Capítulo 1 - Lembranças.

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- Cara você tem que sair mais sabia? Disse Oliver dando tapinhas no meu ombro.

- Não preciso sair de casa tendo meus livros. Respondo a ele apontando para a minha vasta coleção de livros de suspense e psicologia.

- Livros velhos não vão fazer você conseguir uma garota em uma sexta a noite Richard. Conclui ele.

- Mas com toda certeza não vão me fazer ter uma ressaca e amanhecer no dia seguinte com alguém ao meu lado que eu mal conheço.

- Essa é a ideia cabeção, que graça teria se você lembrasse! Diz Oliver abrindo os braços como se oque eu tivesse acabado de dizer era exatamente a parte boa da ideia dele. Sair numa sexta chuvosa para um pub velho e cheio de pessoas que não estão preocupadas com elas mesmas e provavelmente sem expectativas de vida. Às vezes, observo o Oliver e penso em como ainda somos melhores amigos, mesmo depois de tanto tempo.

- As vezes você consegue ser bem irritante. Digo pra ele elevando minha taça de vinho para a boca.

- E mesmo assim você ainda me ama pequeno Richard. Diz ele contradizendo quase que imediatamente.

- Não apostaria muito nisso se fosse você.

Oliver é meu amigo de infância desde que me conheço como pessoa, nos conhecemos ainda crianças quando Oliver se mudou para Shadside com sua família. No começo, não gostava muito dele, o jeito espontâneo dele chamava bastante a atenção. Oliver era o tipico garoto de que toda mãe gostaria de ter como filho, dedicado, atencioso e aparentemente normal, talvez um pouco burro, já que esse foi o principal motivo dele se aproximar de mim naquela época.

Oliver se mudou para a casa em frente à minha em meados dos anos 80, durante as férias de verão. Éramos muito jovens naquela época, ambos com 12 anos. Lembro-me claramente de quando vi um Fusca vermelho carregado de malas estacionado em frente a casa e um garotinho saindo feliz, dançando e cantando com um Walkman na mão.

A mãe de Oliver era uma mulher de aparência Russa, loira, com olhos azuis e pele clara como neve, já seu pai era mais robusto, em minha visão da época ele se parecia com um tanque de guerra, forte, alto, com uma barba no estilo lenhador e cara de quem não estava nem um pouco afim de se mudar para a nova casa. Ali percebi que Oliver claramente era mais parecido com a mãe, loiro com os olhos claros como os da mãe e a pele tão clara como papel, achei estranho no começo, mas lembro-me de minha mãe me dizendo que Oliver tinha uma rara condição que fazia com que ele tivesse o tom de pele tão pálido. Oliver era albino, mas naqueles tempos eu não tinha a menor ideia disso.

Fiquei perdido em pensamentos por alguns segundos até que Oliver me tirou do  transe  com  sua insistência.

- Vai cara, prometo que vai ser legal, e se você não gostar do lugar a gente pode voltar pra cá e ficar lendo esses livros idiotas ou jogando baralho. Diz ele com uma expressão de quem está implorando por uma cerveja, música ruim e um velho amigo para desabafar.

- Primeiro que meus livros não são idiotas, você iria se surpreender se lesse um pouco. Segundo, não quero voltar tarde okay? Respondo levantando minha taça de vinho já vazia na direção dele.

- Ótimo! Você não vai se arrepender meu amigo.

- Ok, vamos  antes que eu mude de ideia.

- Ok, te espero lá fora, lembre-se de tomar seu remédio. Ele disse e saiu correndo da sala em direção à porta.

- Acho que não preciso mais, faz muito tempo que não tenho crises. Mas Oliver está tão entusiasmado com a ideia que mal ouve o que eu digo para ele, aproveitei que ele foi até a saída e resolvi ir ao banheiro de cima, subi as escadas com certa dificuldade, embora tenha apenas 35 anos minha mobilidade está prejudicada devido a um pequeno acidente com um paciente.

