Crianças Perdidas

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ATENÇÃO

    Nessa história haverão cenas de violência explícita, assuntos delicados e possíveis gore que poderão gerar gatilhos ou desconforto. NÃO RECOMENDO PARA MENORES DE 16 ANOS.

Boa leitura (⁠。⁠•̀⁠ᴗ⁠-⁠)⁠✧


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- Este lugar, porquê estamos aqui?... Ah eu meio que me lembro um pouco, como tudo aconteceu.


     1:30 da manhã.

     Naquela madrugada enquanto todos normalmente dormiam, gritos de desespero ecoavam pela silenciosa noite. Em um apartamento no sexto andar de um prédio três crianças se escondiam em um canto do quarto assustadas, enquanto na sala um homem completamente bêbado descontava toda sua raiva em sua esposa.
     Uma situação que se repetia com mais frequência, quase como uma rotina, essa família estava em completa ruína, e tudo estava prestes a ter um fim.... Mas, não é aqui onde nossa história termina, aqui é onde ela começa.
   
     A mulher já cansada de tudo aquilo afinal quantas vezes mais ela precisava passar por tudo isso, em um ato de desespero corre para a cozinha na esperança de se defender, ela abre uma gaveta e tenta pegar uma faca, essa era a única maneira ela pensava. Mas já era tarde, quando ela se vira pra tentar mantê-lo longe o Marido enfurecido segura as suas mãos e em meio a uma briga de resistência a faca acaba enfiada no peito da mulher que aos poucos cai praticamente morta no chão.
     O silêncio volta naquela vizinhança, um silêncio sufocante e amedrontador para as três crianças que se encolhem no canto tremendo, até que uma voz é ouvida por elas através da porta.

- Ei crianças abram a porta para o papai.

     A voz soa doce e calma enquanto a maçaneta é girada de um lado para outro.
Com medo as três continuam paradas e bem quietinhas.

- Ivan abra a porta estou mandando.

     A voz por entre a porta parecia ficar mais irritada oque fazia com que os dois mais novos tremessem ainda mais enquanto se escondiam atrás de seu irmão mais velho

- Não se preocupem vai ficar tudo bem eu vou proteger vocês.
  Sussurra o menino enquanto puxa seus dois irmãos menores para a sacada do quarto e fecha a porta de vidro em uma tentativa de protege-los.

     A sacada do quarto das crianças ficava ao lado da sacada do apartamento vizinho, então caso o Pai deles tentasse entrar a ideia de Ivan era passar seus irmãozinhos para outro apartamento e depois passar também.

- EU DISSE PARA ABRIR A PORTA IVAN.

     O homem da um grande chute na porta enquanto grita, arrombando de uma só vez, ele olha para as crianças com um olhar de raiva com sangue em suas roupas enquanto segura a faca. – OQUE PENSSA QUE ESTÁ FAZENDO PIRRALHO – Diz ele indo em direção aos três.

     Em um momento de pânico o garoto começa a tentar passar segurando seus dois irmãos que estão completamente desesperados, ao fundo o som de sirene de polícia se aproxima, então quando ele esta quase conseguindo uma grande mão o segura fazendo com que perca o equilíbrio e caia em queda livre com seus dois irmãos agarrados nele.

     Aquele momento parece durar uma eternidade, ele vê a sacada se distanciando, as luzes de alguns apartamentos se acendendo, o choro de sua irmã mais nova ao seu lado, o som da polícia ecoando entre os prédios e o rosto de seu pai dominado pelo ódio enquanto caía.
     Os últimos pensamentos do menino Ivan era que ele não tinha conseguido proteger nenhum dos seus irmãos e nem sua mãe.
     Aquela noite antes silenciosa agora era tomado pelos sons de sirene e pessoas falando todas ao mesmo tempo, pessoas que não estavam lá quando eles precisaram...
     Para as três crianças apenas o silêncio finalmente era ouvido e na sua visão apenas a cor vermelha podia ser vista. Escuro e silencioso era assim que a morte devia ser para os três. Mas....

    Sussurros....
Eles podiam ouvir sussurros, difíceis de entender e muitos ao mesmo tempo ecoando.

- São eles não são?
- Parecem jovens de mais.
- tem certeza disso?
- não parecem fortes.

Diziam as várias vozes se entrelaçando de forma quase incompreensível, e de repente uma voz se sobressaiu.

- Ei crianças... ACORDEM.


     Nesse momento senti o ar voltando, eu estava acordando aos poucos e pude sentir um vento forte batendo contra mim, havia muita areia embaixo do meu corpo, mas com dificuldade comecei abrir meus olhos e aos poucos consegui ver um deserto. Assustado e meio atordoado, olhei em volta e meus dois irmãos estavam lá deitados começando a se mexer também. Olhei para meu corpo e não havia nenhum machucado.

