Quarenta e quatro

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Jotaro

Quando acordei, antes do sol raiar, a primeira coisa que lembrei é que não estava sozinho na cama. Pisquei, a visão embaçada pelo sono enquanto tateava em busca da divisória de cobertores. Minha mão ficou estática quando mal estiquei o braço e encostei numa pele quente, perigosamente perto de mim.

Percebi o peso em minhas pernas, e virei a cabeça lentamente como que para evitar acordar quem estava ao meu lado. Minha visão se acostumou com a escuridão, e pude ver o contorno de Louise deitada por cima da barreira, uma de suas pernas esticadas sobre mim. A surpresa deu lugar a um sentimento peculiar, e senti vontade de rir. A situação era tão inusitada que, por um momento, esqueci as formalidades e o desconforto que nos cercavam.

A única coisa que eu conseguia ouvir era a respiração profunda de Louise, e foi ao som dela que cochilei novamente.

Acordei com o céu clareando, meu corpo travado por não ter me mexido durante a noite. A perna de Louise ainda estava em cima de mim e eu parecia ter sido empurrado ainda mais para o canto da cama. Ela, no entanto, estava abraçada na pilha de cobertores e parecia estar dormindo um sono tão gostoso que eu quase senti pena de acordá-la.

Mas nós tínhamos de sair, e não havia maneira discreta de descer da cama quando a perna dela estava em cima de mim.

- Louise - chamei, enquanto encostava levemente em sua perna. Não sei como não havia sonhado com aquela maldita camisola.

Louise mexeu-se levemente, mas não acordou de imediato. Sua expressão estava tranquila, e me senti quase como se estivesse presenciando algo íntimo. Aquela cena revelava uma vulnerabilidade, uma calma que eu não costumava associar a ela. Também não era a expressão que eu imaginava que ela teria ao dormir do meu lado.

- Louise - chamei novamente, desta vez dando um toque mais insistente em sua perna.

Ela resmungou levemente antes de abrir os olhos, piscando contra a claridade que começava a invadir o quarto.

- O que foi? - perguntou, ainda sonolenta.

- Preciso me levantar - expliquei, cutucando sua perna.

Louise pareceu processar a informação por um momento antes de finalmente perceber onde sua coxa estava. Se levantou de supetão como se tivesse tomado um choque e tirou a perna de cima de mim. O constrangimento pairou no ar por um instante, e eu pude perceber seu rosto adquirir um adorável tom de vermelho. Levantei uma sobrancelha, tentando parecer mais indiferente do que estava.

- Desculpe, não percebi que... - começou ela, visivelmente desconcertada.

- Acho que a sua divisória não funcionou tão bem quanto você planejava - provoquei, ainda a encarando. Ela esfregou os olhos, e tive o leve sentimento de que foi para esconder seu rosto.

Ela esboçou um sorriso envergonhado, ainda tentando lidar com a situação inusitada. Eu me movi para sair da cama, dando a ela um momento para se reorganizar.

- Da próxima vez vou colocar a porta do seu guarda-roupa entre nós - retrucou.

- Bom saber que terá próxima vez - provoquei, rindo quando senti o travesseiro que ela arremessou contra mim.



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Me livrar dos religiosos entregando o lençol ensanguentado havia sido um peso tirado de minhas costas, mas ainda estava irritado por ter de fazer sala para tanta gente estranha. Louise deveria se sentir tão mal quanto eu, por isso não apareceu para tomar café.

Corrompa-me { Jotaro Kujo AU }Onde histórias criam vida. Descubra agora