Seis Mulheres Reais

Uma Mulher Julgada - Alice

"But my knees are blue
From kneeling to you.
But, honey, if I had to choose
The joke's on you."

— Joke's on You, Charlotte Lawrence.

Minha querida filha Iris,

Eu não queria que as coisas fossem assim, por favor acredite em mim quando eu digo que não. Espero que você encontre nessa carta uma explicação satisfatória — ou ao menos uma explicação — para o que eu fiz todos esses anos atrás. Por favor, independentemente do que ouvir, nunca pense que eu te abandonei por vontade própria: isso não passa nem mesmo perto da verdade. Nada me daria mais alegria do que ter você nos meus braços, nada me faria mais feliz do que o pensamento de ter criado você longe de Henrique Vidal e toda a corja dele.

Mas é melhor que eu comece a explicar:

Eu não sei o quanto você sabe, mas eu e seu pai no conhecemos desde pequenos — meus pais eram amigos próximos dos pais de Henrique e, depois que eu fiquei órfã, os Vidal me adotaram como parte da família deles. Durante toda a minha vida, esteve subentendido o fato de que eu e Henrique iríamos nos casar, tanto como um pagamento pela generosidade da família dele, quanto porque era o que todos esperavam que acontecesse mesmo antes da minha família morrer.

Eu não me importava muito, estava até animada para que acontecesse: até aquele momento, Henrique havia sido meu melhor amigo desde que eu era uma criancinha. Ele sempre fora amável, respeitoso, até mesmo divertido em algumas poucas ocasiões. Foi apenas quando eu conheci Jerome que eu comecei a questionar o caminho que todos pareciam estar escolhendo para mim.

Jerome Demetriou era um dos ingressantes mais promissores a serem aprendizes no escritório de Henrique, mas mais do que isso, ele também era de classe alta e, por isso, nós frequentávamos os mesmos círculos. Eu já o havia visto de passagem várias vezes, mas numa noite, durante uma social na casa de alguns amigos de Henrique, eu me senti particularmente sufocada por toda a baboseira que estava sendo proferida no lugar e precisei me ausentar para o jardim.

Jerome já estava lá, fazendo exatamente o mesmo que eu: evitando gente estúpida que não fazia ideia do que estava falando, exceto que para ele isso era basicamente todos aqueles que estavam presentes da festa. Claro que isso me ofendeu imensamente, mas eu fui esperta o suficiente para não mostrar isso e, em vez disso, ganhar dele em um debate apenas para mostrar que ele estava errado, pelo menos sobre mim. Jerome diz que foi nesse momento que ele se apaixonou por mim, mas as coisas que ele falou ficaram comigo e eu fiquei distraída durante todo o resto da festa. Esta foi a noite em que Henrique me pediu oficialmente em casamento.

Olhando para trás, eu acho que ele notou que eu estava me distanciando e usou o pedido de noivado como uma desculpa para me puxar para sua teia novamente, mas você pode pensar o que quiser, é claro. Essa é apenas a minha interpretação do que aconteceu.

De qualquer modo, durante meu noivado — que durou um ano e meio, já que eu ainda era menor de idade na época —, eu e Jerome ficamos muito amigos, próximos em muitos sentidos, embora só nos víssemos esporadicamente entre o escritório de Henrique e as sociais dos nossos amigos em comum. Mas o fato é que nós éramos perfeitos um para o outro e eu só não via que estava me apaixonando por ele porque tinha essa ideia de como o meu futuro deveria ser com o seu pai.

Uma semana antes do meu casamento, Jerome me procurou e se declarou para mim, pedindo que eu terminasse o meu noivado com Henrique e ficasse com ele. Com toda a honestidade, havia uma parte de mim que estava começando a pensar que eu talvez não fosse tão compatível com Henrique quanto eu era com outras pessoas, como Jerome — nós nunca tínhamos conversas tão interessantes, não tínhamos piadas internas, não tínhamos intimidade para falarmos sobre nossos sentimentos um com o outro. Para todos os efeitos, mesmo tendo crescido com ele, eu comecei a perceber que nós éramos apenas conhecidos, isso na melhor das hipóteses.