parar de achar que só porque está feliz vai vim algo ruim.
—Você sempre foi filósofo— Ele ri um pouco.
—A morte te faz pensar muito...
13/12/2023
—Como você acordou com o cu virado pra lua vamos planejar a terceira meta. Tem um shopping perto do que a gente foi que tem um piano.
—Tá bom.
A resposta foi fria, preferi ficar em silêncio.
O sol entra pela janela, iluminando Gael que está sentado no piano, as mãos nas teclas, mas ele não consegue, ele não toca. Ele leva a mão a cabeça, parece estar com dor. Ouço a porta abrir, o pai do Gael se aproxima dele e o abraça, ele fala:
—Você vai conseguir!
Gael se levanta e abraça o pai, um abraço carinhoso e Gael está feliz e animado. Respiro fundo, as vezes um abraço seria bom, mas meus pais...
Olho para Gael que vai para o quarto se deitar, o abraço do pai o ajudou, tenho uma ideia que o vai motivar, ele vai gostar.
14/12/2023
—Afasta— Digo me deitando ao lado de Gael— Sábado, você está pronto?
—Sim— Gael se vira e começa a me olhar— Você vai estar lá para me incomodar e atrapalhar com sua presença?
—Com certeza— Continuo deitado na cama, lentamente Gael se aproxima e deita sobre mim, sua cabeça sobre meu peito.
Por que eu menti tanto quando era vivo? isso é tão bom.
15/12/2023
Não durmo. Fiquei a noite vendo Gael dormir. Mesmo dormindo ainda dá vontade de apertas essas bochechas gordas, mas... Não posso me apegar, não posso deixar ele se apegar, não vamos ficar juntos por muito tempo. Olho para Gael que ainda dorme sobre mim.
—Por que não te conheci quando era vivo...
Gael se mexe e começa a abrir os olhos, lentamente olha para cima, piscando até se acostumar com a luz do sol. Abro um sorriso quando seus olhos encontram o meu e ele faz o mesmo, logo bagunço seus cabelos ondulados.
—Bom dia— Digo
—Bom dia
Vai ser difícil.
—Pipoca de novo? O que aconteceu?
—Nada, apenas quero assistir um filme, com você...— Gael trava, com medo, receio e arrependido do que disse—Descul...
—É claro— Digo atropelando o que ia falar— Já assisto mesmo sem ser convidado.
Gael dá um sorriso tímido e vamos para o sofá. O filme que ele escolheu foi a fantástica fábrica de chocolate, mas depois de falar que ele já assistiu esse filme pelo menos dez vezes só nessa semana ele aceitou assistir outro. O nome desse é "E se fosse verdade", ainda não queria assistir, mas ele já tinha colocado.
O filme começa, estamos lado a lado. Ignoro o filme, é um clichê romântico, é ruim.
Sinto Gael se aproximar, me estremeço, fico parado observando ele olhar discretamente pra mim, volto o olhar pro filme. Começo a assistir e a gostar, é estranho e curioso. Continuo assistindo o filme e Gael, ele paralisou e parece estar ansioso, sua mão no sofá, coloco minha mão sobre a dele. Sinto ele arrepiar, mas suas bochechas ficarem rosadas.
O filme continua e a cada segundo que se passa gosto mais. Gael está com a cabeça no meu ombro, o pego e deito no meu colo, bagunço seu cabelo. Tudo, o filme, a pipoca, o momento, ele... É perfeito.
A vida pode ser mais que dinheiro.
O filme acaba e Gael se levanta, um pouco tenso, e direto ele pergunta.
—Você é um fantasma, como no filme?
Percebo que em todo esse tempo não expliquei o que sou, apenas fico invadindo sua casa.
—Não, sou um ladrão— Brinco, mas ele está sério— Sim, sou um fantasma, diferente do filme, pois estou morto.
—Mas por que você ainda está aqui?
—Não sei dizer, ainda tenho pendências para ir para o lugar bom, preciso aprender algumas coisas antes, por isso escolhi você, desde de antes percebi o quão perfeito você é e que aceitaria me ajudar, o barbante é a prova disso. Ele representa a nossa conexão, graças a ele você pode me ver e me tocar, enquanto você estiver com ele eu ainda vou estar aqui, nessa terra, do seu lado.
Gael quer chorar, mas segura e me abraça com muita força, o abraço de volta desejando mais desses momentos.
—Já sabe a música que vai tocar? — Pergunto ainda abraçado.
—Sei!—Diz com um sorriso no rosto— É surpresa.
16/12/2023
Gael está ansioso, está com medo, seu pai vai com a gente até o shopping e vai ver Gael tocando, isso o deixou pior. Ele não quer tocar, mas ao mesmo tempo ele fala e demostra querer.
Já sei!
Vou para a escrivaninha e pego algo. Sem Gael ver derrubo na mochila que vai levar, mas ele ainda está ansioso, logo, seu pai chama e vamos para o shopping.
Como em um sábado à noite o shopping está cheio, mas o piano está livre. Gael está sentado, as mãos apertando a calça e a respiração funda. Seu pai se aproxima.
—Se não quiser fazer isso, não precisa...
—Eu quero! — Gael fala— Só tô com vergonha.
Seu pai se afasta e o assiste. Me sento no piano e sussurro para Gael.
—Olha na mochila, trouxe algo pra você.
Gael curioso olha a mochila, ao se deparar com a foto da mãe seu rosto se torna triste, mas surge um sorriso acompanhado de lágrimas. Gael coloca a foto em cima do piano e respira fundo...
Meu abrigo, essa é antiga.
—♫Desejo a você. O que há de melhor♫— Quando Gael começa a cantar fico surpreso, sinto todos os meus pelos arrepiarem e não consigo tirar os olhos dele— ♫Você é a razão da minha felicidade♫— Gael abre os olhos e com um grande sorriso olha para o pai e para o retrato da mãe e, logo, olha pra mim—♫No seu colo é o meu abrigo♫— Estou curtindo a música, os olhos fechados, somente meus ouvidos estão funcionando. Me arrepio a cada frase e quando a música acaba estou em lágrimas.
Gael também abre os olhos e fica surpreso ao me ver chorando, mas não mais surpreso que quando vê toda a multidão que se reuniu em volta do piano batendo palmas. Abro um sorriso.
Tocar piano para pessoas diferentes.
Essa é três de quatro...

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Meu Ponto de Partida
RomanceA VIDA É CANSATIVA, A pressão externa e principalmente a que faz sobre si mesmo vai fazer Gael explodir! A morte da mãe, ser responsável, o fim da escola que vem acompanhado de não fazer mais nada, de ser um inútil... Gael precisa de... UM PONTO D...