Quando chego ao banheiro olho meu reflexo no espelho da pia, me vejo cansado, pequenas marcas e sinais de uma vida dedicada aos estudos e noites sem dormir surgem em meu rosto, meus cabelos escuros e lisos, porém totalmente emaranhados e meus olhos envoltos de olheiras profundas. 

- Você está acabado velho amigo. Diz Oliver aparecendo na porta atrás de mim como uma assombração, como ele fazia isso eu não tinha a mínima ideia, mas ele sabia usar bem essa habilidade, certa vez, no colégio, Oliver levou uma revista pornô que segundo ele era do seu primo que foi visita-lo durante o final de semana , no fim acabamos sendo pegos no pátio da escola dando uma folheada na revista, quem nos pegou foi o sr Levinsk, um zelador  já em sua velhice e cansado quase perto de se aposentar. Por fim o sr Levinsk foi bondoso conosco e nos deixou ir, porém ele tomou a revista de nossas mãos e pegou para ele, ainda acredito que aquele senhor um tanto corcunda e de cabelos grisalhos pegou a revista para ele e não nos dedurou por que estava curioso para ver. 

Mas mesmo assim Oliver estava com muito medo e decidiu voltar a escola depois da aula para recuperar a revista, eu disse para ele que era uma má ideia e que devia deixa-la de lado, ele não me deu ouvidos e respondeu que faria sozinho se eu não o acompanhasse e que me encontraria mais tarde em casa, eu apenas acenei com a cabeça e fui para minha aula de xadrez. 

No mesmo dia mais tarde Oliver apareceu em casa feliz e se gabando de como tinha conseguido recuperar a revista sem ninguém te-lo visto, eu tive que atura-lo pelo resto da tarde. 

- Você poderia ser menos sincero? Digo para ele abaixando na pia para lavar o rosto.

- E perder a piada? Acho que não, vamos logo, não precisa se arrumar tanto, só penteia esse cabelo. Diz ele voltando a descer as escadas. 

- Você está parecendo a minha mãe falando assim Oliver. Respondo a ele. 

Antes de descer dou uns passos até meu quarto, abro a porta e o cheiro de tabaco, erva e uísque invade minhas narinas. A pouca iluminação me faz tropeçar no meu sapato jogado, vou cambaleando pelo ambiente até achar o interruptor, assim que acendo a luz meus olhos contemplam a minha decoração que segundo o Oliver é sem sal. Meu quarto é composto apenas por uma cama com uma escrivaninha e um livro de cabeceira, um guarda roupas velho de madeira escura que combina com todo o resto do ambiente de tons mortos, o carpete é a única parte da mobilia considerada relativamente nova, o resto eu ganhei de herança assim que minha mãe faleceu. 

Dou uma olhada ao redor e decido ir até o guarda-roupas pegar um sobretudo preto que tinha guardado ali, mas não o encontro, então saio dali decidido de que quando voltar vou arrumar aquela bagunça. Apenas calço o velho sapato preto que eu tinha tropeçado e desço as escadas. 

- Está pronta cinderela? 

- Haha engraçadinho, vamos logo.  Saio com Oliver e tranco a porta antes de partimos. 


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NOTA DO AUTOR

Oiiii galera, tudo bem com vocês? To postando aqui o primeiro capitulo desse projeto que eu iniciei, a ideia é ir postando os capitulos aos poucos e vendo oque vocês estão achando, esse começo é bem introdutorio mostrando um pouco do seu relacionamento com seu melhor amigo Oliver, mas calma que com o decorrer do livro, nós vamos nos aprofundar cada vez mais nesses personagens. Cada um tem sua personalidade propria e seus defeitos, estou ansioso para trazer muito mais do nosso querido Richard.

Abraços meus queridos(as) :)

FRAGMENTOS DE UMA PSICOSEOnde histórias criam vida. Descubra agora