- Ivan o que é aquilo?. Disse Mina minha irmãzinha mais nova.

     Olhei para direção dela, e ela estava olhando algo atrás de nós, quando me virei vi as ruínas de um grande castelo...
O castelo parecia antigo e até mesmo abandonado, os grandes muros que o cercavam pareciam estar caindo com grandes buracos  e não parecia haver pessoas em lugar nenhum além de nós.
     Em quanto eu estava observando os arredores ouvi um pequeno murmúrio, olhei para o lado e vi Aykos ainda sentado no chão, corri em sua direção para ver se ele estava machucado.

- Aykos você tá bem? - Eu disse me aproximando
- Onde a gente tá ? - Ele falou olhando em direção ao castelo com uma expressão assustada
- Não sei mais fiquem perto de mim.  Ajudei ele a levantar e dei uma olhada para ver se ele tinha algum ferimento.
- Acho que a Mina não consegue te ouvir lá de longe.

     Quando ouvi Aykos dizendo isso me virei o mais rápido que pude na direção dela, e lá estava ela praticamente  chegando perto ao portão do castelo em ruína.
     Segurei no braço do Aykos e comecei a correr o mais rápido possível em direção a ela, mesmo correndo nos estávamos muito longe e ela não conseguia me escutar gritando e continuava andando.
     Ao passar pelo grande portão uma vista um tanto melancólica aparecia, como um cenário de guerra, vários pedaços daquela grande construção com algumas armas e até mesmo oque pareciam ser partes de armaduras antigas. Nós andávamos mais devagar observando aquele ambiente que carregava uma áurea de solidão e medo.
    Após caminhar um pouco chegamos na porta do castelo, as portas eram grandes   com vários detalhes quase como  talhados nela, e elas estavam levemente aberta agora.

- Aquela pequena pestinha.
Falei olhando para a abertura na porta, Mina sempre aprontou muito e por isso Eu e o Aykos tentávamos manter ela na nossa vista, mas sempre acaba com ela sumindo pra algum lugar.
    Por outro lado Aykos parecia assustado e desconfiado, nesse tipo de situação eu preciso manter a calma, encontrar a Mina e depois pensar onde a gente veio parar.

- Não parece seguro entrar ai, e se desabar com a gente lá dentro?.
- Bom nós não podemos deixar ela lá sozinha não é mesmo ? Vamos rápido.
Disse enquanto começava a passar porta a dentro, Assim que entramos nossa atenção foi levada pelas varias esculturas em pedra, pareciam em perfeito estado assim como todo o interior, apesar de um pouco sujo aquele  salão não estava destruído como se esperava olhando por fora. Aos poucos fui guiando meu irmão que parecia assustado, enquanto andávamos por grandes corredores procurando aquela pequena começamos a ouvir a voz dela ao final de um grande arco de porta. Fomos caminhando cautelosamente e ao passar por aquele grande arco mais um salão dessa vez enorme aparecia, com várias esculturas de soldados que pareciam muito reais, e no centro um grande trono com a escultura de um homem gigante sentado nele parecendo um rei todo armadurado olhando de forma imponente para a porta onde estávamos.
     Próximo aos pés do enorme rei estava nossa criança perdida olhando atentamente para uma borboleta azul brilhante, que de forma majestosa flutuava acima dela.

- Mina, o que você tá fazendo aqui, eu disse pra você ficar perto de nós – Disse eu um pouco indignado.
- Olha Ivan ela está cantando.
- O que, quem.... não estou vendo mais ninguém.
- ali a borboleta, ela me trouxe aqui - dizia Mina olhando em volta seguindo os movimentos da pequena borboleta
- Pare com essas brincadeiras e vamos sair daqui, esse lugar vai cair a qualquer momento.
     Comecei a me aproximar dela em quanto puxava Aykos comigo, Mina parecia ainda concentrada mesmo comigo dizendo para ela que íamos embora, quando me aproximei e segurei ela pronto para sair daquele lugar uma doce melodia começou a soar quase como um leve sussurro.
     Como se estivesse nos acalmando, e um sentimento repentino de segurança surgiu, aquela melodia quase que nos dizia que estávamos seguros ali.
Aos poucos comecei a olhar em volta e agora aquelas grandes estátua que antes pareciam amedrontadoras agora me passava um ar de conforto como se cada uma delas estivessem nos protegendo... E eu não fui o único a relaxar, Aykos que parecia relutante quase como se fosse sair correndo a qualquer momento, começou a ficar mais calmo e relaxar os músculos que estavam extremamente tensos.
     Voltei a olhar em direção onde estava a pequena borboleta e sua doce melodia aos poucos foi se acabando, então ela flutuou ao nosso redor duas vezes antes de ir em direção a porta e sair indo embora.

