dezesseis

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PEDRO AUGUSTO, point of viewSão Paulo, Brasil

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PEDRO AUGUSTO, point of view
São Paulo, Brasil

ninguém me repreende quando solto o quadragésimo xingamento durante os trinta minutos de ensaio, provavelmente porque o auditório está vazio

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ninguém me repreende quando solto o quadragésimo xingamento durante os trinta minutos de ensaio, provavelmente porque o auditório está vazio. afinal, são oito da manhã de um sábado.

oliver, meu professor de teatro, conseguiu permitir a escola de me deixar repassar o ensaio para hoje a noite. 

sim, hoje a noite. 

hoje, além de eu me formar, terei de apresentar a peça escolar, onde eu sou o protagonista. nada novo sob o sol pra mim, afinal, ser ator é o sonho da minha vida. e é tão confortável saber que vou ter um quarto da real experiência. claro, não há comparação em uma peça escolar com uma de teatro real, mas bom, é um começo.

contudo, sentir que esse sonho está morrendo com apenas um erro meu me tortura. eu sonho em apresentar peças desde que eu era uma criança! e agora, para uma peça escolar, eu simplesmente travo antes de sequer conseguir dizer a primeira frase

é literalmente a porra da primeira frase.

sei que não devo basear o meu futuro em um surto de existência agora, mas se eu não conseguir me apresentar para alguns pais dos alunos, quem garante para milhares de pessoas de um elenco grandioso? 

endireito a postura

passo a limpo 

falo

minha voz falha

minha dicção trava

eu me irrito

e é esse ciclo vicioso durante uma hora, até eu me sentar no chão e pensar seriamente em pedir para oliver me tirar da peça. 

meus pais sabiam que eu estaria aqui e combinaram de me buscar próximo às 12h, então não foi surpresa alguma quando eu ouvi a porta do auditório sendo aberta, mesmo que seja horas antes do horário combinado. 

não me movi, sequer olhei para a porta. 

— oi, coração. – joão se sentou de frente para mim. 

comentei com joão a dificuldade e stress que isso está me causando desde o inicio, então consequentemente ele tenta, de todas as formas, fazer com que eu me sinta bem nisso. ele consegue, claro. me passa confiança o suficiente para ensaiar na sua frente, me ajuda quando eu erro, e me aplaude no fim de cada ensaio. 

assim como eu faço com suas canções.

— oi... – digo fraco. 

— a tia ana me disse que você viria 'pra cá, e como eu sei o quanto você anda se cobrando com essa peça, eu vim aqui ver se 'tá tudo bem. – quase sorrio, mas olho para as folhas com minhas falas, espalhadas pelo palco, que joguei num momento de raiva, e a vontade some. — o que aconteceu, hum? – ele me pergunta ao notar meu olhar entristecido e a bagunça que fiz. 

— não sei se vou conseguir me apresentar essa noite. 

— como não? você ensaiou literalmente todos os dias até aqui! o que te impede? 

— e se eu travar no meio do palco? e esquecer minhas falas? e ninguém me aplaudir no final? eu sequer consigo falar a primeira frase, joão! 

— e se você parar de pensar tanto em coisas desse tipo e se tocar do quão foda você realmente é? – joão diz. — coração, olha. desde sempre você tem essa insegurança e simplesmente não enxerga o quão talentoso você é! você não vai travar, nem esquecer as falas. todo mundo ali vai aplaudir, inclusive, eu serei a palma mais alta que você vai ouvir. agora – ele junta as folhas, organiza, e me entrega. — se apresenta pra mim?

olho nos seus olhos, estes que brilham e eu me assusto ao notar que isso sempre acontece quando ele olha pra mim. 

e são esses olhos que me passam tanta confiança e aconchego, sempre. 

— tudo bem.

leio minhas falas enquanto joão se senta em um dos primeiro bancos da plateia. respiro fundo, agora vai.


— ... e, por mais que o mundo odeie, ainda sim, é um dos amores mais lindos e puros do mundo! porque, afinal, Deus não fez um amor tão lindo 'pra ser proibido. com isso, nós do terceiro ano agradecemos pela presença de todos aqui, muito obrigado! – finalizo a peça, ouvindo as centenas de pessoas presentes ali aplaudindo-nos de pé. agradecemos e abraçamos uns aos outros. 

procuro no meio da multidão por joão, quem me passou tanta confiança desde sempre. assim que o encontro, desço do palco e corro para si, desesperado por seu abraço. 

— isso foi... – ele diz eufórico, assim que nos afastamos. — foi lindo, coração! meu Deus, você nasceu pra isso! 

sorrio orgulhoso, vendo seus olhos brilhantes.

— obrigado por tanto... – falo e o abraço novamente, depositando toda a gratidão que sinto por tê-lo comigo. 

logo meus pais, os pais de joão, nossos amigos e oliver vem me parabenizar. tínhamos meia hora para nos arrumarmos para a formatura, então decidimos nos apressar. 

segui com meus pais até o carro, afivelei o cinto enquanto meu pai dava a partida no carro.

— pronto, meu filho? – meu pai pergunta.

— 'pra terminar a escola? estou pronto há séculos! 

— 'pra terminar a escola? estou pronto há séculos! 

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O16 | estamos na reta final da fic 🥹🥹

[𝟎𝟏] 𝐂𝐇𝐈𝐋𝐃, au pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora