1982

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- Ei Richard! Quer passar em casa depois da aula? Perguntou Oliver para mim enquanto comemos nossos lanches no intervalo. 

- Cara não sei não, da última vez que eu fui lá sua mãe não estava com uma cara muito boa, parecia que ela estava chateada ou algo do tipo. 

- Fica tranquilo cara, ela só estava chateada com meu pai, como sempre. 

- Eu achei que eu estava incomodando. Digo para Oliver e logo em seguida dando uma mordida no meu lanche, a verdade é que eu não queria ir para a casa dele, sempre que eu estava lá sentia uma sensação estranha, que algo me observava nos cantos escuros, me dava calafrios. 

- Olha a escolha é sua, meu pai me deu um cartucho novinho de Street Figther, queria poder te dar uma surra. Diz ele batendo com os ombros nos meus e dando risada.

- Okay então, vou falar com a mamãe antes de ir para lá. Oliver nunca ganhou de mim no Street Figther, e não seria hoje que ganharia,  apesar da sensação estranha que eu sentia na casa dele, nunca me aconteceu nada e ele tinha um videogame novinho, o meu já era velho e minha mãe estava ocupada demais usando o dinheiro que recebia do trabalho para pagar as contas da casa. 

Depois que o sinal do intervalo tocou o resto do dia passou tão rápido que eu mal pude perceber, a volta para casa  também foi tranquila, Oliver e eu voltamos juntos chutando pedras e conversando sobre nossos personagens preferidos no Street Figther. 

Quando chegamos perto de casa ja era quase por do sol, lá por volta das quatro e meia da tarde. 

- Vai rápido falar com a sua mãe, e eu vou ligando o videogame beleza! Gritou Oliver enquanto corria para dentro de casa. 

Eu apenas assenti com a cabeça e fui correndo para dentro de casa, ao entrar deixei minha mochila velha ao lado do cabideiro de casacos que ficava ao lado da porta. 

- Mamãe! Está em casa? Sem resposta, sai procurando ela pela casa inteira, mas parecia que ela havia ficado presa no trabalho de novo, era de se esperar, minha mãe trabalhava de garçonete em um restaurante pequeno perto de casa e em sextas feiras como estas era normal ficar até um pouco mais tarde antes do toque de recolher, estava acontecendo uma onda de roubos no meu bairro e o prefeito achou de bom tom deixar todos dentro de casa para que assim o ladrão que entrava em casas vazias não conseguisse roubar mais, oque eu achava totalmente sem sentido. 

Então decidi deixar um bilhete em cima da mesa dizendo para a mamãe que estaria na casa do Oliver jogando videogame até ela voltar, e que eu provavelmente comeria um sanduíche que senhorita Martin iria preparar para nós. 

- Acho que está bom. Mal terminei de escrever a carta e sai correndo para a casa de Oliver, atravessei a rua correndo e bati na porta da casa dos Martin. 

- Pode entrar Richard. Disse a senhorita Martin. 

- O Oli está lá em cima! Você avisou a sua mãe que estaria aqui? Me indagou a senhorita Martin enquanto eu adentrava na casa. 

- Deixei um bilhete em cima da mesa da cozinha senhorita Martin. Disse subindo em direção ao quarto de Oliver. 

Subi as escadas e passei por duas portas, uma era a do banheiro e a outra do quarto dos pais de Oliver, essa estava fechada, aparentemente o pai de Oliver estava dormido, ele trabalhava a noite e descansava de dia, deveria ser um trabalho cansativo porque ele dormia durante o dia inteiro e saia do quarto somente a noite durante o toque de recolher. 

- Vem logo! Para de encarar a porta do quarto dos meus pais. 

- Eu não estava encarando. Estava sim. 

Oliver me puxou pelos braços para dentro do quarto dele, o mesmo era todo decorado, cheio de posters de desenhos e bonecos até caros, Oliver era filho único e os pais dele davam tudo que ele queria. 

- Eai cadê o videogame Oliver? Perguntei para ele. 

- Não tem nenhum. 

- Cara como assim? A gente não ia jogar? Olha se não for eu volto para casa porque a mamãe já deve estar voltando e...

-Cala a boca e presta atenção. Disse ele me interrompendo. Olha o que eu  encontrei no porão de casa. 

- Mas o que você tava fazendo no porão da sua casa?  Perguntei a ele. 

- A mamãe me deixou de castigo por ter quebrado um vaso dela, então eu não tinha mais o oque fazer e decidi brincar de explorador e acabei encontrando isso. 

Oliver de repente tira de baixo do seu cobertor o que parecia ser uma mascara, já estava velha e cheia de pó, era um pouco assustadora, não tinha expressão e parecia ser feita de pele, aquilo me dava calafrios. 

- Eai oque achou, maluco isso não é . 

- Cara acho melhor você colocar isso aonde estava, se for do seu pai você sabe que ele vai ficar uma fera com você. 

- Não é do papai, isso tava jogado num quanto lá em cima quase que escondido. 

- Se estava escondido acho que não era para ninguém achar você não acha?

- Claro que não! aliás eu vou usar ela na festa de Halloween da semana que vem, aposto que vai assustar todo mundo. 

-  Cara eu acho uma má ideia. De alguma forma, aquela mascara me deixou com muito medo, parecia que tinha algo nela totalmente mórbido, eu mal conseguia conversar com o Oliver, ela me chamava quase que falava comigo e isso me assustava. 

- Meninos! Gritou a mãe de Oliver para nós. Desçam eu fiz biscoitos, comam e depois voltem a brincar. 

- Ouviu sua mãe cara, vamos comer e vê se você se livra disso. 

- Ela é minha e eu decido o que eu vou fazer com ela. Disse Oliver. 

Logo em seguida nós descemos e comemos, não demorou muito para minha mãe chegar e me levar para casa, naquela noite tive pesadelos horríveis e aquela mascara não saiu da minha cabeça. 


FRAGMENTOS DE UMA PSICOSEOnde histórias criam vida. Descubra agora