[𝟎𝟏] 𝐂𝐇𝐈𝐋𝐃, au pejão

cinco

PEDRO AUGUSTO, point of view
São Paulo, Brasil

eu poderia ter acordado como qualquer outro dia normal: com minha mãe me ameaçando de morte, com o sonzinho do despertador queimando meus neurônios ou com o sol torrando minha vista. bem, felizmente — ou infelizmente — não foi com nenhuma dessas opções.

eu literalmente acordei no pulo.

meus pais entraram no meu quarto com um bento cake, cantando calmamente — repito, calmamente — parabéns pra você. 

bato palminhas enquanto vejo minha mãe sorrindo fofo com um bolo pequeno e verde, com sete velinhas finas e brancas, enquanto meu pai segurava uma bandeja de madeira com um café da manhã. ambos pararam em frente da minha cama, balançando o corpo de um lado pro outro, numa dança estranha.

— ... muitas felicidades, muitos anos de vida! – eles terminam em uníssono. eu dou um sorriso, ainda com muito sono. me esforço para guardar cada momentinho. 

— feliz aniversário, meu bebê! – minha mãe diz me abraçando após colocar o bolo em meu criadinho mudo. devolvo o abraço com força. — eu te amo demais, meu filho. – ela diz com uma voz meio melancólica e sei que ela quer chorar. 

ser filho único exige muito de si, é um peso enorme e cem por cento o contrário do que todos acham. ok, não vou ser hipócrita e dizer que meus pais não fazem de tudo — literalmente de tudo — por mim, porque sim, eles fazem. mas também tem aquela cobrança de tipo "eu sou o único aqui, tenho que agradá-los acima de tudo".

agora foi a vez do meu pai. ele coloca a bandeja na outra ponta da minha cama, me abraça forte e diz coisas lindas 'pra mim bem baixinho, provavelmente por vergonha de dizer em voz alta. ele me solta após alguns segundos e deixa um beijo no topo da minha cabeça. sorrio largo para os dois.

minha manhã com dezessete anos foi bem tranquila. pedi para meus pais ficarem comigo ali mesmo no meu quarto para comermos aquele "banquete" juntos, já que eu mal como de manhã. conversamos muito e tivemos um momento em família depois de semanas, foi tão confortável.