O Começo do Fim

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Aconteceu quando ele estava a menos de duas horas do seu castelo. Ele estava puxando seu cavalo negro chamado Ero, e vinha subindo a pé uma estrada baldia, dentro do bosque assombrado (que possuía esse nome por ser um bosque afastado e que as pessoas evitavam). Estava quase saindo do bosque, quando avistou três rapazes. Em sua direção vinha um moleque, franzino, sem blusa e com a calça levemente esfarrapada. Christopher tentou desviar, mas o moleque mudou o rumo e se manteve na sua frente. Quase simultaneamente, percebeu que vinha alguém por trás.

ー Entregue o cavalo!

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ー Entregue o cavalo!

Havia um tom de urgência na voz do rapaz. Christopher hesitou: aos dezessete anos tinha um corpo bem desenvolvido, de quem luta em guerras, embora não tivesse postura e aptidão suficiente para ser um guerreiro. Já o moleque, além de pequeno e fraco, não tinha nenhuma espada visível. Christopher pensou em lhe despistar e fugir com Ero, quando uma voz mais grossa soou em seus ouvidos.

ー Tá surdo, alteza? Entregue o cavalo.

Christopher olhou por sobre o ombro. Um deles era mulato, com os músculos estufando dentro de uma roupagem amarelada; o outro ao seu lado, um branquelo magro, de cabelo escorrido e a cara cheia de espinhas, com a roupa na mesma coloração do seu aliado. Eram portanto, três rapazes, aparentemente ladrõezinhos.
O mulato era bem forte e tinha cara de quem sabia lutar. Além disso, Christopher viu, ou imaginou ter visto, um volume suspeito no cós da calça do maior.

ー Quem são vocês? Eu não vou entregar o meu cavalo. ー Disse Christopher enquanto colocava uma mão no bolso e a outra permanecia segurando firme na corda que prendia Ero. O príncipe percebeu que estava gelado, como se estivesse longe dali, vendo a cena como um espectador. Parecia que os movimentos dele e dos ladrões, rolavam em câmera lenta.

ー Entrega o cavalo ou você morre!

Christopher já não sentia mais seu corpo. Estava completamente paralisado. Ero foi um presente que sua mãe havia lhe dado quando completou 6 anos de idade, jamais poderiam separá-los. Christopher se manteve como uma estátua, quando um dos garotos o empurrou e subiu em seu cavalo, saindo dali rapidamente. Quando Christopher se levantou e voltou-se a sua postura normal com a cabeça ereta, o rapaz que roubou seu cavalo já estava longe, e os outros dois haviam desaparecido entre as árvores do bosque.
Christopher terminava sozinho a trajetória rumo ao seu castelo, olhando algumas vezes para as suas mãos que além de sujas, estavam raladas devido à queda.
No decorrer da longa caminhada, era como se subisse uma onda de calor, de raiva e de vergonha, pelo peito, pelo pescoço, tomando o resto. O seu coração, agora que tudo tinha passado, disparou. Olhou em torno, e avistou alguns camponeses fazendo suas atividades diárias, como se nada tivesse acontecido. Ninguém tinha visto nada. "Vai ver não aconteceu nada mesmo", pensou Christopher. "Quem sabe eu já saí de casa sozinho e com as mãos raladas." Ficou por um momento de olhos fechados, para que a respiração voltasse ao normal. Começou a caminhar novamente, agora com um certo cuidado, pois não queria cair em outra emboscada. Passava agora pelo Campo, com o rosto fechado, fazendo algum esforço para não chorar.
Fragmentos de imagens, ideias pouco articuladas. Pensava que podia ter enfrentado os ladrões e fugido.
Vai ver eles nem possuíam armas.
Pensava que o cavalo era um presente de sua mãe e que vocês haviam crescido juntos. Pensava, sem formular isso claramente, que tinha se comportado como um covarde.

Levantou sua cabeça e viu o castelo onde morava. Um castelo preto com uma fachada que talvez um dia tivesse sido preta, hoje suja e encardida. Sacadas de linhas arredondadas e descascadas, inúmeras janelas grandes e vidraças escuras.
Apressou seus passos e logo foi abordado por um Guarda-real na entrada do castelo.

ー Seja bem vindo de volta, alteza! Onde o Sr. deixou o seu cavalo?

Christopher num silêncio absoluto, passou pelo Guarda-real e empurrou o gigante portão de madeira robusta, entrando no castelo. O ambiente ali era mais frio que a rua, úmido e com um leve cheiro de mofo. O castelo deveria ter sido elegante um dia, mas esse dia fora há muito tempo. Hoje, ele era apenas uma sequência de manchas de umidade, teias e sangue. Christopher não olhou para os lados. Com a visão fixada em sua frente, ele caminhou em passos lentos pelo pátio do interior do castelo, passou pelo segundo grande portão, dessa vez de grades e por fim, o último portão que daria acesso ao interior do castelo. Subiu a pequena escada de sete degraus, abriu a porta, e finalmente entrou em sua casa.

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