Hyunjin sempre foi uma pessoa solitária. Desde a adolescência, enfrentou a solidão após perder os pais precocemente, sendo criado pela tia, que se esforçava para proporcionar uma boa qualidade de vida a ambos.
Na escola, sua experiência não foi diferente. Rotulado como nerd e esquisito, Hyunjin era alvo de zombarias, especialmente devido à ausência dos pais. Essa condição o fazia odiar a sensação de ser deslocado, de ser um estranho. Desprezava a solidão ao fazer trabalhos sozinho, lamentava a falta de companhia nos intervalos e, em geral, repudiava toda a situação.
Com o tempo, Hyunjin se acostumou e aceitou a solidão, tornando-se indiferente a estar sozinho e realizar tarefas sem companhia. Contudo, no seu terceiro ano do ensino médio, a chegada de um aluno extrovertido chamou sua atenção. A rapidez com que o novo aluno fez amigos despertou em Hyunjin um leve sentimento de inveja, mesmo que ele já tivesse se conformado com sua condição solitária.
Aos poucos, Hyunjin percebia sinais de aproximação do aluno novo, coisas como: sentar ao seu lado em sala, pedir algo emprestado e compartilhar momentos no intervalo. No entanto, Hyunjin preferia ignorar, mantendo sua postura de distância para evitar possíveis piadas, como aprendera a fazer com os outros na escola.
Entretanto, um dia, tudo mudou.
Hyunjin estava sob a arquibancada, saboreando seu lanche e mergulhado na leitura de um livro qualquer, quando sentiu alguém se sentar ao seu lado. Sem precisar olhar, já sabia quem era, e de certa forma, já o esperava.
"Cara, tu não vai acreditar no que aconteceu. A Sra. Kim me pediu pra refazer todo o trabalho de física. Segundo ela, estava tudo errado e ainda quer que eu entregue até sexta-feira. Você tem noção que são apenas 2 dias? Para entregar um trabalho com 40 questões? Ela tá maluca. Tudo bem que esse trabalho é pra cobrir minhas notas do último semestre que eu não estava aqui, mas mesmo assim."
O rapaz continuava a falar, e Hyunjin, já estressado, só desejava ficar sozinho. Incapaz de suportar mais, ele fechou o livro com certa força e perguntou: "O que você quer?"
"Como?" O rapaz parou de falar, olhando Hyunjin um pouco assustado.
"O que você quer comigo? Você vem todo dia se sentar comigo, vive tentando puxar assunto, mas eu nunca te dou bola. Então, o que você quer? Tá aqui pra tirar sarro de mim ou tá se aproximando pra eu fazer o seu trabalho? Se for essa última opção, eu faço, mas cobro 70 reais." Pela primeira vez, Hyunjin olhou para o rosto do menino e notou como seus olhos eram gentis, diferentes dos outros daquela escola.
"Não é nada disso, eu só queria me aproximar porque eu queria ser seu amigo," disse o rapaz baixo, olhando para o próprio pé.
"Por que? Você não escuta o que os outros falam? Não sabe da aberração que sou?" Os olhos de Hyunjin se encheram de lágrimas ao dizer isso.
"Eu escuto, e na verdade não acredito em nada do que eles falam. Talvez, você seja a única pessoa que valha a pena manter uma amizade nessa escola." O rapaz soltou uma risada ao dizer aquilo.
Hyunjin não disse nada, apenas encarava o outro rapaz à sua frente.
"Eu posso te ajudar com o trabalho," Hyunjin finalmente falou.
"Sério?" O rapaz abriu um sorriso enorme ao ouvir aquilo. "Mas eu não tenho dinheiro."
"Tudo bem, não precisa. Eu te ajudo mesmo assim. Pode ficar na biblioteca depois da aula?" Hyunjin perguntou, mordendo um pedaço do sanduíche.
"Posso sim, obrigado por me ajudar," disse Jisung, esticando a mão para cumprimentar Hyunjin. "Aliás, me chamo Jisung."
"Hyunjin," apertou a mão do outro e voltou para o seu mundinho da leitura.
Para sorte de Hyunjin, Jisung não disse mais nada. Apenas se deitou e ficou mexendo no celular, criando uma presença reconfortante que quebrava o silêncio de forma serena. O ambiente tranquilo começava a contrastar com a agitação e solidão que Hyunjin costumava experimentar na escola.
Com o passar do tempo, ficaram cada vez mais próximos. Jisung começou a frequentar a casa de Hyunjin, passavam todo o tempo juntos na escola, e pela primeira vez, Hyunjin não se sentia um estranho.
