Back to the old habits

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Já passava da meia-noite e ela ainda não havia caído no sono, sua mente muito ativa, muito perturbada para que conseguisse se entregar ao descanso do qual tanto necessitava. A sensação de asfixia, de confinamento, apenas aumentava a cada minuto. Era como se as paredes se encolhessem, como se o quarto diminuísse a cada segundo. Ela tinha que esquecer, tinha que limpar a mente das lembranças da tragédia pela qual se sentia responsável.

Nádia.

Até a lembrança do nome de sua pequena "aprendiz", fazia com que Erin quisesse cair em esquecimento. Ela conhecia dor, sabia o que era sofrimento. Ter passado boa parte da sua vida em meio aos diversos e terríveis acontecimentos das ruas e do crime a fez ter experiências tão repulsivas que a maioria das pessoas não conseguiria sequer imaginar. Mas luto? A perda de alguém importante pra ela era algo novo. Principalmente devido ao sentimento de culpa por ter sido incapaz de socorrer sua amiga a tempo, mesmo quando sua profissão lhe oferecia, em teoria, todos os meios para proteger aqueles a sua volta.
Cansada de seus pensamentos obscuros, Erin se levantou da cama e vestiu um vestido curto, provocante, para ir ao mesmo lugar que voltou a frequentar há alguns dias.
O ambiente era baixo, sujo, escuro e perigoso, mas nada disso importava pra ela agora. A bebida e as drogas que a fariam esquecer estavam a apenas um passo e ela não conseguia resistir a esse chamado. Ou apenas não queria.
Indo ao balcão, Erin iniciou o que estava se tornando um ritual:
- Dose tripla de vodca, por favor. - ela disse ao barman.
- Aqui está. - disse ele ao servi-la.
- Você viu Victor por aqui essa noite? - ela perguntou depois de tomar metade do drink num gole.
- Deve estar nos fundos com alguma vadia. - respondeu ele e se afastou para atender outros clientes.
Erin terminou sua bebida e foi procurá-lo. O álcool no seu organismo já estava conseguindo relaxá-la enquanto ela se dirigia ao escritório nos fundos do bar. Ela, então, adentrou sem bater na porta, interrompendo Victor e uma mulher que, provavelmente, estava drogada demais pra perceber o que estava fazendo.
- Mas que caral... - Victor parou no meio da frase ao ver que quem havia entrado era a mulher que vinha se tornando sua cliente regular.
- Ora, ora, você de novo. - ele disse, empurrando a garota de seu colo e se levantando para alcançar os armários atrás dele.
- Precisa de mais Ecstasy ou quer avançar para algo um pouco mais forte? - falou mostrando um pacote de cocaína. Erin sabia que se ela fosse por esse caminho não teria a mínima chance de sua vida voltar aos trilhos, então preferiu continuar usando o que era menos prejudicial.
- Não hoje. - dando de ombros, Victor pegou o dinheiro que ela lhe ofereceu e entregou o comprimido.
Sentindo-se entorpecida e enérgica ao mesmo tempo, Erin se encontrava dançando como se não houvesse amanhã. A cada nova música ela se sentia mais afastada da realidade, até não restar nada além do som e da sensação do seu corpo se movendo no ritmo dançante.
De repente começou a sentir enjoo e correu rumo ao banheiro, tendo tempo apenas de se ajoelhar em frente ao sanitário antes de colocar todo o conteúdo do seu estômago pra fora. Levantando-se ela se dirigiu a pia e se viu no espelho: maquiagem borrada, olhos espantados, olheiras profundas e pele pálida. Num momento de clareza pensou em Voight, em tudo o que ele fez para ajudá-la a sair daquela vida e em como ele ficaria devastado se a visse assim. E Jay? O parceiro, melhor amigo, ex-amante e provável amor da sua vida se quebraria em mil pedaços e se culparia por tudo isso.
Arrependimento começou a preenchê-la, mas o reinício do enjoo a tirou de sua reflexão, exigindo que ela voltasse ao sanitário para vomitar mais uma vez. Sentindo-se doente e tonta, ela lavou a boca e saiu do banheiro, recostando-se na parede ao sentir um suor frio tomar conta de seu corpo.

CONTINUA...

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