CAPÍTULO 2

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Dias atuais.

O despertador tocou às 05:30, mas eu não precisei dele mais uma noite sem conseguir dormir, os pesadelos me consumiam durante a noite e eu não tinha escapatória, tentei levantar da cama, mas uma bola de pelo chamado Brownie, não estava muito a fim de levantar. Acariciei seu pelo macio e levantei-me, fui até o banheiro e me olhei no espelho, eu estava horrível, as olheiras estavam profundas, era visível o cansaço que eu vivia, por um instante, me lembrei da época do colégio, principalmente semana de provas e em como eu ficava completamente exausta. Um banho gelado iria me ajudar e algumas camadas de maquiagem, principalmente corretivo.

Após me arrumar, pego o meu celular e vejo algumas mensagens de Dimitri, me chamando para ir a um barzinho com ele às 03:30 da manhã, nunca entendi como alguém poderia ter tanta bateria social e disposição para sair da sua casa. Eu não sou antissocial, na realidade sou bastante comunicativa e extrovertida, mas, além disso, sou uma pessoa cansada por culpa dos pesadelos, do trabalho, minha família, às vezes eu gostaria de largar tudo e viver reclusa no meio do mato, sou obrigada a sair dos meus desvaneios por causa do Brownie que havia acabado de derrubar meu frasco de perfume no chão.

— Era realmente necessário isso? Você me odeia? É só falar, aí eu te abandono lá na rua que eu te encontrei, mimado.

Ele me olha com desprezo e sai andando, aparentemente meu gato não gosta de acordar cedo. Vou até a cozinha e preencho a vasilha de Brownie com ração, depois preparo um misto quente e faço um café para mim.

Enquanto eu me alimento, o felino felpudo fica roçando em minhas pernas pedindo por atenção, nem parece que 5 minutos antes ele tinha intenções homicidas e eu seria a vítima. Meu celular notifica que hoje tenho uma reunião, na verdade, meu pai tinha uma reunião e eu ficaria sentada observando. Tinha suas vantagens trabalhar com os meus pais, eles não são rígidos comigo porque eles nem queriam que eu trabalhasse, se dependesse deles eu viveria a vida sem me preocupar com nada, só aproveitando como uma burguesa despreocupada, mas eu não sentia que isso é justo. Preciso ter o mínimo de autonomia e responsabilidade, para ser um ser humano digno, eu vi o quanto eles lutaram para conquistar, então não poderia virar as costas e não demonstrar gratidão.

Estou a caminho do elevador, quando de relance vejo algumas caixas em frente a um apartamento, aparentemente o novo morador é a favor do minimalismo, aquelas quantidades de caixas não caberiam nem metade dos meus livros. Chamo o elevador e vou até a garagem, entro no carro e antes de iniciar minha rota conecto uma playlist no rádio, bem melancólica, que incluía nela Lana del Rey, Adele e Sam Smith, eu iria me afogar em lágrimas. O percurso foi tranquilo, exceto meus surtos enquanto cantava e interpretava as músicas, era divertido fazer isso, conseguia me sentir renovada, mas quando coloquei meus pés no Copa toda energia positiva que lutei para conquistar foi embora, os chefs discutindo, garçons correndo e os telefones tocando, hoje não seria um dia fácil.

— Ainda bem que você chegou, isso aqui está um caos. Hoje à noite, será uma noite luxuosa, a família Vassiliev realizará uma comemoração aqui. Minha filha, se isso for um sonho, por favor não me acorde.

Minha mãe estava tão animada que seu sorriso iluminava todo o local, ela tinha aquele olhar esperançoso e era possível ver o quanto ela estava empenhada para essa noite ser perfeita.

— Nem sabia que aquela família ainda existia, ninguém fala sobre eles. Enfim, o que eles vão comemorar? — tento parecer o mais interessada possível.

— Larga mão de ser carrancuda Hadria, nós fomos convidados também e se eu não me engano essa festa é por causa do menino que foi fazer intercambio, você lembra disso? Ele retornou à cidade hoje.

— Tenho uma vaga lembrança sobre isso, mas nem faço ideia de qual seja o nome dele. E eu não garanto minha presença hoje, eu nem conheço essas pessoas.

— Você não tem escolha, sou sua mãe e estou te pedindo para vir. E fim de conversa, se você não aparecer por livre e espontânea vontade, eu vou na sua casa te buscar — disse minha mãe, saindo impaciente para resolver algum problema sobre a decoração.

Como eu havia dito um pouco mais cedo, o dia será longo e a noite também.

SONHO SOMBRIOOnde histórias criam vida. Descubra agora