Violeta. A cor das íris de Poe é violeta. Um violeta puro, escuro, e que somente ele poderia ter. É difícil explicar a cor.
Para mim, vermelho é apenas vermelho, azul é apenas azul, amarelo é apenas amarelo. Mas não posso dizer que os olhos de Poe são "violetas e apenas violetas". É mais que um roxo qualquer, é diferente de um lilás simples. Violeta.
Quando você entra numa catedral antiga à noite, é esse tipo de violeta. Quando um raio ilumina um corvo em cima de uma lápide, é esse tipo de violeta. Quando uma rosa morre e o sangue dela começa a pingar, é esse tipo de violeta. Quando você abre um livro que Edgar Allan Poe escreveu, é esse tipo de violeta.
De repente, ele é todo violeta: seus olhos, seu sorriso, suas roupas, sua aura, seu coração. Aposto que se ele sangrasse, seria essa a cor. Tudo nele é perfeitamente violeta, do tipo que você saberia distinguir Poe apenas pelo tom. Você não precisa me entender, eu também não me entendo, e sou o melhor detetive do mundo, o mais inteligente de todos.
Quero ver suas íris brilhando, tremendo, porque elas sempre o fazem. É o nervosismo, a ansiedade. Ele odeia seus olhos, assim como odeia tudo em si, mas eu amo cada parte. Principalmente o violeta. Ah... Se ao menos ele não se escondesse tanto... Isso o torna ele mesmo, embora, e eu não verdadeiramente mudaria uma coisa sequer em Poe.
Como agora. Ele está escrevendo um livro. Um livro para mim. E eu nunca quero que isso mude. Nunca quero que ele mude. Sua aparência, seu humor, sua personalidade, seu jeito de agir, sua cor... É que eu descobri amar esse violeta mais que qualquer outra coisa.
Foi difícil. Porque nunca pensei que pudesse amar uma cor, ainda mais uma cor que não fosse uma cor de mulher. Nunca pensei em nada, e eu passei a amar Poe como se fosse destinado a isso, como se precisasse disso, como se— Eu amei Poe de um dia para o outro, pois não é preciso muito para amar seu tom de violeta. O violeta mais inteligente, incrível, perfeito, gentil, cuidadoso, eu já disse perfeito? O violeta mais lindo, porque tudo em Edgar Allan Poe é estupidamente lindo.
O nome é lindo. Edgar. E o sobrenome. Poe. E não esqueça do Allan. Combina tão bem. Mas só combina porque é ele. Se fosse qualquer outra pessoa não seria bom.
Ele é lindo. O estilo de roupa fora de época é tão ele que qualquer outra roupa ficaria errada. Eu penso em o puxar pela gravata todas as vezes porque não sei se ele fica melhor com ou sem tudo aquilo que ele veste no dia a dia. Os dois.
A escrita dele é linda. Eu poderia descobrir o assassino e a trama da história na primeira frase e ainda leria todo o resto. Cada palavra encaixa tão bem, as figuras de linguagem, tudo e tudo. Nem gosto tanto de poemas, mas os dele... Certo que muitos são sobre mulheres, "as mulheres de Poe", mas é lindo, e consigo até deixar passar Leonore ou Annabel Lee.
Diga-me uma só coisa que não seja perfeita nele, eu posso apostar tudo que eu tenho. Ou tudo que ele tem, porque o que eu tenho não é muito. Ninguém vai achar um defeito em Poe, nem agora, nem nunca. Sei disso por ser o mais inteligente.
É mentira se disser que me imaginei numa situação dessas. Isso tudo é romanticamente estúpido demais para mim, só que também é inevitável.
— Ranpo-kun? — ele me chamou. A voz dele é linda. Violeta. — Ranpo-kun?
— Sim, Ed? Estou ouvindo.
Desviei o olhar de seu Guaxinim, também lindo — e fofo — no qual estava fazendo carinho para mirá-lo. Posso ver seus olhos.
— No que está pensando? Você não falou muito, hoje. Algum problema? Precisa de alguma coisa? Eu posso comprar um doce ou... Ranpo-kun?
Talvez eu nem tenha escutado o que ele disse.
— Ah, Ed, não se preocupe — disse entre risadas. — Estava só pensando em algo.
Ele arqueou uma sobrancelha, curioso, mas não ousou perguntar sobre o que pensava, tal qual não tivesse esse direito.
— Eu amo violeta, sabia?
O jeito como sua feição mudou para uma confusa foi engraçado.
— Como as flores? — perguntou. — Você quer um buquê de violetas? Eu posso comprar um buquê de violetas para você.
Não segurei outra risada.
— Sem flores, Ed — respondi indo me sentar com ele do outro lado da mesa. — Não sei cuidar de flores. Mas o problema maior é que elas não têm o tom certo de violeta.
— Qual o tom certo de violeta?
— Seus olhos. Ou você por inteiro. Amo seu violeta.
E amo como suas bochechas ficaram vermelhas. Até a ponta das orelhas, a ponta do nariz. Agora, até o pescoço.
— Você tão fofo, Ed! Seu violeta combina com vermelho, fica lindo!
Poe tomou isso como um motivo para corar ainda mais, escondendo o rosto nas palmas das mãos. Suas páginas que estão sendo escritas encontram-se espalhadas pela mesa e eu consigo ler algumas palavras. Quase posso desvendar o mistério, quase.
— Se... — Poe voltou a falar, a voz abafada pelas palmas ainda cobrindo o rosto. — Se é para combinar... E-Eu acho que... violeta fica mais bonito com verde.
Seus olhos tremiam quando voltou a me encarar, orbes brilhantes com um encanto surreal. Violeta.
Os meus deveriam estar tremendo, também, pelo choque de emoção que fez um arrepio subir pela minha espinha. Verde.
Eu ri, um riso daqueles que só é possível dar quando perto de Poe. Um riso que diz "eu concordo", porque concordava, mesmo. Não gosto do meu verde tanto assim, mas ele deve ser bonito. Tal qual o violeta que ele não gosta e é a coisa mais linda deste mundo. E se para Poe bastar que eu goste do violeta e ele do verde, se bastar que nossas cores combinam entre si, então para mim é o suficiente, também.
— Claro — soltei numa exclamação animada. — Tem razão, Ed.
O sorriso tímido dele foi uma boa resposta.
Nós ficamos alguns segundos imersos nas cores um do outro, amando o que é nosso, amando o que há de mais perfeito. Até o amor de Poe é violeta. O meu deve ser verde, eu acho...
Ele voltou às páginas depois de depositar um leve selar em minha bochecha. Normalmente, eu faria um pouco de drama e agiria como uma criança mimada pedindo a atenção dele ou, ao menos, um beijo decente. Todavia... Ah, todavia essa visão me fez perder qualquer vontade de dizer algo.
A caneta tinteiro deixou um rastro de uma caligrafia sem defeitos, compondo um verso ainda mais mágico.
— Ranpo-kun me inspira.
Foi o que ele sussurrou quando percebeu que o encarava. Mas eu tinha motivos. Era um poema, e eu li apenas uma coisa para me apaixonar pela estrofe inteira. "Edogawa Ranpo". Uma boa hora para contar vitória; quem precisa de Morella ou Berenice?
O título é "Verde". Talvez eu devesse escrever um para ele, também. Chamaria-se "Violeta".
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Violeta - Ranpoe - One-shot
Fanfiction"- Eu amo violeta, sabia?" . . . ~ Fluff; ~ Meio poético (não sei).