Entretanto, as coisas em sua casa começaram a ficar complicadas. As contas se acumularam, levando Hyunjin a procurar um emprego. Ele encontrou uma oportunidade como garçom em um restaurante da cidade, um primeiro emprego que pagava razoavelmente bem.
Hyunjin desenvolveu um gosto pela cozinha, passando seu tempo livre observando os cozinheiros trabalhando e sempre ajudando quando podia. Um dia, o chefe, percebendo seu interesse, o convidou para fazer parte da equipe. Começou de baixo, auxiliando os outros, mas Hyunjin adorava aquilo, sentindo como se fosse sua segunda casa.
A escola finalmente havia acabado, e Hyunjin e Jisung se preparavam para festejar não só o fim da escola, mas também o aniversário do mais alto.
"Eu tenho mesmo que ir, Sung?" Hyunjin perguntou com a voz desanimada.
"Claro, a gente precisa comemorar. Finalmente vamos sair daquele lugar, e temos que comemorar os seus 19 anos," falou Jisung, pegando o amigo pela mão e o levantando. "Agora bora, vai se arrumar. Você precisa ficar bonito se quiser beijar alguém."
"E por que eu iria querer isso?" perguntou Hyunjin, revirando os olhos. A perspectiva da comemoração parecia animar Jisung, enquanto Hyunjin demonstrava uma certa resistência às festividades.
"Porque você já tem 19 anos e nunca deu um beijinho," disse Jisung, retirando algumas peças do guarda-roupa de Hyunjin que achou adequadas para a ocasião. "E é bom, Hyun. Tenho certeza que você vai gostar."
"Eu não posso, sei lá, simplesmente beijar você?" perguntou enquanto analisava as roupas jogadas em sua cama.
"O que?!" falou mais alto do que queria. "Você está a fim de mim? Você gosta de mim?" perguntou, os olhos arregalados.
"Não seja idiota, Sung, eu só perguntei isso porque você é meu amigo, e se é só para eu dar meu primeiro beijo, que seja com você então." Pegou algumas peças de roupa e foi para o banheiro se trocar.
"Eu posso te beijar, mas não é a mesma coisa. Você tem que sentir atração pela outra pessoa", disse perto da porta do banheiro enquanto esperava o amigo.
Assim que Hyunjin saiu, se olhou no espelho e gostou do que viu. Estava vestindo uma calça jeans escura e uma regata cropped branca, que mostrava levemente a sua barriga.
"Mas eu não sei nem como fazer, vou acabar passando vergonha", disse, terminando de ajeitar o brinco e anéis.
"Hyun, vira pra mim", Jisung pediu com a voz baixa e calma.
Hyunjin se virou e viu que o amigo estava se aproximando, sentiu as mãos de Jisung em sua bochecha e, quando se deu conta, experimentou os lábios macios nos seus. O beijo foi simples, não passou de um encostar de bocas.
"Só isso? Que sem graça, não quero nunca mais beijar", Hyunjin disse e acabou rindo da cara do amigo.
"Você quer um beijo de verdade?" Viu Hyunjin dizer que sim. "Então, só segue os meus movimentos, tá ok? Ah, pode usar suas mãos, não deixe ela caída."
Hyunjin prestou atenção e, quando viu que Jisung estava se aproximando, sentiu a boca do amigo na sua novamente, só que dessa vez era mais molhada. Sentiu Jisung abrindo a boca e fez o mesmo. Ao sentir a língua do outro pedindo passagem, acabou cedendo. Lembrou-se do conselho sobre as mãos e passou seu braço pela cintura fina, trazendo-o mais para perto.
O beijo continuou, as línguas dançando em harmonia, e se separaram com um selinho e risos de vergonha.
"E então?" perguntou Jisung se olhando no espelho e passando mais gloss.
"Foi bom, mas eu não senti nada", disse Hyunjin, se juntando ao amigo e pegando o gloss.
"Ótimo, sinal que você não sente nada por mim. Vamos?" perguntou Jisung e pouco tempo depois já estavam na boate.
A noite foi tranquila; os amigos beberam, dançaram e se divertiram. Hyunjin finalmente havia beijado na boca direito, dessa vez com alguém que realmente despertasse seu interesse. Jamais diria em voz alta, mas Jisung estava certo; era muito melhor beijar alguém que você tivesse interesse.
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hyunhochan - more than one love (Parte 3)
FanfictionHyunjin sempre foi um rapaz solitário, e ao longo de sua vida, seu único companheiro foi seu melhor amigo. Até que um dia, não precisou lidar mais com esse sentimento.