CAPÍTULO 1

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Três anos atrás...

Está escuro, eu não consigo enxergar um palmo à minha frente, mas era possível escutar a música que vinha da varanda de Leia, as risadas e conversas distintas. Era legal sair com os amigos dela, mas hoje parecia que algo não estava encaixando, não conseguia explicar.

Não recusaria o convite, precisava sair e me divertir um pouco. A semana havia sido extremamente estressante, cheia de provas e seminários, e todas às vezes que ia nas festas de Leia era divertido, leve e sem preocupações, mas dessa vez eu deveria ter ficado em casa. Engoli a bebida que estava no meu copo e o líquido desceu queimando minha garganta, não queria ficar me preocupando à toa, estava tudo normal, mas se o meu cérebro não conseguia ativar o modo "foda-se" sozinho eu seria obrigada a beber e facilitar o processo.

Mais um gole "para agilizar o processo", sentei-me no píer um pouco longe da beira e olhei fixamente para a represa. Era tranquilo, eu sozinha, com um copo de uísque, olhando para o nada, até parecia cena de novela ou o cenário perfeito para um assassino em série. Inspiro e suspiro, consigo me sentir mais relaxada, aquele sentimento desconfortável foi embora, a lua estava linda, enorme e brilhante, parecia ter chegado no ápice de beleza.
Graças a ela conseguia enxergar, um pouco mais. Já estava chato ficar observando o breu, queria uma companhia, talvez Dimitri já estivesse na festa.
A pouca luz que lua me oferecia, permitiu que eu percebesse alguém jogando algo na represa, o barulho foi mais alto que o esperado e eu acabei me assustando, não queria ser testemunha de um possível crime e depois a próxima vítima. Tomei a decisão mais prudente, saí correndo sem olhar para trás.
Usar coturno foi a melhor decisão da minha vida, mas estar segurando um copo de vidro com certeza não era o ideal. Corri o máximo que consegui, os meus pulmões não aguentavam mais, precisei parar e respirar. Infelizmente escutei o meu maior medo naquele momento, passos de alguém correndo e ele não estava distante, o desespero tomou conta do meu corpo e eu voltei a correr, a minha garganta estava seca, conseguia sentir o meu coração saindo pela boca, mas não podia parar.

E então senti o impacto do meu corpo indo de encontro com o chão.

Uma coisa havia me derrubado e agora estava em cima de mim, era pesada, sua pele era quente e rígida, mas seus olhos eram aterrorizantes, amarelos como o sol e brilhavam de maneira inumana. Com o baque da queda o copo que estava na minha mão, se estraçalhou, me cortando de diversas formas, conseguia sentir os cortes latejando e o sangue escorrendo entre os meus dedos, mas o horror que aquela criatura me causava fazia qualquer dor ser amenizada.
Tentei me livrar dele, empurrando o seu rosto, mas isso só serviu para a minha mão doer e eu sujar aquela face com sangue. As lágrimas nos meus olhos escorriam sem cessar, esse seria o meu fim? Morta por algum tipo de animal e completamente sozinha? Eu não merecia isso, precisava lutar pela minha vida, gritar, correr ou ferir esse monstro e sobreviver. Tentei gritar, mas nenhum som era formado por minhas cordas vocais.
A criatura me encarava, não produzia sons e nem se movimentava, ela era enorme e pesada, o meu corpo estava doendo por suportar aquele peso. Ele moveu a sua mão e colocou sob a minha costela, onde a minha pele estava exposta, senti os seus dedos fazendo pressão no meu corpo aquecendo essa área cada vez mais, comecei a sentir uma dor insuportável como se a minha pele estivesse em contato com brasas.
A dor era inebriante, não conseguia reagir, então entreguei-me e apaguei.

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