Vinte e um

99 17 1
                                    


Jotaro

- Louise fugiu de casa.

Me engasguei com meu café, fitando o homem pálido à minha frente. Kakyoin estava com os cabelos bagunçados, os olhos arregalados.

- Como assim "fugiu de casa"? - questionei, apoiando minha xícara na bancada. Meu coração falhou um pouco, preocupado com a possibilidade de que ela realmente tivesse fugido. Minha aparição na última noite havia sido tão chocante assim?

- Eu já a procurei em todo canto - explicou. - Fui levar café da manhã e o quarto estava vazio.

Apertei os dedos com nervosismo, saindo da cozinha. Poderia ela...?

Para a surpresa de Kakyoin, fui até a ala oeste. O ruivo me seguiu até a entrada da biblioteca, observando enquanto eu lentamente abria a porta.

No sofá principal, encolhida como uma criança, estava Louise. A mesa de centro estava repleta de livros, e me pergunto se ela adormeceu enquanto escolhia algo para ler. Reprimi a risada.

Kakyoin parecia confuso.

- E ela pode entrar na ala oeste? - perguntou, me encarando enquanto eu tirava meu casaco.

- Só na biblioteca - expliquei. Cobri Louise com a peça de roupa, a diferença de tamanho fazendo com que meu casaco parecesse um cobertor.

Louise se mexeu um pouco e eu congelei no lugar, temendo que a tivesse acordado. No entanto, ela voltou a ficar quieta.

Kakyoin me olhava como se nunca tivesse me visto.

- O que foi isso? - perguntou, gesticulando para Louise.

Confuso, cerrei as sobrancelhas. O que ele queria dizer?

- O quê? - retruquei.

O ruivo apontou para o meu casaco, e eu logo entendi a provocação. Revirei os olhos, me apressando para deixar a sala. Percebi que minhas bochechas ardiam.

- Cale a boca - respondi, e a risada que Kakyoin deu ecoou nos meus ouvidos pelo resto do dia.

-

Louise

Demorei um tempo para perceber onde estava.

Ergui meu tronco, surpresa quando um tecido escuro deslizou até meu colo. Apanhei, reconhecendo um casaco - o cheiro era familiar o suficiente para me deixar alerta.

Será que Kakyoin havia me coberto com um casaco de Jotaro?

Observei a bagunça à minha frente. Havia passado a madrugada inteira lendo sinopses de livros, me decidindo sobre qual pegaria. Acho que acabei dormindo, afinal.

Havia sido o sono mais tranquilo que havia tido em dias.

Meus pés cambalearam até a saída, percebendo que estava sendo banhada pela luz do sol. Deuses, eu estava pálida. Tentaria ir lá fora depois.

A casa estava silenciosa, nenhum sinal de Kakyoin ou Jotaro. Meu estômago roncava, então fui rumo à cozinha. Quando havia sido a última vez que havia pisado aqui?

Mordisquei um pedaço de pão, olhando pela janela. A neve já começava a derreter, a marca de janeiro indo embora. O sol preguiçosamente iluminava o quintal, e quase pude sentir sua quentura em minha pele.

Ainda de pijama, segui para fora, me sentando no banquinho da varanda. Pela primeira vez em dias eu sentia que era uma pessoa de verdade, o aperto em meu peito dando uma trégua.

Toquei o colar em meu pescoço, aquele que Dio havia me dado. Circulei o pingente com o dedo, pensativa. Como um dia eu havia me apaixonado por aquele homem? Em minha mente agora era mais claro como o dia o quão mal ele me tratava.

Num puxão, rompi a corrente.

- Desgraçado - grunhi.

Atirei a joia no horizonte, mal vendo o colar se perder dentre as árvores.

Corrompa-me { Jotaro Kujo AU }Onde histórias criam vida. Descubra agora