- Já que estamos aqui é melhor descansar um pouco, está muito escuro lá fora, vamos esperar até amanhecer.

- Tem certeza Ivan? Não parece seguro – falou Aykos olhando para todos os cantos.

- Parece melhor que ficar lá fora já que nem sabemos onde estamos, pelo menos aqui é um lugar coberto.

- Eu gosto daqui, sempre quis morar num castelo, olha isso. – disse Mina animada com um grande pedaço de tecido nas mãos e um grande sorriso.

- Mina.... cuidado você vai acabar se machucando. – disse ele olhando pra garotinha e logo depois para mim – Você não acha melhor procurarmos outro lugar, tinham varias casinhas fora dos muros, esse castelo e se alguém achar a gente aqui?.

- Calma Aykos, você viu como estava tudo lá fora, parece que esse lugar está abandonado a muito tempo e tudo parece estar caindo aos pedaços, o castelo é o que tá em melhor condição... Vamos ficar aqui por hoje, não podemos colocar a Mina em perigo de novo.

     Nós olhamos na direção dela que parecia já ter se aconchegado em um canto daquele salão, enrolada nos tecidos que havia encontrado mais cedo, em um sono calmo e profundo. Era quase engraçado como ela parecia confortável, talvez depois de tudo oque nós passamos aquele chão duro e gelado era mais confortável que nossa casa, isso é tão triste... como uma pequena criança que deveria estar apenas brincando por ai estava agora deitada ali parecendo que aquela era a melhor cama que poderia querer.
Naquele momento senti uma onda de raiva e tristeza me invadir, isso não era justo, porque nós tínhamos que passar por tudo isso, o que de tão errado a gente havia feito. No fim aquele cara que nem ouso chamar de Pai estava certo, não importa para onde nós tentássemos correr ou nos esconder, sempre estaríamos cercados por tragédias sem direito de sermos felizes ou apenas crianças.
     Quanto mais pensava nisso mais aceitava que eu precisava proteger principalmente a Mina, já que eu e Aykos já tínhamos perdido aquele sorriso e alegria que Mina ainda mantinha, precisávamos proteger o resto de infância que ela ainda ia ter não importa o que eu precisasse fazer.

     Enquanto meus pensamentos tomavam minha mente comecei a caminhar por entre os corredores do castelo sem me dar conta exatamente onde estava indo, eu apenas caminhava sem rumo, talvez eu esperava encontrar um jeito de voltar pra casa... ou talvez aqui fosse mais seguro, de qualquer forma continuei andando até acordar dos meus pensamentos e perceber que estava em um tipo de terraço alto, onde eu tinha vista de uma grande distância. Aquilo realmente me surpreendeu, até onde eu conseguia enxergar havia quilômetros  de areia com algumas pouquíssimas casa pequeninas diante do tamanho daquele castelo, em sua maioria não restava praticamente nada apenas algumas paredes quase irreconhecíveis...

- Um deserto. – falei deixando escapar em surpresa. "Onde estamos, onde estamos, que lugar é esse, como chegamos aqui, o que eu faço agora, preciso proteger eles, preciso impedir que as coisas deem errado de novo, eu...eu..."
   Nessa hora minha cabeça começou a perder o controle, afinal como chegamos nesse lugar, imediatamente todo o meu corpo vibrava por dentro quase como se gritasse PERIGO. O medo percorreu minhas veias como se me congelasse aos poucos por dentro, eu teria que ser extremamente cauteloso pois senti que estávamos prestes  a enfrentar muitos perigos e ninguém viria nos salvar.

     Depois de me recuperar do choque que havia sentido ao olhar aquela paisagem comecei a me mover de volta em direção ao salão onde meus irmãos estavam já descansando, enquanto andava tentando digerir tudo oque estava acontecendo eu tentava bolar algum plano pra entender e descobrir onde nós estávamos e quando ou porque estávamos ali.  Aquele lugar continha muitas portas e salas quase como um labirinto em que eu provavelmente iria explorar mais tarde mas naquele momento eu estava extremamente cansado que mal podia andar, talvez todo aquele estresse tivesse sugado toda nossa energia. Aos poucos cheguei onde eles estavam, dei uma olhada em cada um deles que pareciam já estar em sono profundo e depois fui em direção a uma das paredes onde me desse visão estratégica tanto da porta quanto dos meus irmãos me sentei e encostei na parede, minha ideia era vigiar a noite toda mas em algum momento acabei caindo no sono...

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⏰ Última atualização: Nov 28, 2023 ⏰

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